Alfonso Herrera
Sair da Rússia não estava nos meus planos. Não mesmo. Mas quando o meu pai disse que passaria para frente os negócios, não pensei duas vezes. Tenho sete irmãos, sendo eu sou o segundo no clã e de longe, eu era o mais indicado para seguir os passos da família nos negócios.
A verdade é que os outros cinco iriam falir os negócios da família. Dulce, minha irmã mais velha, já trabalhava no RH da empresa e não tinha planos de atingir um cargo mais alto. Os mais novos seguiam rumos diferentes, como: música, pintura, moda, arquitetura e colegial.
E como a minha madrasta disse: era a oportunidade perfeita para abandonar meus demônios.
Claro, foi doloroso me despedir de Flora e de Benjamin, mas era necessário.
— Poncho? - Tirei os olhos dos papéis que estava analisando e vejo Dulce entrando em minha sala com um sorriso lindo no rosto.
Ela não era nada parecida comigo e sim a minha mãe, que era latina. Pele bronzeada, olhos e cabelos castanhos claro e sempre com um sorriso no rosto.
— O que foi Dulce? - Perguntei num suspiro, já imaginando sobre o que ela quer falar: Anahi Portilla.
Anahi era extravagante, angelical e linda. Escolha uma palavra. O que importa é que, por um momento, na primeira vez em que a vi observando a vista pela janela da minha sala, esqueci como se respirava.
Definitivamente, Anahi era do tipo femme fatalle. O tipo de mulher que eu gostava na minha cama.
Seus cabelos longos, num loiro tão vivo que eu tenho certeza que eu a identificaria em qualquer lugar, seus olhos azuis que te levam ao abismo da loucura e da imaginação deles te olhando enquanto ela te chupa de baixo da mesa, sua boca carnuda e exuberante, com lábios que imploravam para serem tocados, além de suas curvas tonificadas que eram a perfeição e com certeza me levariam ao paraíso.
Então, logo me censurei. Eu nunca, nunca, nunca mesmo, transo com mulheres com quem trabalho. Por um simples motivo: o que acontece depois.
Os olhares de desejo, os olhos esperançosos, as tentativas patéticas de me deixar com ciúmes, as reuniões supostamente “acidentais”, as perguntas sobre meus planos e as caminhadas “casuais” pela porta do meu escritório. Tudo o que poderia, sem dúvida, se intensificar e se tornar um perturbador comportamento obsessivo. Algumas mulheres aguentam sair apenas por uma noite. Outras não aguentam. E, com certeza, eu já me ferrei com aquelas que não aguentam.
Não foi nada bonito.
— O currículo dela é incrível, Alfonso. Graças a Deus você tem uma boa perspectiva para contratar, não é como o papai que só contratava peitudas e burras como uma porta. - Revirou os olhos.
Meu pai nunca foi um exemplo de fidelidade depois que a minha mãe faleceu. Ele se casou novamente, mas nunca mais foi fiel.
– Você não vai ter problemas com isso comigo, Dulce. Sabe disso - resmunguei. - O que você quer? Preciso trabalhar.
— Fala sério, Alfonso - minha irmã cruzou os braços. - São quase oito horas. Estou indo para casa me arrumar. Vou sair com a Mai e com o Andrés. Vamos?
— Não acho que seja uma boa ideia, Dulce... - Esfreguei os olhos. - Estou cheio de coisas para fazer.
— Irmão... - Ela foi até o meu lado da mesa e me puxou, levantando-me pelo braço. Segurou meus ombros e me encarou. Mesmo com os saltos altíssimos, ainda continuava menor que eu. - Vamos, você precisa se divertir, largar essa frieza ridícula da Rússia. Vamos lá um pouco, mostrar a esses norte americanos como se bebe de verdade. - eu ri. - Não precisamos demorar. Por favor.
E lá vem. Fez o melhor biquinho que sempre fazia quando queria algo de mim justamente por saber que eu acabaria cedendo. Mulheres sabem jogar. São perigosas. Soltei um suspiro frustrado.
— Tudo bem, Dulce. Vou passar em casa para tomar um banho e passo na sua casa para te buscar, pode ser?
Ela me abraçou fortemente enquanto ria como uma criança que acabou de ganhar o melhor dos presentes.
— Obrigada, obrigada. Vamos logo ou quando chegarmos lá todo mundo já vai estar bêbado. - Gargalhou.
Fomos a uma boate em Chelsea, que se chamava 1Oak. Passamos rapidamente pelo andar de baixo e fomos até as escadas que nos levariam para um espaço vip. Andrés era sócio. Dulce estava empolgadíssima e com um vestido que quase dei um infarto de tão curto, mas ela se recusou a tirá-lo.
No primeiro degrau um garçom nos serviu champanhe. Minha irmã estava completamente à vontade. O som era alto, o que fazia com que todos tentassem conversar por cima da música, era praticamente impossível se concentrar. Fomos até um biombo, onde havia um sofá preto em formato de “c” e uma pequena mesa. Logo vi Andrés. Sozinho. Graças a Deus.
Cumprimentamos-nos rapidamente e tudo o que eu queria era álcool. Dulce e eu pedimos três doses de vodca e viramos todos de uma vez depois de gritar: na zdorov'ye. Nós, russos, sempre falamos isso antes de beber. Ou soltamos alguns palavrões.
— Cadê as meninas, And? - Dulce gritou para Andrés por cima da música.
— Estão lá embaixo, na pista. - Gritou de volta.
Meninas? Um pressentimento bem ruim já me surge. Dulce não seria capaz de fazer isso comigo. Tomei mais três doses da vodca. Pelo sorriso malicioso que minha irmã me solta, ela pensou exatamente nisso.
Desgraçada.
— Poncho, vou dançar com a Mai e com a Any. Você vem comigo ou fica? - Me perguntou batendo os cílios como um anjo. A filha da mãe estava mesmo tramando para mim. Ela queria mesmo que eu comesse a Anahi. Cacete!
— Eu fico, Dulce - rosnei - Não acredito que você tramou isso para mim. - Ela ri. Andrés enruga a testa e logo começa a rir. Claro, ele namorava a secretária dele, então sabia exatamente do que eu estava falando.
— Ela não sabe nada sobre você, Poncho - Dulce piscou para mim com um sorriso travesso. Arregalei os olhos. Dulce revirou os olhos, sabendo exatamente o que eu estava pensando. - Você acabou de chegar aqui, Alfonso. Não acho certo você ficar com outras mulheres sendo casado, mas você me prometeu que esse casamento, que todo mundo sabe que é fracassado, está no fim. Anahi pode te ajudar nisso. - beijou a minha bochecha e saiu.
Dulce estava certa: ninguém sabia do meu casamento. Nem mesmo Anahi. Eu poderia fazer o diabo que eu quisesse com aquela mulher.
E não ligo para o que pode vir a acontecer depois.
* Femme fatalle = Mulher fatal.
* Zdorov'ye = Na saúde.
VOCÊ ESTÁ LENDO
CEO
RomanceFormada em Economia, recém-terminado o MBA e finalizado o estágio obrigatório, Anahi se vê desempregada e sem meios de se sustentar, até que a sua amiga Maite lhe convida para fazer uma entrevista para trabalhar na Herrera & Tovar como secretária ex...