Capítulo 54

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Anahi Portilla

— Ei, como está se sentindo? - Ana endireitou a coluna e sorriu amplamente assim que me viu abrir os olhos.

  Péssima!

— Melhor - respondi sem vontade. Reparei suas roupas - Você não foi para casa?

— Queria garantir que você vai ficar bem. Vou te levar de volta para o hotel.

— Não quero voltar para lá - a esposa de Alfonso provavelmente estava lá e eu não precisava ver o casal feliz se esfregando na minha cara, enquanto eu lambia minhas feridas. Não mesmo. E eu definitivamente não conseguiria olhar para a musa da beleza sendo que estava carregando um filho do marido dela.

  Estava. Passado.

  Esse pensamento me levou às lágrimas. Eu estava sendo completamente patética. Só chorava. Por que ele tinha feito isso? O que ele ia ganhar com a secretária iludida?

— Anahi... - o olhar de Ana suavizou quando viu que comecei a me debulhar em lágrimas de novo.

— Eu sou muito idiota, Ana. Ele me enganou o tempo inteiro e eu acreditei - cobri o rosto com uma mão, envergonhada - Eu devia ter percebido que ele era casado. - cada palavra era quebrada com um soluço.

— A culpa não é sua, Any. Alfonso te enganou, você não pode se culpar por ter se apaixonado.

  Eu podia sim.

— Quero ir para casa. Vou voltar para o México.

  Ana endireitou a coluna e me olhou chocada.

— Certo, por que não voltamos à New York e lá você decide o que vai fazer? Não pode abandonar tudo assim, querida.

  Eu ia dizer que podia, mas lembrei que Angelique estava morando comigo. Ela tinha acabado de completar dezoito anos, ainda estava desempregada e sem planos de faculdade. Por que o destino estava contra mim desse jeito?

— Você sabe se meu celular está aqui? - perguntei. Ana balançou a cabeça. Claro. Eu caí em cima dela no dia anterior, a última coisa que ela ficaria preocupada era com o celular - Pode me emprestar o seu? Vou mandar uma mensagem para não precisar fazer uma ligação interurbana.

— Não se incomode com isso - Ana me entregou o celular - Pode ligar, acho até melhor do que mensagens. Mais prático... Mas por favor, não vá embora, Anahi. Você tem um futuro na Herrera.

  Não respondi, só mantive o olhar fixo no celular, tentando engolir o choro. Ana Brenda saiu para me dar privacidade. Liguei para a única pessoa que me entenderia.

Ei, garota, você está bêbada ou algo assim? Espero que esteja transando muito por aí. - Christian estava demasiadamente empolgado.

  Respirei fundo para conter as lágrimas. Eu só viveria para chorar? Era ridículo. Eu estava começando a odiar toda essa fragilidade.

Christian, Angel está com você? - minha voz saiu embargada e me chutei internamente por isso. Ele iria perceber que algo estava errado.

O que está havendo? - a animação em sua voz evaporou num segundo - Pelo amor de Deus, o que está acontecendo, Anahi?

  Fui a amante, a traída e perdi um filho.

  Eu nem sabia qual das opções me deixava mais deprimida.

Anahi? - sua voz tornou-se mais desesperada.

Você está com a Angel?

Estou sim, garota. Ela está tomando banho. Vamos para o bar.

  Ah, é. O fuso horário.

Christian, você acha que pode arrumar um trabalho para ela hoje? Nem que seja na droga desse bar em que vocês vão.

O que Alfonso fez?

  Lágrimas deslizaram pelas minhas têmporas de novo. Eu me sentia cansada, humilhada, traída, suja e mãe. Por mais que tivesse perdido essa criança, eu era mãe. Ai, meu Deus. Eu iria ser mãe solteira aos vinte e quatro anos.

Christian... - solucei, cansada de conter as lágrimas, então simplesmente as deixei rolar - Por favor, Angelique precisa arrumar um trabalho hoje. No máximo amanhã de manhã. Ela não tem muita experiência, mas é esforçada. Por favor, faça isso por mim. - eu mal tinha forças para continuar falando.

Tudo bem, tudo bem, tudo bem! Eu vou falar hoje com o dono do bar. Mais alguma coisa?

Quero uma passagem para Utah.

Eu tenho uma casa lá. Você fica lá. Sem discussões.

  Eu nem tinha forças para discutir. Nem se Alfonso aparecesse aqui.

Obrigada. Quero sair em dois dias.

Imagino que você queira voltar para casa antes, certo? Falar com Angel? - não respondi, e ele já soube a resposta - Acabei de comprar a sua passagem. Sorte sua, garota, estava vendo minhas passagens para viajar nessas férias. Você sai daí às três horas, hoje. Vou estar te esperando no aeroporto.

Obrigada. - solucei.

Ei, loira. Te amo independente do que esteja acontecendo entre você e o Sr. Herrera. Você vai sair dessa. Lembre da mulher forte que você é.

  Desliguei a ligação, grata por ter Christian comigo.

  Era tempo de mudanças. Talvez uma definitiva.

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