Capítulo 81

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  Olhei-me no espelho pela enésima vez nos últimos cinco minutos. Eu me sentia tão noiva que mal podia acreditar que isso estava acontecendo comigo. Finalmente.

  Maite e Angel me ajudaram a escolher o vestido e eu não podia ter ajudantes melhores. O meu vestido era semi-sereia, com um decote reto, aplicamos renda sobre o tule francês, faixa de cetim e pedrarias. Um coque desfiado alojava o véu enorme - exigência de Alfonso - e a minha maquiagem era boa o suficiente para me permitir chorar até desidratar e continuar parecendo uma boneca.

  Estava um frio anormal. Quer dizer, eu estava com frio, já que estávamos nos casando na Rússia. Como viveríamos em New York, não vi mal em nos casarmos no país de Alfonso. Tive receio de Kiara aparecer, mas quando falei sobre isso com o meu futuro marido, ele acabou soltando que ela tivera um ataque cardíaco há alguns meses, o que causou a sua morte. Tentei me sentir culpada, mas não consegui. Não depois de ver o vídeo dela batendo nos meus bebês. Flora e Benjamin tinham sofrido nas mãos daquela cadela, mas agora eles ficariam bem.

— Ei, linda - Angel apareceu lindíssima, segurando uma caixinha - Não sei como você ainda não perguntou ao espelho se tem alguém mais bonita que você.

  Eu ri.

— Você está muito cheia de piadinhas. - abracei-a.

— Isso é para você. Como você não pode ver o Alfonso, ele pediu para te entregar.

  Peguei a caixinha lindamente decorada e tirei a fita. Quando a abri, olhei para Angel, que espreitava curiosa.

  Cuidadosamente tirei o relógio da caixa e estava apaixonada por ele, quando notei que algo estava gravado no interior:

  No fluxo da vida, eu sempre vou procurar por você. E enquanto o tempo passar, você estará sempre em meus pensamentos. Seu Alfonso.

— Tem um bilhete também. - Angel tirou um bilhete da caixa e eu o peguei com a mão trêmula.

  Você está atrasada, kóchetchka. Estou te esperando para te fazer minha. Te amo.

  Francamente, quantas vezes mais eu me apaixonaria por aquele homem?

Alfonso Herrera

  Por mais que o clima estivesse gelado, eu estava suando. Anahi ainda podia mudar de ideia, então eu já planejava um meio de colocá-la em meu ombro com o vestido pomposo que ela devia estar usando e fazê-la casar comigo. Ela me enrolou quase um ano para este casamento sair, eu não deixaria que ela voltasse atrás logo no dia.

— Você vai enfartar antes da Anahi chegar se não se controlar. - Andrés riu, ajeitando o smoking. Quando fosse a vez dele, seria a minha vez de falar a mesma coisa.

— Eu vou lembrar disso quando Maite atrasar também. - debochei. Como eu imaginei, o sorriso de Andrés mudou e ele esfregou a testa.

— Ei... - Maite protestou com uma carranca - Deixe de ser ridículo, Herrera.

— Nem me fale - resmungou Andrés - Mas, tudo bem. Eu vou sobreviver. Contanto que ela chegue... - ele olhou para a entrada da igreja e fez uma careta. Segui seu olhar e fiz uma carranca.

  Lana Trachtenberg, a mãe de Kiara, estava parada na porta, olhando para mim com um semblante triste.

— Melhor você ir falar com ela antes que a Anahi chegue. - sugeriu Andrés.

  Respirei fundo e caminhei até ela rapidamente, forçando um sorriso para os convidados. Quanto menos gente olhando para nós, melhor. Quando me aproximei, Lana forçou um sorriso, mas apenas segurei o seu braço, guiando-a para fora da igreja. Feito isso, enfiei as mãos nos bolsos da calça e travei o maxilar, esperando ela falar o que queria. Como ela soube do meu casamento?

  Meu pai estava do lado de fora com Meryl e fez uma careta ao me ver com ela.

— Está bonito, Alfonso. - sussurrou Lana, fazendo-me encará-la novamente. Ela estava encolhida. Parecia cansada e com certeza estava mais magra.

— O que você quer aqui, Trachtenberg? - perguntei secamente.

  Ela suspirou e seus olhos lacrimejaram. Não passou despercebida a forma como ela apertou a bolsa que segurava.

— Queria assistir ao seu casamento.

— Você está brincando com a minha cara? - minhas sobrancelhas subiram em pura incredulidade. Ela balançou a cabeça - Lana, eu não sei o que você pretende, mas não é uma boa hora.

— Kiara morreu, Alfonso. - ela me olhou como se eu fosse desumano.

— Kiara colheu o que plantou, Lana - respondi com a mesma arrogância - Eu sei que ela era sua filha e que você a amava, mas apoiar que o nosso casamento continuasse por dinheiro foi putamente manipulador da sua parte - ela abriu a boca para protestar, mas eu ergui a mão, parando-a - Não venha me dizer que era por amor. Kiara estava com problemas psicológicos, mas a única coisa que você se importou foi no dinheiro dos Herrera, porque vocês estavam falidos ao invés de procurar ajuda para a sua filha.

  Ela me olhou surpresa e eu quase ri com a sua ingenuidade.

— Você acha que eu não sei? Preciso lembrar que a minha empresa é que banca a sua? Eu sei que depois que seu marido morreu o negócio afundou, Lana. Você está falando com um empresário. Eu não sou estúpido - seus lábios formaram uma linha fina e ela fez uma careta - Você sabia que Kiara agredia meus filhos e nunca fez nada a respeito. Benjamin ficou com a porra de um olho roxo, Lana. Tem noção da gravidade que sua filha fez? Tem noção do trabalho que foi para eles entenderem que Kiara não voltaria? E você viu. Toda maldita vez você viu aquela louca espancando os meus filhos, mas não disse nada. Você viu a doença da sua filha piorando, mas só o que importava para você era o dinheiro. Então não me venha com “Kiara morreu”. Ela fez um favor para todos nós. Agora meus filhos dormem tranquilamente todas as noites, Lana. Você criou um monstro e eu quero você longe de mim, dos meus filhos, da minha esposa e de qualquer pessoa do meu círculo social - pensei em falar que eu cortaria negócios com sua empresa, mas ela faria um escândalo, então preferi não mencionar isso - Saia daqui ou chamarei os seguranças!

  Sem esperar sua resposta, voltei para o meu posto. Quando o fiz, Lana já não estava mais lá. Meu pai entrou, me olhando com cautela. Fiz um sinal com a cabeça que estava tudo bem e seus ombros relaxaram.

  A má visita já havia ido embora, agora era só esperar a minha futura esposa, que parecia querer me ver ter um ataque com o seu atraso.

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