Capítulo 72

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Alfonso Herrera

— Porra, meu organismo não aceita o álcool mais com tanta facilidade. - gemi e tomei dois comprimidos para melhorar essa ressaca.

— O tio And falou que você bebeu muito, papa. É por causa do coração partido - Benjamin murmurou sem tirar os olhos das partituras que estava lendo - E não xingue. - repreendeu-me.

— Andrés não sabe o que fala. - olhei para Andrés, que abriu um sorriso debochado.

— Se eu abrir essas cortinas, você vai continuar falando que eu não sei o que falo? - meu amigo fez menção de levantar.

— Não ouse! - rosnei, esfregando as têmporas. Andrés gargalhou, fazendo minha cabeça latejar - Não façam barulho, pelo amor de Deus. - gemi, apertando os olhos.

  Assim que lembrei o motivo da ressaca, tive vontade de voltar a beber. Anahi não iria voltar. Ela não estava mais puta de raiva, não estava possessa, não tinha me xingado ou me batido. Na realidade, ela parecia muito tranquila.

— Onde está a Flora? - perguntei, já pensando no que iria fazer da minha vida a partir de agora. Eu focaria nas crianças. Inteiramente.

— Hã... Depois que você chegou bêbado, ela foi dormir lá em casa. Inclusive, Angelique também estava dormindo lá, então meio que foi a noite das garotas, por isso vim para cá. - Andrés respondeu olhando para os sapatos.

  Estreitei os olhos.

— Angelique Puente? Por quê?

— Ela não estava aguentando o humor da Anahi. Parece que ela estava tão na merda quanto você.

  Certo, isso era algo que eu com certeza não sabia lidar. Eu estava na merda, mas ouvir que Anahi ainda estava não era algo muito atraente de ouvir. Anahi merecia ser feliz com alguém que a queria bem e que não a magoasse de forma alguma.

— Você precisa comer - Andrés levantou. - Vou pedir para Victoria fazer um sanduíche.

  Meu estômago revirou só de pensar em comer. Andrés saiu e eu fiquei estudando algumas partituras com Benjamin. Ele estava cada vez melhor e eu mal conseguia esconder o orgulho do meu garoto.

— Papa? - a vozinha delicada de Flora invadiu o espaço e olhei para a porta. Ela estava linda com um vestido de renda que Maite e Andrés deram para ela de aniversário.

  E bem atrás dela, Anahi.

  Meu Jesus!

— Papa, ela é ainda mais bonita do que por foto - Benjamin exclamou e só então eu vi que ele a olhava admirado - Ela é muito mais bonita que a Rapunzel.

— Ben, vamos deixar o papa se resolver com a Any - olhou para Anahi sorrindo. De onde vinha tanta intimidade? Flora olhou para mim com uma careta - Papa, ne delay nichego glupogo.

  Quase ri. Flora falando no nosso idioma para eu não fazer nada estúpido era mesmo desesperador. Uma criança me dando ordens. Minha filha, por sinal.

  O que estava acontecendo?

  Flora e Benjamin saíram cochichando e me olharam esperançosos antes de fecharem a porta me dando privacidade para falar com Anahi.

  Olhei para Anahi e levantei da cama, a ressaca já completamente esquecida. Vesti uma camisa e a observei. Ela estava torcendo os dedos, indício de que ela estava tensa.

— Fica tranquila, Anahi... - limpei a garganta - Desculpa eu estar nesse estado - apontei para o meu corpo - Hã... Eu não esperava que você viesse.

— Eu sei. A Flo foi conversar comigo - ela sorriu e céus, como eu sentia falta daquele sorriso. Sentia falta de ser o motivo daquele sorriso - Por que você não toma um banho enquanto eu preparo alguma coisa para você comer?

  Andrés havia dito que iria fazer algo para eu comer, mas cara... Eu não queria dizer isso à Anahi. Eu queria algo dela. Então só concordei, e corri para o banheiro assim que ela saiu do quarto. Ela não parecia querer me assassinar, e nem falar palavras cruéis. Claro, ela não estava recuperada, mas se estava ali, era porque estava disposta a me escutar e quem sabe até resolver as coisas.

  Mantendo o otimismo em mente, me arrumei o mais rápido que pude. No estado em que eu estava, isso significou um tempo maior que o habitual, porque eu estava mesmo na merda.

  Quando saí do quarto, ouvi o piano, seguidas de risadas das crianças. Fui até eles e vi Anahi e Benjamin sentados no banquinho do piano, Flora babando nos cabelos de Anahi. Andrés olhava tudo de longe com um sorriso satisfeito. Ele me encarou e veio até mim.

— Ben está ensinando Anahi a tocar. A garota é um desastre na música - sorriu - Ela fez um lanche para você - apontou com a cabeça para a bandeja com um copo de suco, maça, banana e dois sanduíches - Vou sair com os meninos para vocês conversaram. Por favor... Por favor, não faça besteira.

— Papa, a Anahi aprendeu o dó central. - Flora sorriu orgulhosa.

  Anahi e Benjamin se viraram para mim e ela sorriu suavemente. Benjamin negou levemente com a cabeça, indicando que Anahi não era uma boa aluna.

  Eu poderia conviver com aquilo. Anahi havia conquistado as crianças. Eles gostavam dela. Caramba, eles gostavam dela.

— Crianças, a tia Maite e a tia Angel estão fazendo cupcakes. Por que não vamos lá ver como elas estão estragando a cozinha?

  As crianças gritaram, deram beijos em Anahi e saíram correndo sem esperar Andrés.

— Eu não ganhei nem um beijo de despedida. - protestei, forçando uma careta.

— Você vai sobreviver - Andrés bateu em minhas costas - Tentem não se matar - piscou para Anahi, olhou para mim e saiu.

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