Capítulo 69

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Anahi Portilla

  Cheguei em casa num estrondo, tentando a todo custo controlar os soluços e as lágrimas.

— Anahi... - Angel sussurrou suavemente - Fala alguma coisa, por favor.

  Eu havia ficado em silêncio durante todo o caminho para casa, pensando nas palavras de Alfonso e na música. Eu não conhecia aquela música e o que ele tinha na cabeça em cantar em francês para alguém que entendia não mais que o básico?

  Mas o que julguei ser o refrão, entendi muito bem o que significava. E tinha até medo de procurar e ver que era realmente aquilo que eu havia entendido.

— Vocês sabiam disso?

  Angelique e Christian se entreolharam e eu soube imediatamente: culpados. Soltei o ar com força.

— Como vocês conseguem fazer isso comigo? Não bastou eu ter descoberto a verdade pela esposa dele, ter perdido um filho e ter que lidar todos os dias com a dor de ter pedido o homem que eu amei e que nunca existiu, vocês querem me vê sofrendo mais? - ambos abriram e fecharam a boca repetidas vezes, mas nenhum me respondeu - Vou para o meu quarto. Preciso de um tempo sozinha. - comecei a caminhar até lá.

— Anahi, por favor... Não precisa se isolar. - a voz de Christian era dolorida.

— Agora não, Christian. - murmurei e bati a porta, escorando-me nela, mais lágrimas rolando pelo meu rosto.

  Eu tinha certeza que estava ficando desidratada de tantas lágrimas que estava derramando. Caramba, não era possível que alguém de 1.63 chorasse litros por dia. Não era possível!

  Fiquei sentada na porta, me afundando mais em autopiedade enquanto ficava revivendo cada palavra que Alfonso falou.

  Era a primeira vez que ele havia dito que me amava. E precisou me perder para isso. Não... Espera. Eu não entendia o motivo dele estar fazendo aquilo, mas não podia ser porque me amava. Não com todas aquelas mentiras. Toda aquela farsa devia ter algum motivo maior, mas eu não conseguia imaginar o que era.

  Depois de me considerar uma fracassada chorosa por tempo o suficiente, tirei a maquiagem, troquei de roupa e me joguei na cama.

  Fiquei revirando nela por tanto tempo que fiquei cansada e peguei o notebook.

— Não acredito que vou fazer isso. - resmunguei, digitando o pequeno refrão... Ou o que eu imaginava ter entendido.

  E lá estava. Je t'aimais, je t'aime et je t'aimerai. Escutei quatro versões diferentes da música e ainda assim a de Alfonso havia sido a mais bonita. Caramba, eu não podia estar imaginando coisas, podia? A forma como ele me olhou enquanto falava, a forma como sua voz ficou rouca pela emoção enquanto falava... Ele não podia estar mentindo. Mas estava, era a mesma voz que ela falava que nunca me deixaria e olha onde estou agora.

  Eu menti, manipulei e escondi as coisas, por medo de me entregar e assumir que estava tão apaixonado que doía a menor possibilidade de machucá-la.

  Nada foi capaz de tirá-la de mim.

  Estou arrependido e amo você.

— Porra... De onde vieram essas lágrimas? - enxuguei-as furiosamente, exausta de tanto choro. Abri um e-mail de Alfonso do dia anterior.

De: Alfonso Herrera
Para: Anahi Puente
Assunto: Saudade

  Hoje eu vi um tapete que ficaria ótimo na sua casa. Ou na minha, o que você preferir. Ele tem cara de ser um bom lugar para conversar, parece que nos deixa à vontade. Vi também uma geladeira que não faz barulho como a sua antiga, e uma cama confortável que não sacode quando a gente faz amor.

Tudo me lembra você.
Estou com saudades
Do seu, Alfonso

Por que ele precisava ter mentido?

— Por que você fez isso comigo Alfonso? Eu te amava tanto e você só soube me machucar - chorava copiosamente - Por favor meu Deus, arranque essa dor do meu coração, pois eu não aguento mais. - Batia no peito para vê se a dor era menor.

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