Negociação privada

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O rapaz era mais do mesmo, sorria com uma moça no colo e uma taça na mão. Seu sorriso vinha fácil como as borbulhas do champanhe e os olhos brilhavam muito mais do que os rótulos dourados das garrafas abertas. Ele conseguiria ficar com todas as mulheres ali sem pagar nada.

— Eu nunca vi você por aqui. — a moça no seu colo falou com um sorriso no rosto.

— É novo? — Outra em um vestido lilás se aproximou do rapaz. Todas elas eram somente sorrisos absorvidas pela sua aura, mas não tanto pois Fujiwara continuava sendo o cliente mais importante ali.

— Tratem-no bem, meninas. — Fujiwara falou tomando um gole do uísque enquanto tinha uma mulher em cada braço. — Acho que ele é virgem.

Todos na sala privada do clube riram. Inclusive Kei. Ao contrário dos outros que ririam da piada apenas por ele ser o chefe, Kei pareceu achar graça de verdade. Outra coisa que havia percebido: estavam há quase duas horas lá e Kei ainda estava com a segunda taça intacta na mão. A Comissão realmente era profissional.

A mulher no colo de Kei descansou a mão sobre o peito dele e sussurrou algo ao seu ouvido que o fez sorrir ainda mais.

A mulher envolta no seu braço direito perguntou:

— O senhor quer mais uísque?

— Quero sim, belezinha. — Fujiwara deu um sorriso para ela. Era uma beldade de cabelos escuros. — Vá pegar a garrafa para a gente.

Ela deu um risinho lisonjeada, levantou do seu lado e deixou a sala privada.

Kei segurou com delicadeza o queixo da mulher loira em seu colo e disse algo bem baixinho. Ela sorriu feliz, se levantou e pegou a amiga pelo braço — a do vestido lilás que estava se aproximando de Kei poucos minutos antes — e também partiram para outro lugar.

— Decidiu se livrar da carteirinha de virgem e com duas de uma vez logo? — O empresário brincou ou não.

— Acho que não. — Kei bebeu da taça pela primeira vez. — A noite já está acabando.

Fujiwara riu.

— Vocês da Comissão são realmente o que todos dizem.

— Então são só elogios. — Kei deixou a taça pela metade sobre a mesa.

O garoto não saía mesmo do papel. Fujiwara alisou o ombro da mulher envolta no seu braço esquerdo:

— Por que não bebe mais? Não está se divertindo?

Kei se espreguiçou esticando bem os braços deixando-se recostar no banco confortável. Os braços apoiados no encosto:

— Não tanto quanto eles. — Apontou com o queixo para os funcionários de alto calão semiconscientes com gravatas frouxas ao redor da mesa cercados de outras mulheres incrivelmente bonitas e persuasivas. Todos esses homens tinham cartões de crédito afiados.

— Ah. — Fujiwara olhou para seus homens. Fracos para bebida. — Preocupado com a conta? A Comissão não te paga o suficiente?

Kei permanecia com a cara de paisagem inamovível para alguém que era só sorrisos há alguns minutos.

— Eu estou bem com o meu salário. — Kei tirou um cartão de dentro do bolso. Corporativo. Entre o indicador e o médio. — A Comissão tem suas vantagens.

Fujiwara cruzou as pernas esticadas sobre a mesa.

— Esses joguinhos de vocês são batidos. Vão pagar minha conta nesse clube como se eu não tivesse dinheiro para isso?

— Bom — Kei guardou o cartão dando de ombros —, eu não vejo nenhum problema no senhor pagar a conta toda, mas esse seria apenas um gesto gentil da Comissão.

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora