Capítulo 01

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Do alto de sua deslumbrante cobertura, situada em um dos bairros mais elitizados de Manhattan, Dominic Spencer Harrington contemplava a imensidão do céu noturno, pontilhado pelas luzes cintilantes dos arranha-céus. Com um ar de indiferença, ele girou o copo de cristal entre os dedos, observando o reflexo do whisky Macallan, um dos mais caros do mundo, dançar entre os cubos de gelo.

Enquanto saboreava mais um gole da bebida envelhecida, a memória da conversa que tivera com seu avô, Edward Harrington, mais cedo naquele dia, invadia sua mente, embora ele tentasse afastá-la como se fosse apenas um incômodo passageiro.

— Dominic... — A voz fraca de Edward, marcada pela doença, chamou por ele, trazendo-o de volta ao luxuoso quarto do Manhattan Elite Medical Center, onde o patriarca estava internado. — Esperei por você o dia inteiro...

Antes de terminar a frase, Edward foi interrompido por uma tosse violenta, que parecia rasgar o silêncio do quarto.

— Estou aqui, vovô. — Dominic respondeu, se aproximando da cama onde seu avô repousava. — As reuniões na empresa não podiam esperar. Como se sente?

O velho Edward, cercado pelo conforto e pela tecnologia médica de ponta, parecia diminuir diante da inevitabilidade do tempo, e Dominic, embora presente, estava distante, imerso em seus próprios pensamentos de negócios e poder. Ele visitava seu avô no hospital todos os dias, mas sabia que aquilo podia contribuir muito pouco da melhora dele.

— Dominic? — Edward chamou novamente, com um olhar perdido, como se buscasse algo além do alcance da visão. — Você precisa... cuidar das plantas. As rosas, principalmente. Não as deixe morrer.

Dominic franziu a testa, sem compreender o pedido tão absurdo. Eles estavam em um hospital, não havia rosas, e mesmo que houvesse, havia funcionários para tais trivialidades.

— As rosas... a garota... — Edward continuava, sua voz trêmula denunciando a proximidade do fim. — Proteja-a. Ela é como uma rosa... precisa de cuidado.

— Que garota, vovô? — Dominic perguntou, mais por obrigação do que por interesse genuíno. — Acho que o senhor está delirando por causa dos remédios. Fique calmo.

— A garota que... nós... — A voz de Edward estava carregada de remorso. — Erramos com ela, Dominic. No passado... Eu errei... Você precisa corrigir isso para que eu tenha paz.

Dominic suspirou. Ele já estava impaciente com aquela conversa sem sentido. Na percepção dele, seu avô demonstrava sinais claros de confusão mental, talvez até delirante.

— Vovô, esses remédios estão afetando seu juízo. — Dominic disse, tentando encerrar o assunto. — Descanse. Esqueça essas histórias do passado.

— Eu traí meu melhor amigo... por dinheiro... — As lágrimas nos olhos de Edward eram as únicas testemunhas de sua dor. — Preciso me redimir...

O império financeiro da família Harrington não era antigo. Dominic tinha consciência que seu avô nasceu pobre, mas conseguiu fazer fortuna e hoje, eles eram uma das famílias mais ricas dos Estados Unidos. Os percalços sofridos pelo seu avô para que ele atingisse tamanha riqueza eram desconhecidos para Dominic, que já nasceu cercado de muito luxo. Contudo, agora, parecia que todo esse dinheiro era a fonte de um arrependimento tardio para o velho.

— Esqueça isso, vovô. — Dominic respondeu, desdenhoso, segurando a mão do avô com firmeza. — São apenas lembranças distorcidas. Concentre-se em melhorar.

— Encontre-a, Dominic. Cuide dela... — Edward insistiu, seus olhos se fechando, exaustos. — Não deixe que minhas falhas se repitam em você... As rosas não devem murchar...

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