Anahi Portilla
As próximas duas semanas foram permeadas por acontecimentos surreais. Cheguei ao trabalho e passei o tempo todo com frio. Não conseguia me aquecer de jeito nenhum, apesar de estar vestida pronta para receber a maior nevasca do século. Estava demorando mais do que deveria para entender as coisas e não conseguia espantar um sentimento irracional de medo.
Alfonso não tentou entrar em contato de forma nenhuma. Não recebi nada no celular depois dos e-mails que ele mandou por uma semana inteira. No e-mail também não. Nem um bilhete.
Esse silêncio era desesperador. Eu queria uma explicação, mas ao mesmo tempo o queria longe.
Quem eu queria enganar? Eu só queria uma explicação. A forma como ele ficava comigo não podia ser só atuação. E o pior era que quanto mais eu pensava nisso, mais idiota eu me sentia. Provavelmente eu estava imaginando coisas, como de costume. Eu sabia que ele estava na Rússia. Com a esposa. Maite me disse que ele soube do nosso filho, e caramba, ele sequer me procurou para saber se eu estava bem. Uma dor cresceu no meu peito.
Alfonso.
Será que um dia eu conseguiria parar de pensar nele?
Tive que me esforçar para me recompor. Soltei um suspiro e disse a mim mesma que de alguma forma as coisas se resolveriam. Por bem ou por mal.
Faltavam quinze para o meio-dia quando o telefone da minha mesa tocou. Pelo mostrador, vi que a chamada vinha da recepção do térreo. Não consegui esconder minha decepção ao atender.
— Não quero desculpas. Pegue sua bolsa e desça. Vou levar você para comer. - Maite ordenou assim que coloquei o telefone no ouvido.
— Não estou com fome. - resmunguei.
— Não perguntei se você está com fome. Estou falando que vou te levar para comer. Já chega de ficar pulando refeições. Estou te esperando na recepção do térreo. - desligou.
Pensei em simplesmente ignorar, mas não demoraria para ela aparecer com seguranças para me tirar dali.
Suspirando, fui até o banheiro. Olhei meu reflexo no espelho, surpresa com a transformação dos últimos dias. Eu parecia mais velha. Cheia de olheiras, o rosto mais magro e meus olhos tristes não combinavam com a minha personalidade habitual.
Eu estava quase chorando. Era praticamente só isso o que eu fazia nos últimos dias. A tristeza era maior que a vergonha e a decepção. Ou talvez estivessem todas num nível tão elevado que eu não conseguia controlar as lágrimas das últimas duas semanas.
Segurei a borda da pia e inclinei o corpo, fechando os olhos. Nada de choro. Eu estava cansada de parecer uma fracassada. Eu fui enganada. Eu não era a amante. Não intencionalmente. Não podia ter tanta culpa assim, afinal, ele havia escondido isso de mim. Um baque na porta, seguido de rosnados em russo me fez endireitar o corpo e me virar de uma vez. Dulce parecia furiosa, o corpo inteiro tremia e o rosto estava vermelho. Era completamente diferente da mulher tranquila que eu conhecia.
Quando ela me viu, arregalou os olhos e empalideceu. Antes que eu pudesse sair, ela levantou um dedo, pedindo-me para parar. Ela murmurou alguma coisa numa voz suave e desligou o celular. Me olhou da cabeça e fez uma careta.
— Você não parece bem. - sussurrou.
— Posso te ajudar em alguma coisa, Dulce? - cruzei os braços, o meu tom estritamente profissional.
Dulce se encolheu e limpou a garganta, torcendo as mãos. Christian me disse que ela havia deixado Christopher porque ela não era boa o suficiente para ele. Depois de todo o meu rolo com Alfonso, ele sequer conseguia ouvir o nome dela.
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CEO
RomanceFormada em Economia, recém-terminado o MBA e finalizado o estágio obrigatório, Anahi se vê desempregada e sem meios de se sustentar, até que a sua amiga Maite lhe convida para fazer uma entrevista para trabalhar na Herrera & Tovar como secretária ex...