Capítulo 57

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Alfonso Herrera

  O inverno estava indo embora em New York, mas o frio ainda se instalava em mim. Assim que saí do aeroporto, vi Brad me aguardando. Cumprimentei-o e pedi para que ele fosse até a casa de Anahi. Era hora de abrir o jogo com ela.

  Peguei o celular e liguei para meus filhos. Eu precisava ouvir a voz deles para tentar acalmar o aperto em meu peito.

Oi, papai. - a voz da Flora estava chorosa.

Oi, querida. O que há de errado?

Eu odeio a Kiara. - rosnou. Kiara? Era a primeira vez que Flora chamava a mãe pelo nome.

O que houve, Flora? - enrijeci o corpo, imaginando mil merdas.

Ela não gosta da gente, então por que temos que ficar com ela?

Papai está correndo atrás disso - e então me veio a ideia - Sua mãe tem agido diferente nos últimos dias?

Diferente como?

Não sei, filha, alguma coisa fora do normal com ela. Algo que você não esteja acostumada.

  Silêncio.

Ela fala sozinha às vezes, papai. É um pouco assustador. Ela colocou umas roupas do seu lado da cama e conversou com elas como se estivesse falando com você.

  Todos os meus alertas ficaram ligados.

Ai, papai, ela fica conversando com as roupas, falando que te ama, que quer que você ame ela de volta, antes da gente nascer e que faria qualquer coisa pra ter você de volta.

  Era uma declaração forte. Kiara não tinha um vínculo emocional com as crianças. Eu gostaria de pensar que ela não faria nada para machucar as crianças, mas, honestamente, eu não sabia se isso era verdade.

  Mas era o meu trunfo. Eu precisava usar isso a meu favor.

Amor, papai vai fazer de tudo para fazer você e Benjamin virem morar comigo. E onde está Benjamin, falando nisso?

Está tocando. Sabe, ele quer tocar piano que nem você, por isso passa o dia tocando - resmungou -  Sentimos sua falta, papa.

Também sinto sua falta, querida. E logo você estará comigo. Vocês dois. Sem nada para nos atrapalhar.

Mamãe disse que você tem outra mulher que quer te tirar da gente.

  Eu vou matar aquela vadia!

Nenhuma mulher vai me tirar de vocês, amor. Papai promete.

  Continuamos conversando até o momento que chegamos ao Bronx. Me despedi de Flora e prometi ligar no dia seguinte. Em seguida liguei para Andrei e pedi para que ele conseguisse um relatório médico de Kiara. Um funcionário seu estava dormindo com a mãe da minha esposa, então não seria difícil. Kiara não podia estar bem da cabeça. Conversando com minhas roupas e prometendo se livrar das crianças? Eu não iria arriscar isso.

  Quando cheguei ao prédio da Anahi, meu pulso acelerou tanto que fiquei zonzo. Eu não sabia o que iria dizer, mas tudo o que Anahi quisesse saber, eu diria. Sem mais segredos. Eu a queria comigo e teria que ser transparente com ela.

— Fique em algum lugar seguro, Brad. Não vamos demorar. - disse no plural, porque não queria aceitar a possibilidade da rejeição da minha mulher.

  Subi os dois lances de escada com pesar. Quantas vezes subi aquelas escadas com Anahi em meu colo, nós dois mal conseguindo conter o desejo? Foram tantas vezes que nem poderia contar. E lembrar então, era tão doloroso que a minha pressa em reencontrar Anahi transformou-se numa ansiedade esmagadora.

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