Capítulo 52

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Anahi Portilla

  O bipe contínuo me despertou. Minha cabeça doía, meus olhos estavam pesados e minha boca seca. Quando tentei abrir os olhos, uma luz clara me fez fechá-los rapidamente. Tentei me mexer, mas meu corpo estava dolorido e soltei um gemido de dor quando uma leve pontada ocorreu no meu estômago.

— Anahi? Ai, meu Deus, você acordou. - a voz de Maite parecia aliviada.

  Meu ventre ainda doía um pouco, mas não era aquela dor insuportável de antes.

  Antes.

  Lembrei do que me causou aquela dor.

  Alfonso. Amante. Kiara. Meu coração apertou e um nó se formou na minha garganta. Como eu não tinha percebido isso antes? Ela era a mulher que tinha ligado de madrugada no dia da boate, no dia em que fui contratada. Era a mãe de seus filhos.

— Anahi, está me ouvindo? - foi a voz de Ana Brenda que escutei. Assenti com a cabeça, incapaz de falar. - Consegue abrir os olhos?

  Conseguia, mas não queria. A realidade me bateria assim que eu o fizesse e eu não estava pronta para isso. Eu julguei tanto a amante do Enrico e acabei seguindo o mesmo caminho. Meu corpo tremeu e lágrimas rolaram pelas minhas têmporas sem que eu tivesse a chance de evitá-las.

  Ele não me amava. Droga!

— Anahi, por favor, não chora! - Maite segurou minha mão delicadamente - Ele é um cretino que não te merece.

  Eu não tinha dúvidas disso. Mas por que ele esperou eu me apaixonar para se revelar um babaca completo? Merda, eu ia ficar destruída. Quem eu queria enganar? Eu já estava destruída. Alfonso tinha me destroçado para qualquer outro homem. Não existiam homens como ele por aí. E o que aconteceu? Ele era casado.

  Eu devia saber. Não era possível que um homem como aquele estar disponível.

  Só abri os olhos minutos depois quando uma voz desconhecida ecoou na sala. Era uma mulher bonita, com um semblante gentil. Provavelmente minha médica, a julgar pelo jaleco.

— Boa noite, senhorita Portilla. - a doutora sorriu gentilmente.

— Puente. - corrigi. Nunca mais deixaria usarem o sobrenome do Enrico comigo.

  A doutora olhou confusa o prontuário, pegou uma caneta e corrigiu o sobrenome. Por fim voltou a sorrir para mim. Olhei ao redor. Maite e Ana Brenda eram as únicas na sala. Pareciam cansadas, na realidade. Os olhos de Maite estavam vermelhos, inchados e fundos e, por ser ela, tinha que ter alguma coisa errada. A garota chorava raramente, em todo esse tempo que a conheço, a vi chorar uma vez.

— Espera... - pisquei atordoada - Boa noite? Quanto tempo fiquei aqui?

— Chegamos aqui às onze da manhã, Anahi. Agora são oito da noite - Ana Brenda se pôs ao meu lado e acariciou minha cabeça. Eu não sabia o motivo, mas gostava dela. Devíamos ter nos conhecido antes - Mas pelo menos você está bem.

— Sou a doutora Bracamontes - a médica se apresentou - Preciso ver como estão seus sinais, tudo bem?

  Assenti com a cabeça e ela fez alguns exames manuais, perguntando como eu estava me sentindo, se sentia dor, tontura, enjoos ou algo do tipo. Meu coração estava tão dolorido que eu quase não conseguia responder. Será que Alfonso estava com Kiara? Ele devia estar rindo de mim, a patética secretária que se apaixonou pelo chefe.

  Fala sério, é ridículo.

  A doutora se afastou um pouco com as garotas, conversando com elas. Minha cabeça estava um turbilhão e imagens de Alfonso passavam por ela. Dos beijos, os abraços, as promessas, a forma como ele me olhava quando fazíamos amor.

  Droga, era tudo mentira, não era?

— Senhorita Puente, pelo que vi está tudo bem. Tem reagido muito bem aos medicamentos e isso é ótimo... - ela pausou e limpou a garganta, olhando para as garotas. Maite estava com o queixo tremendo, ela estava prestes a chorar? O que tinha de errado, eu não estava bem? Ana Brenda estava com os olhos lacrimejado, se virou, erguendo a cabeça e colocando as mãos na cintura.

— O que há de errado? - franzi o cenho e o movimento facial trouxe uma dor à minha cabeça. - Ai.

— Essa dor vai passar... - a doutora explicou com um sorriso fraco.

  Ela não estava falando da dor de cabeça.

— Doutora Bracamontes, o que está acontecendo? - uma onda de pânico começou a me invadir, imaginando que eu estava com algum problema mais sério.

— Anahi, você tem sentido enjoos no último mês? Ou algo assim?

  Pensei.

— Não. Eu vomitei algumas vezes, mas só depois de alguns acontecimentos ruins. - tipos os pesadelos ou o meu homem ser casado com outra mulher e ter filhos com ela. Além de ter mentido para mim.

— Certo, isso é comum... Quando veio o seu último período?

  Minha cabeça estava vagando em Alfonso o tempo todo e quando a doutora me perguntou isso, foi como um balde de água fria.

  Meu último período tinha vindo...

— Acho que em dois meses... - Jesus! - Mas não tem chances, doutora. Eu tomo remédio. - me apressei em justificar.

— Sim, eu sei. Acontece que com os vômitos contínuos o remédio perdeu o efeito.

— Eu estou grávida? - arregalei os olhos.

  Isso não podia estar acontecendo. Minha cabeça doeu, mas eu estava chocada demais para me incomodar com isso. Que tipo de carma o mundo tinha contra mim?

  A doutora respirou fundo.

— Você estava, Anahi. Seis semanas. Teve aborto espontâneo.

  Eu devia estar aliviada de não carregar um filho de Alfonso, certo? Mas não. Chorei copiosamente. Da maneira mais infantil e absurda possível. Me sentia culpada. Eu havia transado com um homem casado que só poderia ser um doente por estar traindo uma mulher como a que tinha. E eu não passava da secretária que tinha caído no papo do chefe que não conseguia manter o pau dentro da cueca.

  Pior! Eu tinha engravidado dele. E agora tinha perdido. Tinha perdido o meu bebê. Meu bem precioso.

  Eu chorava tanto que meu corpo começou a tremer violentamente com os soluços.

  Ouvia as garotas tentando me acalmar, mas eu só pensava nas promessas de Alfonso. Dizendo que queria ficar de verdade comigo e que nunca me deixaria. Era tudo mentira.

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