CAPÍTULO 65 - Tudo irá ficar bem

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PERCY JACKSON.

— VAI FICAR TUDO BEM. — SUSSURRAVA CATERINE PARA SI MESMA, COMO UM MANTRA, A VOZ ROUCA E ANSIOSA. — VAI FICAR TUDO BEM. ESTAMOS QUASE SAINDO. Todos vão ficar bem. Tudo irá ficar bem.

Caterine sussurrava aquelas pequenas palavras como se fossem sua âncora. Ainda mais quando pisamos no coração de Tártaro cercados por nossos inimigos. Aquela era a âncora para a filha de Hades manter as forças, no entanto, as minhas eram diferentes. Me lembro de um pensamento reconfortante que estava usando para me agarrar e atravessar as portas. O pensamento tinha me atingido em cheio enquanto observei os inimigos reunidos no Tártaro, quando me senti tão desamparado quanto as almas no Rio Cócito. E daí que sou um herói? O mal estaria presente, regenerando-se, fervilhando sob a superfície. Não passo de um pequeno estorvo para os imortais. Só precisavam esperar e um dia morrerei. Um dia, meus filhos ou filhas poderiam enfrentar esses monstros novamente.

Filhos e filhas.

Meu desespero se foi tão rápido quanto havia surgido. Cravei meus olhos em Caterine Chernyy, minha namorada que ainda parecia um cadáver ambulante, mas imaginei sua verdadeira aparência: os olhos de duas cores determinados e teimosos, os cabelos negros e sedosos presos com uma trança de lado, o rosto pálido com seus lábios vermelhos e macios. Imaginei nossos filhos ou filhas, será que teriam os olhos tão marcantes como os de Caterine? De duas cores? Talvez um deles tenha o meu olho verde e o ouro líquido dela... seria algo interessante. Uma pequena cópia de nós dois, com os olhos heterocromáticos da mãe e seus cabelos negros ondulados. Ele ou ela poderia falar em russo, Caterine iria ensinar. Filhos e filhas. Uma ideia ridícula. Um pensamento maravilhoso que me fazia continuar. Bem ali no Tártaro, mais uma vez, sorri, observando o rosto ansioso e determinado de Caterine ao meu lado. Caterine era... deuses, não tenho nem palavras. Oh, cara. Quero ter filhos, mas somente se minha mulher quiser.

Contando que ela sempre esteja comigo já era o suficiente para mim.

Balanço minha cabeça, voltando a prestar atenção aos inimigos que nos cercavam. O chão arroxeado era escorregadio e pulsante de modo regular. À distância parecia liso, mas de perto era cheio de dobras e elevações que dificultavam cada vez mais nosso avanço até às portas. Emaranhados de artérias e veias serviam de apoio para meus pés, consequentemente meu corpo servia de apoio para Caterine — entre nós, minha namorada parecia ter mais dificuldade de andar pela pulsação do Tártaro já que sua túnica ficava rente aos seus pés, fazendo-a tropeça com regularidade. E é claro que havia monstros por toda parte. Matilhas de cães infernais caçavam pela planície, latindo, rosnando e atacando qualquer monstro que abaixasse a guarda. Arai voavam em círculos com suas asas de morcegos, e suas silhuetas negras eram visíveis contra as nuvens venenosas.

Tropecei, Caterine sendo mais ágil do que pensei, conseguiu me segurar por minha cintura quando quase cai que nem merda no chão, mas uma sensação de formigamento subiu por meu braço e apoiei minhas mãos em uma artéria.

— Está tudo bem, Perseu? — perguntou ela, preocupada, me ajudando a me erguer do chão.

— Tem água aqui. — Murmurei, retirando minha mão da artéria. — Água de verdade.

Bob deu um grunhido.

— Um dos cincos rios. O sangue dele.

Caterine retorceu o rosto em nojo, se afastando do amontoado de veias mais próximo.

— Isso é sangue dele? — disse a filha de Hades, a voz baixa ardendo em enjoo. — Sabia que todos os rios do Mundo Inferior desaguavam no Tártaro, mas isso...

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