Alfonso Herrera
Acordei ouvindo gemidos fracos e fiquei imediatamente em alerta. Sentei na cama, vi que a luz do banheiro estava ligada e a porta estava entreaberta. Levantei num salto e praticamente corri até lá, quase levando uma queda quando pisei num líquido no caminho.
Murmurei um palavrão enquanto me equilibrava e abri a porta lentamente, encontrando Anahi de cócoras, com a respiração curta, o rosto pálido e suando. Precisei me esforçar para não entrar em pânico com aquilo.
— Anahi? - chamei-a calmamente e ela virou a cabeça para me encarar.
— Liga para a doula, Alfonso. - sua voz saiu firme, em contradição com a sua expressão de dor.
— Anahi? - repeti.
— A bolsa estourou, querido. Liga para a doula.
— Anahi? - repeti mais uma vez. Eu estava tendo dificuldades de assimilar o que estava acontecendo.
— Liga para a porra da doula, Herrera - grasnou, me fuzilando com os olhos - Agora!
— O bebê vai nascer? - sussurrei cauteloso.
— Não se você ficar perguntando coisas idiotas. Ah, meu Deus. - choramingou com as mãos na imensa barriga.
Aquilo foi o suficiente para me fazer agir. Liguei para a doula e para o obstetra que alegaram estar a caminho. Liguei também para Maite, pedindo para ela ir buscar as crianças urgentemente. Benjamin ficaria chocado ao ver o que o corpo de uma mulher era capaz de fazer.
Não queria ficar preocupado, mas o parto estava previsto para a próxima semana. Eu não havia acompanhado a gravidez de Kiara, então não sabia o que aquilo podia significar.
Ignorando o desespero, voltei para Anahi, ajudando-a a vestir um top e um short e começando a fazer os exercícios que a doula havia nos ensinado.
Anahi havia optado por fazer parto humanizado em nossa casa. Eu não sabia muito sobre isso, mas ela insistiu que por melhor que fosse o atendimento hospitalar, queria ter o nosso bebê num ambiente que era familiar para ela. Não seria eu a discutir, ainda mais quando questionei e ela jogou o secador em minha direção.
— Eu não vou conseguir. - choramingou enquanto subíamos e descíamos as escadas.
— Vai sim, querida. Você é uma guerreira.
A doula chegou, examinou Anahi rapidamente, alegou que o bebê não estava pronto para nascer e precisávamos continuar fazendo os exercícios. Anahi quase chorou e apertou minha mão com tanta força quando sentiu uma contração, que tive certeza de ouvi meus ossos quebrando.
— O que está havendo? - Benjamin e Flora apareceram sonolentos. Ao mesmo tempo Andrés, Maite e o obstetra chegaram. Deus do céu!
— Oi, meninos, por que não vão arrumar suas coisas e vamos lá para casa? - sugeriu Maite olhando para Anahi.
— O que está havendo? - Flora repetiu, com seus recém doze anos completos, mais curiosa e afrontosa a cada dia. Assim como Anahi.
— O bebê vai nascer. - Andrés murmurou.
— Já? - Benjamin arregalou os olhos e correu para o quarto, provavelmente para se trocar e ir embora.
Flora permaneceu parada, olhando surpresa para Anahi. Andrés foi atrás de Benjamin.
— Você vai deixar a gente? - Flora sussurrou cautelosa e se aproximou de Anahi.
— O quê? - Anahi escondeu uma careta de dor, arfando como um cão. Ela segurou com força minha mão e apertei os lábios - Por que não me ajuda com um exercício enquanto conversamos sobre isso?
Flora ficou frente a frente com Anahi, com as mãos na cintura.
— Papa, você pode me deixar falar com a Anahi? É pessoal. De mulher para mulher. Preciso ficar sozinha com ela. - Flora me olhou cautelosa.
Abri a boca para protestar, mas a doula se aproximou de mim.
— Claro que sim, Flora. Ajude Anahi a movimentar os quadris. Eu vou conversar com o seu pai na cozinha, tudo bem? - a doula sorriu para Flora e olhou para as pessoas que estavam na sala, arrumando as coisas - Deixem as meninas terem um momento.
Olhei interrogativamente para a doula, que respirou fundo com um sorriso tranquilo nos lábios. Eu estava quase surtando e ela estava agindo como se nada importante estivesse acontecendo. Encarei Maite, que cruzou os braços e deu de ombros.
— Sara, tem algo errado? - soltei, cansado de esperar a boa vontade dela para falar alguma coisa.
— Você está errado, Alfonso. Você está muito tenso, Anahi está sentindo isso e acaba ficando tensa também. Se ela ficar tensa também, não teremos a dilatação tão cedo. Preciso da Anahi relaxada para essa criança chegar bem.
— Mas eu estou relaxado - resmunguei - Muito relaxado - olhei para Maite em busca de apoio. Ele balançou a cabeça em negação - Gente, eu estou relaxado. - claro que eu estava.
— Alfonso, este é um momento lindo e cheio de luz - Sara sorriu, gesticulando com as mãos - Você precisa participar disso tranquilamente - fez uma carranca - Vamos voltar e terminar de arrumar as coisas. As meninas já devem ter conversado.
Enquanto caminhávamos, vi Anahi e Flora abraçadas e pedi para as meninas esperarem, visto que elas ainda estavam conversando.
— Eu não vou deixar você, Flora. Confia em mim, tudo bem? Vai dar tudo certo. Você e o Ben também são meus filhos, não vou me afastar de você por causa do bebê. Vou continuar amando e cuidando de vocês. Eu prometo.
Flora assentiu com a cabeça. Ah, ela estava chorando. Ela ficou com medo de deixarmos de amá-la por causa do nosso filho? Eu precisava falar com eles sobre isso depois.
Voltamos para a sala e Flora se recusou permanentemente a ir embora. E Anahi apoiou isso. Eu estava criando monstros.
— Você está louco se acha que vou deixar a Any sozinha nesse momento.
— O quê? - grunhi - Nem ferrando você vai ficar aqui, Flora. Você não vai ficar.
— Não? - Flora cruzou os braços - Por favor, pai, é meu irmão... Ou irmã... - seus olhos brilharam com a expectativa.
— Caralho... - esfreguei o rosto, impaciente.
— Para de xingar, papa - Benjamin apareceu. Impressionante, eles eram dois, mas tinham disposição de doze - Nós não vamos ficar aqui, certo?
— Meu Deus - Anahi fez uma careta de dor, colocando a mão na barriga. Meu desespero voltou com tudo - Meninos, vamos fazer o seguinte... - arfou - Vocês vão ficar na sala de cinema e não vão sair de lá até chamarem. Entendido?
— Mas, Anahi... - Flora protestou, mas parou ao ver a cara de dor de Anahi.
— Por favor, Flo. Você e o Ben precisam ficar juntos. Eu prometo que assim que o bebê nascer, vocês podem vir vê-lo.
— Ou vê-la. - Flora completou. Ela estava morta de vontade de ter uma irmã.
— Isso, ou vê-la... - Anahi arfou - Vão lá. O tio Andrés e a tia Maite vão ficar com vocês.
— Isso mesmo... - Maite começou a puxá-los para o andar de cima. Benjamin saiu correndo apavorado. Flora deu mais um beijo em Anahi antes de subir - Força, querida - sussurrou para Anahi - Traga meu afilhado logo. - piscou e saiu.
— Boa sorte, cara. - Andrés bateu em minhas costas e foi atrás da noiva.
Anahi me olhou e se apoiou na cadeira, mexendo os quadris para fazer algo nos quadris que eu não me lembrava o que era.
— Essa criança está demorando demais a nascer. - resmungou chorosa.
— Considerando que ele está vindo uma semana antes... - me aproximei, segurando seus quadris e a ajudando a se movimentar - Estamos num bom ritmo, amor.
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CEO
RomanceFormada em Economia, recém-terminado o MBA e finalizado o estágio obrigatório, Anahi se vê desempregada e sem meios de se sustentar, até que a sua amiga Maite lhe convida para fazer uma entrevista para trabalhar na Herrera & Tovar como secretária ex...