Capítulo 62

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Alfonso Herrera

  Eu cheguei tão possesso à casa de Kiara, que se as crianças não tivessem me agarrado com todas as forças, eu a teria matado. Lenta e dolorosamente. No avião, os vídeos se tratavam de Kiara aos amassos com o seu terapeuta e outro em que ela batia nas crianças desesperadamente com uma vara, gritando ensandecida, culpando-os por eu não amá-la mais.

  A garota estava completamente surtada.

— Alfonso, querido, você voltou? - os olhos de Kiara brilharam. Continuei verificando os machucados das crianças e me levantei com Flora no colo - Hãm... Sobre isso... Eles se machucaram. - deu de ombros.

  Que mulher cínica.

  Respirei fundo e coloquei Flora no chão e baguncei os cabelos de Benjamin.

— Crianças, por que não vão para a piscina? Papai precisa falar com a mamãe. - sugeri, forçando um sorriso para eles, querendo tranquilizá-los. Eles não veriam uma discussão suja. Não mais.

  Benjamin protestou um pouco, mas Flora falou sobre algum brinquedo que os tirou correndo da sala. Precisei tranquilizar a minha mente para não acabar fazendo nenhuma besteira. Kiara se serviu de whisky e se sentou no sofá, cruzando as longas pernas. Ela tomou um longo gole da sua bebida e me olhou com um sorriso esperançoso.

— Não está muito cedo para beber? - minha voz saiu baixa.

— Estou comemorando a sua chegada. Eu senti tanto a sua falta, querido. Eu estive pensando, nós podemos recomeçar mais uma vez. - largou o copo na mesa de centro e se jogou aos meus pés, beijando meus sapatos.

— Você está maluca? - fiquei longe de seu alcance e rosnei - Não chegue perto de mim, Kiara. Que porra você está pensando?

  Ela se levantou juntou as mãos numa oração me olhando com os olhos marejados.

— Você não pode me deixar, Alfonso. Lembra de quando a gente casou? A gente se amava, não se amava? Eu posso me livrar dessas crianças e a gente vai voltar a ser como antes e seguir em fr...

— Não ouse tocar nos meus filhos de novo, Kiara. - rosnei, apontando um dedo para ela.

  Eu estava vendo tudo vermelho e estava com tanta raiva pelo cinismo dela com Anahi, por ter agredido as crianças e só o que eu pensava era em quando ela havia se transformado nisso.

  Tentando agir de forma profissional, peguei a bolsa e tirei o notebook de dentro, ignorando Kiara pedindo para recomeçar. Era ridículo. Coloquei o notebook na mesa e abri os arquivos. Uma vez que eu havia pedido para Andrei enviar uma cópia para o juiz junto com o pedido de divórcio – que estava pronta há tempo, eu só renovava a data a cada trimestre – eu mostraria a ela, pegaria as crianças e arrumaria outro lugar para ficar enquanto pensava numa forma de me resolver com Anahi sem estragar mais ainda as coisas.

— Assista - minha voz era baixa com o esforço em não perder a cabeça - Depois disso, eu vou pegar os meus filhos e vamos sair daqui. Entendeu?

  Coloquei os vídeos calmamente. Seu semblante tranquilo desapareceu quando ela viu do que se tratava. Seu rosto ficou com uma coloração vermelha e ela apertou a borda da mesa, franzindo os lábios. Sua respiração ficou irregular e eu quase achei que ela poderia desmaiar.

  Ela me encarou com os olhos arregalados e marejados.

— Você estava me vigiando? Alfonso isso é invasão de privacidade, você sabe disso, não sabe? - cruzou os braços com a voz embargada.

  Soltei uma risada seca, incrédulo com a audácia dela de querer me culpar por alguma coisa.

— Essa casa é minha, Kiara, caso você não se lembre disso. Está no meu nome. Quanto ao seu... Caso com o Dr. Ivanov foi em um local público. Diga, Kiara, você ficou com ele para tentar me atingir ou para ele não diagnosticar o seu distúrbio?

  O rosto de Kiara se contorceu em ódio e ela começou a tremer. Com um grito, começou a bater no meu peito, descontrolada. Era o que eu precisava.

— Eu não estou louca, Herrera. Eu te amo, por que você não vê isso? O que você viu na droga daquela loira oxigenada? Eu sou muito melhor que ela - ralhou - Olha para mim, Alfonso. Foi comigo que você casou. Eu não vou deixar uma vadia acabar com o nosso casamento, entendeu? Nem aquelas malditas crianças. Eu mato quem tentar tirar você de mim - soluçou - Você não pode me deixar. Você não vai me deixar. Eu mato aquela garota antes.

  Congelei.

— Mas de que porra você está falando, Kiara?

— Acha que eu não vi a entrevista num evento que você a levou? E você a levou duas vezes - levantou dois dedos. Estava falando apressadamente, atropelando as palavras - Eu vi fotos, Alfonso. Eu vi como você olhou para ela - jogou-se no chão, soluçando - Você olhava para mim do mesmo jeito. Você olhava para mim antes daquelas crianças nascerem. Eu odeio aquelas crianças, odeio. - berrou.

  Esfreguei o rosto à procura de tranquilidade. Se Kiara estivesse mesmo doente, não adiantaria brigar. Tentaria conversar com ela depois e tentar um divórcio amigável. Nós dois sairíamos ganhando. Mas as crianças eu queria comigo. Disso eu não abriria mão.

  Mas uma coisa não me saía da cabeça. Será que o seu distúrbio a levaria a fazer alguma besteira? Não seria eu a arriscar.

— Crianças - gritei arrumando o notebook - Arrumem as malas. Vamos para outro lugar.

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