Capítulo 33

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Alfonso Herrera

  Anahi tinha a aparência de um anjo. Um anjo muito sedutor, mas ainda assim, um anjo. E quando ela dormia, suas feições livres de quaisquer preocupações ou dores, o corpo relaxado, a luz fraca batendo em seu rosto estava apertando o meu peito. Não por ela estar ali, mas pelo que eu estava fazendo com ela. Eu sabia que uma hora, as coisas iam acabar dando errado.

  E a forma como ela gritava apavorada em seu sonho? Pedindo para alguém parar, gritando a mãe e se contorcendo toda. Algo tinha acontecido com ela no passado. E não era sobre a separação dos pais.

  Eu só não queria machucá-la. E ela disse que estava se apaixonando, mas sinceramente, eu sabia que ela já estava apaixonada.

  Nem sei quanto tempo fiquei admirando-a até que meu celular tocou ao móvel ao meu lado. Anahi resmungou alguma coisa e me apressei em desligar, para não acordá-la. Provavelmente era o despertador.

  Quando vi que não era o despertador, soltei um dicionário de xingamentos sussurrando para que Anahi continuasse dormindo. Eu não ia continuar conseguindo evitar Kiara. As crianças estavam comigo, era melhor eu falar com ela ou ela acabaria indo me visitar. E ninguém queria isso, certo?

Diga... - atendi friamente assim que saí do quarto, vestindo uma calça de moletom no caminho da cozinha.

Até que enfim me atendeu. Como estão as coisas aí? - sua voz mal humorada do outro lado da linha me fez querer socar alguma coisa.

Estão dormindo. Não sei se você lembra, mas temos uma diferença de oito horas, Kiara. - rosnei, preparando o café.

Pouco me importa. Aqui já são uma hora e eu quero saber como as crianças estão.

Ótimas. Elas ficam muito bem longe de você. - ironizei.

Não brinca comigo, Herrera - ela sibilou - Tenho tentado falar com você desde que elas chegaram aí, mas você nunca está em casa. Vivia reclamando porque eu não deixava as crianças com você, mas olha só, agora mal fica com elas. Parece que você não as ama tanto assim. - riu.

Vou repetir, as crianças estão ótimas sem você. O que mais você quer saber? - comecei a preparar ovos fritos.

Quando você volta? - ela ronronou. Estremeci. A mulher só podia estar louca. - Sinto a sua falta, querido.

Eu não. Só o que temos em comum são as crianças e mais nada. Se era só isso que você queria saber...

Espera, Alfonso. Espera - ela implorou. Suspirei impaciente. - Eu sinto a sua falta, Alfonso. Por que não podemos simplesmente esquecer e seguir em frente?

Você mudou, Kiara. Eu também mudei. Eu sei o que eu fiz e faço de errado e você sabe o que fez também. Fracassamos. Por que você não pode simplesmente me dar o divórcio?

  Silêncio.

Nunca - ela gritou. Fiz uma careta, afastando o celular e colocando os ovos no prato - Nunca vou te dar o divórcio. E se um dia você me der o maldito divórcio, eu vou voltar para a Suécia e levo as crianças comigo. Você nunca mais vai ver os seus filhos. Entendeu? Nunca! - berrou e desligou a ligação.

  Completamente frustrado, joguei o celular na bancada e passei as mãos pelos cabelos. Às vezes eu achava que Kiara não estava bem da cabeça, às vezes eu tinha certeza. Mas o seu médico disse que ela estava perfeitamente bem, que era só estresse emocional.

  Liguei para meu investigador para saber mais sobre Kiara. Ele a estava seguindo há mais de três anos, mas nunca descobriu algo que pudesse me ajudar a me divorciar de forma que as crianças exclusivamente ficassem comigo.

  Segundo ele, Kiara estava em Shumerlya com sua mãe num retiro de ioga. Nada que pudesse chamar a minha atenção.

  Terminei o café da manhã e coloquei tudo na bandeja e fui para o quarto. Encontrei-a se vestindo. Na verdade, ela já estava vestida, estava se olhando no espelho, tentando domar os longos cabelos lisos.

— Ei, bom dia - murmurei colocando a bandeja no armário ao lado da cama e a abraçando por trás. Seu corpo enrijeceu e pelo reflexo no espelho vi que seus olhos estavam fechados e sua respiração acelerada. - O que há de errado?

  Ela não respondeu. Seus lábios estavam levemente trêmulos e ela não abriu os olhos.

— Kóchetchka, abra os olhos - sussurrei em seu ouvido. Ela estremeceu. Cristo, eu amava como o seu corpo reagia a mim. - Olhe para mim, Anahi.

  Ela obedeceu e nossos olhos se encontraram através do espelho. Beijei seu pescoço.

— O que há, querida?

— Preciso ir embora, Alfonso.

— O quê? - enruguei a testa. - Por quê? - ela suspirou. - Preciso que você fale comigo Anahi, ou não vamos conseguir resolver nada.

  Ela se virou para mim, mas não ergueu os olhos. Ficou olhando meu peito e o acariciou suavemente.

— Eu disse que estava apaixonada por você, Alfonso. E eu não sei se isso é recíproco. Você me viu num momento que ninguém mais viu, nem Maite ou Christian ou até mesmo Angel, porque eu sempre me escondia para ninguém ver. Foi humilhante, mas você cuidou de mim. Você mostra que quer ficar comigo, mas quando eu disse o que eu sentia você praticamente virou pedra de tão enrijecido. Você não tem que ficar comigo por pena ou...

  Não aguentei escutar mais e a parei com um beijo. Seu corpo inteiro tremia e vê-la achar que eu sentia pena dela era completamente errado. Eu estava com medo de magoa-la. Não queria que ela ficasse mal por minha causa. Droga, eu não queria vê-la mal por ninguém.

— Eu quero você tanto quanto você me quer Anahi, ou até mais. Nunca duvide disso. Quero você comigo. Do meu lado.

— O que você está falando, Alfonso? - ela sussurrou e franziu o nariz. Ela sempre fazia isso quando estava nervosa ou confusa.

— Quero você comigo, Any. De verdade. Comigo. Definitivamente.

  E agora eu teria que correr para ser um homem casado e o homem que Anahi merecia.

5/5

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