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Um mês que não tinha nenhuma notícia de Kei. Não sabia nada e todos os comentários sobre o acidente do incêndio rondavam por uma pane técnica nesse prédio que a Comissão estava prestes a vender.

Boa parte da estrutura do prédio não foi afetada, apesar dos estragos e a Comissão anunciou que arcaria com todas as despesas assim como a polícia e o corpo de bombeiros confirmaram para a impressa que foi uma pane e não houve vítimas por se tratar de um prédio vazio. Mas Enji viu Kei sair carregado do prédio, várias pessoas viram, a própria imprensa viu e filmou, no entanto, nada, absolutamente nada foi ao ar. A Comissão era grande demais, poderosa demais, algo que parecia impossível Enji alcançar não importa quanto poder e dinheiro ele tivesse. Mera continuava a lhe negar toda e qualquer informação sobre Kei ou o assunto.

Enji deixou o trabalho, mas Kei não deixou sua mente. Respirou fundo e tomou sua decisão, pegou um táxi nos fundos do prédio.

O corredor do apartamento de Kei não havia mudado nada desde que descobriu o que ele fez, sentia raiva, mas a preocupação a sobrepujava. Parou em frente a porta que cruzou durante tantos dias, ela parecia estranha e familiar ao mesmo tempo, igual a rever alguém que não se teve contato durante muitos anos. Mas não se passaram anos, apenas dois meses.

Olhou para a tranca digital, Kei nunca lhe deu a senha, apenas a chave.

“Para você entrar o quando quiser, meu rei. É só usar.”

Enji vasculhou na carteira e a chave do apartamento ainda estava lá atrás do cartão de crédito que nunca usava. Quase imperceptível. Se na época tivesse a visto, teria a jogado fora.

Passou a chave no leitor e a porta abriu. Enji sentiu certo alívio, por Kei não ter mudado a chave, talvez ele até estivesse bem… o apartamento era a definição de caos.

Os sapatos de Enji pisaram sobre cacos de vidro espalhados no chão e o quarto fedia a álcool. O vidro que tinha esmagado eram de garrafas de bebidas que jogaram contra a porta, o álcool havia secado, mas o cheiro permaneceu.

A mesinha do corredor em que o cinzeiro ficava junto com a chave estava jogada de lado sem uma das pernas, Enji continuou caminhando com cuidado, mas seus sapatos faziam barulho ao esmagarem o vidro. Parecia uma zona de guerra.

Logo encontrou o pé perdido da mesa enfiado na tela da televisão atravessando-a e a televisão deve ter sido arremessada contra uma das paredes pelos arranhões na tinta. Todo o estofado do sofá saía por buracos abertos como bocas vomitando, a poltrona destruída em um canto da sala e o videogame que Kei gostava tanto pisoteado e com as peças espalhadas sobre o tapete revirado.

Todas as portas dos armários da cozinha escancaradas, as gavetas lançadas contra as paredes tinham os talheres jogados pelo chão ao lado do que sobrou dos pratos. A porta da geladeira pendia aberta e toda ela com as prateleiras de vidro quebradas, o microondas parou dentro do forno como se alguém tivesse tentado jogar basquete com ele servido de bola e o fogão de cesta. Até um pedaço do mármore da bancada foi quebrado. O vidro da sacada estilhaçado. Kei não tinha feito isso, ele não era do tipo de pessoa que descontrolada destruía tudo ao redor. E mesmo que fosse, não conseguiria causar tanto estrago sozinho.

Enji foi para a área de serviço que não estava destruída pois não havia nada lá.

Seus sapatos cantavam o som do estrago ao caminhar para o quarto sobre os cacos do que sobrou do apartamento. Mas a música parou assim quando entrou, o interlúdio da canção estava escrito na parede em kanjis garrafais.

DEMOROU PARA PEGARMOS SEU MENINO QUE É RÁPIDO DEMAIS PARA O PRÓPRIO BEM

Era assim que falavam de Kei nós negócios, alguém rápido demais para o seu próprio bem. Sem dúvidas não foi ele que fez isso. Os caracteres foram escritos com spray preto e a lata de tinta ainda estava lá caída.

Todas as roupas de Kei espalhadas e rasgadas pelo cômodo, as gavetas das cômodas lançadas por aí, a cama destruída e o colchão aberto como um cadáver apoiado na cama. Levaram os sapatos caros de Kei e a caixa de jóias em que ele colocava as pulseiras, anéis e brincos também sumiu. O banheiro estava um completo desastre, o box estilhaçado, a pia quebrada e o vaso sanitário partido em grandes cacos afiados.

Enji revirou os destroços do quarto de Kei, não encontrou nada além de roupas rasgadas, espuma de colchão e penas de travesseiros. Nenhum traço real de Kei.

É claro que quem fez isso queria claramente atingir a Comissão, mas por quê? O incêndio não foi um acidente, parecia o ato final de um sequestro sem recompensa. Sequestraram Kei, mas por quê? O que ele sabia? Enji olhou para a pichação, seus olhos não desgrudavam de lá, era um aviso enorme de que não pegaram Kei por informações e sim por vingança. O que Kei fez? O que esses caras fizeram com ele? O que a Comissão fazia com ele?

O calor dos incêndios lambia seu rosto e os fatos se repetiam. Gente queimando pessoas vivas por vingança. Enji levou as mãos à cabeça.Será que Kei sequer estava vivo?

Enji respirou fundo tentando se controlar, saiu do quarto com o coração a mil, foi ali que pegaram Kei? Podia ver essas pessoas sem rosto o acordando e tirando-o da cama rastando-o para fora ou Kei sentado na sala e eles chegando para puxá-lo por trás ou Kei bebendo na cozinha e eles assustando-o no meio da noite. Porém, todos acabavam da mesma forma: Kei trancado em um prédio em chamas.

Sua respiração pesava como achava que a de Kei pesou, ele não estava acordado quando o tiraram de lá e o levaram para a ambulância. Kei não estava acordado. Kei não estava acordado. Kei não estava acordado. Kei não estava acordado. Kei não estava acordado…

Enji sentou no sofá rasgado, respirou lentamente, se olhasse para o lado achava que veria seu passarinho com aquele olhar boêmio sobre si, mas seu lado estava vazio e tudo o que restava era um buraco no sofá.

Demorou para se acalmar, tirou o celular do bolso, encontrou o número de Kei e ligou, mas não chamou. Quase soltou o celular, mas lembrou que havia bloqueado o número. Desbloqueou e mais de mil mensagens chegaram no seu celular. Todas de Kei.

O que acharam do capítulo? Deixem suas críticas, comentários, teorias e elogios.
Até amanhã!
Bjinhus!

O Rei E O PassarinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora