Capítulo 70

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Alfonso Herrera

  Eu era um Herrera, e eu sempre disse aos meus filhos que os Herrera não desistem facilmente. Bem, nem mesmo quando você se declara para a mulher que você ama e pede perdão e ela sai correndo do lugar como se estivesse pegando fogo.

  Isso não significava que eu iria desistir. Eu não sabia como, mas eu precisava fazer a Anahi pelo menos me escutar.

  Por isso mesmo, depois de uma semana e meia da fatídica declaração no restaurante, eu decidi tentar mais uma vez. Na empresa. Eu não sabia onde estava com a cabeça, mas eu precisava de algum tipo de reação da Anahi. Qualquer coisa. Eu me contentaria se ela me batesse, xingasse, gritasse e depois falasse comigo. Ou não, só mostrasse se importar.

  Mas ela estava diferente. Parecia que estava no automático, não reagia mais a nada. Quando me via, simplesmente saía do local. Até do elevador, como já havia acontecido. Continuei mandando e-mails para ela simplesmente porque não conseguia parar.

— Alfonso... - Maite balançou as mãos na frente do meu rosto. Parei de encarar o vazio para encará-la - Você rejeitou o divórcio dos Paleta? - jogou uma pasta na minha mesa.

— Não tenho condições de lidar com aquela mulher. Não agora... - esfreguei a têmpora.

— Como assim, Alfonso? Andrés tem pegado seus casos e já está atolado de trabalho, caramba.

— Eu estou lidando com doze empresas, alguns casos de divórcios, duas crianças que estão destruindo a babá e uma mulher que me rejeita.

— Porquê você fez merda. - acusou.

— Maite, eu não vou pegar os Paleta. Passa para algum outro advogado.

— Christopher, o honorário que ele está pagando não é para “algum outro advogado”. É para você ou para Andrés. O caso está todo mastigado. A mulher traiu o cara e ele ainda tem provas. Ele só quer a guarda das crianças e nada de pensão para a esposa infiel.

— Maite... - adverti.

— Ai, meu Deus, você está impossível - resmungou, levantando da cadeira. Então se virou para sair, mas parou na porta - Você vai mesmo fazer a loucura do avião?

  Sorri enquanto confirmava com a cabeça. Anahi certamente ia arrancar minhas bolas. Ou consideraria me dar uma segunda chance.

— Você é maluco. Boa sorte. - riu e saiu.

  Respirei fundo e olhei o relógio. Estava na hora.

  Vi pelas câmeras que Anahi estava esperando o elevador, então corri para encontrá-la. Chegamos praticamente juntos no térreo e como eu imaginava, estava lotado por causa do horário de almoço.

  Deus, eu estava prestes a passar mal.

— Anahi. - passei pelas portas giratórias, rezando para ela não sair correndo. Ela precisava ver aquilo.

  Ela continuou andando. Corri e a segurei pelo braço, virando-a para mim.

— Posso ajudar, Sr. Herrera? - perguntou num sussurro.

— Para com isso, Anahi... - ofeguei - Olha... Você não falou se gostou da música que cantei para você... - ótima maneira de enrolá-la, babaca.

— A música é bonita - respondeu secamente - Mais alguma coisa?

— Você... - engoli em seco e soltei seus braços, passando as mãos pelos cabelos - Procurou pela música depois?

— O que você quer, Alfonso? - resmungou.

  Abri a boca para responder, mas meu celular vibrou e só podia significar uma coisa.

  Levantei a cabeça e lá estava. Virei gentilmente o corpo de Anahi e fiquei atrás dela, com as mãos em seus ombros. Encostei a boca em sua orelha. Minha respiração lhe deixou arrepiada. Era um bom sentido.

— Olhe para céu, kóchetchka. - sussurrei.

  Assim que ela o fez, arfou e colocou a mão no coração e senti seus ombros sacudirem levemente.

  Lá no céu, em grandes letras brancas, para toda a cidade ver:

  Anahi, me perdoe. Te amo. Do seu Alfonso!

  Ela levou um tempo para conseguir se mexer e quando o fez, virou-se para mim com os olhos marejados e as mãos trêmulas.

— Por que você faz isso Alfonso? Você não imagina como é difícil para mim te olhar e perceber que eu me apaixonei pelo que eu inventei de você? - sussurrou - Por favor, para de me machucar, eu já sofri demais e já está difícil lidar com o filho e o homem que eu perdi. Não me machuque mais, está doendo demais já.

  Não era isso que eu esperava escutar.

— Any... - comecei.

— Não - ela me cortou e recuou dois passos - Você mentiu para mim deliberadamente, Alfonso. Não posso acreditar em você nem se eu quisesse. Então, por favor... - fechou os olhos, lágrimas rolando - Fica longe de mim. Por favor. - me olhou novamente.

  Perdi a fala. Completamente. Ela não estava com raiva, nem brigando, ou me batendo e muito menos puta de ódio. Era outra coisa... Decepção... Mágoa... Dor.

  Então ela se virou. E saiu.

  Mais uma vez.

  E eu, como um bom babaca que sou, fui para o bar.

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