CAPÍTULO 64 - Noite

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CATERINE NATALIE CHERNYY.

A ESCURIDÃO PARA MIM SEMPRE FOI ALGO RECONFORTANTE. ME TRAZIA UMA SENSAÇÃO DE ACOLHIMENTO E DE LAZER, como se as trevas fossem minha casa. Por isso nunca a temi. Por isso nunca tive medo do escuro — mesmo antes de saber que Hades era meu pai, tinha o costume de ficar no meu quarto em Westover Hall com todas as luzes apagadas e as cortinas cobrindo as janelas, impedindo qualquer manifestação de raio solar no ambiente. Lá, no completo escuro, fechava meus olhos e respirava profundamente e calmamente, sentindo aquelas trevas abraçando minha pele, acariciando meus cabelos soltos na cama. A quietude que sempre acompanhou o vazio da escuridão também era reconfortante. Antes de saber que Hades era meu pai, a escuridão já era minha amiga.

Mas não essa escuridão.

Aqueles olhos estavam cravados no meu corpo, escuros e indistintos. Eram apenas olhos penetrantes em um vazio agitado, um buraco negro — um objeto astronômico interessante que é extremamente denso e com um campo gravitacional tão intenso que nada, nem mesma luz, pode escapar de sua atração uma vez que ultrapassa o limite de seus horizontes. Era pura desesperança tornada real em olhos estelares do vazio.

Nix tinha dez metros de altura, asas negras feitas de estrelas e uma biga sinistra puxada por cavalos vampiros. A Noite encarnada era quase demais para similar por inteira sem que meu cérebro colapsasse em uma pane irreversível. Pairando sobre o abismo, a figura era indefinida, como se a escuridão atrás de si fosse para dela também, e quase tão alta quanto a Atenas Partenos, só que viva e muito sinistra. Seu vestido negro era feito de vácuo, com as cores de uma linda nebulosa espacial, como se galáxias inteiras nascessem de seu corpete. Era difícil ver o rosto em detalhes, exceto pelos olhos vazios que brilhavam como quasares. Quando batia as asas, fazia com que me sentisse sonolenta e pesada, minha visão se turvando com o tamanho do poder que um simples bater de asas de morcego fazia com as moléculas do meu corpo vibrarem, me lembrando de como sou insignificante diante dessa escuridão.

Como uma amante de Astronomia, tenho que admitir, Nix, a Noite, era tão bonita quando aterrorizadora — ainda mais quando as nebulosas, as nuvens de poeira cósmica e gases, pareciam estar formando novas constelações e estrelas.

A biga da deusa era feita de ferro estígio, puxada por dois cavalos pretos enormes com caninos prateados e bem afiados. Os animais flutuavam acima do abismo, suas pernas se transformando em fumaça quando se moviam. Os cavalos relincharam e mostraram as presas para mim. A deusa Nix estalou o chicote, uma fina fileira de estrelas que pareciam farpas de diamantes emanando de sua corda, e os cavalos empinaram.

— Sombra, não! — Repreendeu ela. — Calma, Trevas. Essas presas pequenas não são para vocês.

Perseu olhou para os cabelos que relinchavam e bufavam. Continuava envolta na Névoa da Morte, e tive que segurar meu choro quando o vi — era um cadáver embaçado, os olhos verdes fundos, mortos e sem intensidade, os cabelos de azeviche estavam desbotados e molhados grudados em sua testa, como se ele tivesse morrido afogado. Os lábios de Perseu, antes avermelhados e bonitos, estavam sem cor, indicando que parecia ter morrido por algumas horas em um lago como se o corpo estivesse boiando, ainda com a água nos pulmões já que seus olhos e sua boca escorriam o líquido. Toda vez que olhava para ele assim sentia vontade de chorar de tão arrasada que ficava, mas tinha que me manter firme. Tenho... deuses, como vamos escapar de Nix? Ainda mais que a camuflagem parecia ser uma porcaria, já que a Noite obviamente estava nos enxergando.

Não consigo decifrar a expressão no semblante fantasmagórico de Perseu, porém, aparentemente, meu namorado não havia gostado do que os cavalos vampiros estavam dizendo.

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