O vento leve, porém gelado, bateu em seus cabelos suavemente, as pontas da sua franja sendo asopradas para o leste. Ele se manteve sério, sem motivações para encarar o alfa que lhe esperava no carro, apenas esperando o momento certo para ambos irem embora. Seungmin ficou apenas encarando o nada por vários e infinitos segundos. Bang Chan não ousou reclamar, apenas mantendo o silêncio que o outro desejava para aquele momento. Distante do ômega, Bang Chan deixou as janelas fechadas, o frio do ar condicionado esfriando seus membros na temperatura certa, as mãos dele gélidas e pálidas, assim como o restante do seu corpo.Apoiou o cotovelo na porta do carro, respirando fundo. Ele estava estacionado não muito longe do beco em que Seungmin se encontrava, quase do outro lado da cidade, onde havia, em menos de dois quilômetros dali, as inúmeras sucatas e restos de carros velhos, protegidos apenas por portões e cercas enferrujados. De dia, parecia um lugar comum, onde pessoas moravam e andavam tranquilamente; um bairro simples, porém um dos mais pobres de Seul. Essas informações Bang Chan não precisou pesquisar. Apenas em ver o estado das ruas — feias e há muitos anos sem receber um asfalto novo, muito menos uma boa limpeza — e o modo como os moradores se vestiam — desgastados — era o suficiente para notar que ali não estavam pessoas ‘‘nobres” ou com boa renda financeira. No entanto, à noite, parecia que a situação era pior. Não sabia como Seungmin teria coragem de ir até aquele lugar sem hesitar.
Parecia muito com um lugar para fumantes e drogados, sem brincadeira nenhuma. A pouca iluminação deixava aquele beco perturbador, quase não deixando-o enxergar a silhueta de Seungmin, que se encontrava no breu, apenas as costas do seu casaco podendo ser vistas pelo alfa, que estava ficando aflito com o silêncio exagerado da rua. O poste com a luz amarelada era a única maneira de Bang Chan poder ver alguma coisa além do preto. De vez em quando, algumas pessoas apareciam e olhavam para o ômega e para o carro de forma duvidosa, mas apenas passavam reto, não fazendo nada que não deviam por... enquanto.
Com o tempo, aquilo acabou ficando um pouco amedrontador.
Bang Chan ainda não conhecia esse lado da Coreia, apesar de ter a noção que o país que não desejava voltar tão cedo não era um de se merecer muitos elogios.
Nossos projetos também incluíram esse bairro, pensou. Se não, precisam incluir urgentemente.
Ele suspirou.
Seungmin encarava o grande balde de alumínio que estava na frente dele, sem hesitação nenhuma em acender o fósforo que havia pegado do bolso do casaco, jogando-o sobre os inúmeros papéis velhos e o óleo que jogara fazia dois minutos desde que havia chegado no beco. O fogo começou a se acender lentamente e o vermelho misturado do amarelo surgiu nos seus olhos, junto da fumaça que subia rapidamente para cima, poluindo um pouquinho mais o ar coreano. Seu rosto iluminou-se pelas chamas, mas não demonstrou nenhuma expressão.
Procurou a câmera e o pendrive no seu casaco, pondo-os em mãos. Apertou os objetos contra sua pele fortemente. Inspirou e expirou mais algumas vezes, tentando não parecer preocupado com o fato de que estava num bairro não muito agradável, sem falar que Bang Chan estava lhe esperando no carro; ele ainda encarava o fogo na sua frente. Segurando a câmera com a mão direita e o pendrive com a esquerda, Seungmin estendeu-as para frente, sobre o balde, o fogo ficando mais alto e aquecendo suas mãos no frio. Afrouxou os dedos rígidos devagar, como se estivesse prestes a apagar um lado de sua própria história. Hesitou por um momento sem saber o motivo.
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Secretary Without Return || SeungChan
Romance[HIATUS] Se vendo na mais pura miséria, e sem saída - como a maioria dos ômegas -, Seungmin foge de Busan e é obrigado a começar do zero em Seul. Com a ajuda do seu melhor e único amigo, o ômega consegue um emprego em uma das melhores empresas do...