Capítulo 37

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  Quanto mais o tempo passava, mais eu via que Anahi era louca. Pirada. Eu simplesmente tentei entender a situação. Era impossível ela ter conseguido um compromisso com os Boneta sem nada em troca. Como eu disse, ela era uma mulher atraente, inteligente, claro que Lauro, como um velho ficaria babando por ela.

  Perdi completamente o foco do trabalho, passando as mãos pelos cabelos.

  Essa mulher queria me matar. Era a única explicação.

  Tentei conversar com Anahi em outros momentos, mas ela se fechou completamente, se prendendo apenas a assuntos de trabalho, além de voltar ao formal “Senhor Herrera”. E quando eu a provocava, ela limitava-se a me lançar um olhar vazio e saía. Eu queria estrangula-la por não me dar atenção.

  E o mesmo aconteceu até quarta-feira. Quando eu ia à casa dela, ela batia a porta na minha cara e quando tentei entrar à força, ela berrou para eu sair a todos pulmões. Angelique assistia tudo, mas não me ajudava.

  Bela cúmplice!

  Depois do almoço de quarta, eu estava completamente desesperado para ter qualquer reação dela. Mesmo se fosse para me bater de novo, eu aceitaria. Assim que terminei uma reunião com representantes mexicanos, Andrés me acompanhou até a minha sala e fechou a porta, deixando todos os vidros opacos. O de Anahi, claro, já estava.

— O que houve com a Anahi? - Andrés perguntou com os braços cruzados.

— Como assim?

— Como assim? - Andrés me olhou incrédulo. - Desde ontem parece que vocês dois querem se matar, porra. Ela descobriu? Ai, meu Deus, ela descobriu, não foi?

— Não, Andrés - revirei os olhos e tirei o paletó, colocando no cabide. Servi dois copos com uísque e entreguei um a Andrés. Bebemos em silêncio alguns instantes. - Ela conseguiu marcar uma viagem com os Boneta - resmunguei como se com isso Andrés já pudesse adivinhar do que se tratava. Não adivinhou. - Eu estava louco atrás do Lauro, Andrés. Você também, antes de eu chegar, lembra? Lauro nunca nos deu bola. E aí Anahi aparece e consegue a droga de uma viagem. Uma viagem para uma ilha africana, porra? O que você quer que eu pense?

  Andrés me olhou impassível alguns instantes, uma mão segurando o copo e a outra enfiada no bolso da calça.

— Você está com ciúme, certo? - ele deduziu. Gênio!

— Claro que não, imbecil - sibilei. Andrés revirou os olhos. - Eu só achei estranho. Não quero Anahi com mais ninguém, inferno. E ela me prometeu que ficaria comigo. Exclusivamente comigo.

— Assim como você está exclusivamente com ela? - debochou. Ai. Passei as mãos pelos cabelos. - Você está com ciúmes. É normal, cara. Há muito tempo você não sente isso e não está sabendo lidar - sentou no sofá. - Me conta o que aconteceu.

  Eu tinha duas opções: contar e receber um conselho do Andrés ou matar alguém. E Anahi estava na sala ao lado, o que deixou a segunda opção bem atraente. Mas, com um suspiro pesaroso sentei ao lado do meu amigo e contei a história. Como sempre fazíamos com nossos clientes, ele me escutou sem interromper e sem expressar nenhuma emoção.

  Contei que estava de fato com Anahi, que não conseguia deixá-la ir embora e queria cuidar dela e da viagem que ela conseguiu para nós com os Boneta, inclusive o meu pensamento dela possivelmente ter se envolvido com Lauro ou o filho prodígio, Diego. Quando terminei, percebi que estava sem fôlego. Despejei tudo sem pausas.

— Cara, eu te amo, mas às vezes você é o cara mais burro do mundo - Andrés murmurou secamente. Fiz uma carranca, advertindo-o. - E não me venha com essa cara de bunda para cima de mim - colocou o copo na mesinha a nossa frente e virou o corpo para mim. - Anahi conhecia os Boneta de outros eventos. A sorte dela é que Lauro e Astrid só têm filhos homens, então ela é a preciosidade dos dois.

— O quê? - murmurei incrédulo.

— Anahi não sabia que você tinha interesse em fazer negócios com os Boneta e quando soube, conversou com Lauro. Ele vai viajar com possíveis investidores, inclusive você, porque Maite e eu só iremos de fachada para uma pré-lua de mel. Ao que parece, Lauro vai estudar os possíveis sócios. Ele quer a empresa focada na família e não essa coisa capitalista e blá, blá, blá. Ele apoia a qualidade de vida e toda aquela coisa. Anahi queria fazer uma surpresa para você com a viagem, já que ela sempre quis ir lá.

— Então... - limpo a garganta. - Então Anahi não fez nada errado, certo?

— Não é porque você está errado na história, que significa que Anahi também está. Você está com medo porque está sendo desonesto com ela e tem medo que ela faça o mesmo com você.

  Engoli em seco. Aquela era uma verdade. Uma verdade dura, mas ainda uma verdade. Assenti com a cabeça, incapaz de falar. Droga, Anahi estava louca de raiva comigo sendo que ela só queria me ajudar. Merda! Merda!

— Sei que você está pensando em alguma forma de se redimir com ela - Andrés se levantou. - Você devia experimentar o divórcio.

— Você está muito sarcástico hoje - apoiei os cotovelos na coxa e abaixei a cabeça, passando as mãos pelos cabelos. - Eu preciso de alguma coisa que deixe as crianças comigo, Andrés. Só isso. É só disso que eu preciso.

— Certo. Eu não vou falar mais nada para você. Faça o que é certo. - saiu da minha sala.

  Cara, se Anahi e eu fôssemos casados, ela certamente me colocaria para dormir na casa do cachorro.

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