Capítulo 03

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Ao amanhecer, com os primeiros raios de sol timidamente atravessando as cortinas do da elegante suíte, Isabella despertou antes que Dominic, que ainda dormia profundamente ao seu lado. Com um cuidado, ela deslizou para fora dos lençóis de seda, movendo-se com uma leveza quase etérea para não perturbar o sono dele.

Mesmo dormindo, ela percebeu o semblante angustiado de Dominic, uma manifestação clara do estresse que ele vinha suportando, fruto da preocupação com o estado de saúde de seu avô e das semanas de trabalho árduo.

Como no final de semana, Dominic não tinha empregados no apartamento, Isabella decidiu tomar a iniciativa. Com a intenção de surpreender seu namorado com um gesto de carinho, ela pegou seu Iphone e fez um pedido na padaria mais elegante da região. A Balthazar Bakery era famosa por seus croissants amanteigados, suas geleias artesanais e o café gourmet, cujo aroma tinha o poder de despertar os sentidos mais adormecidos.

Embora Isabella estivesse mais acostumada a ser mimada e servida, naquele dia, ela escolheu inverter os papéis. Com um toque de dedicação e carinho, ela arrumou a mesa da sala de jantar com a maior atenção aos detalhes. Sobre a toalha de linho impecável, dispôs as louças de porcelana fina, os talheres de prata polidos e as taças de cristal cintilantes. Cada item foi colocado com precisão, seguindo as regras de etiqueta que foram incutidas nela desde a infância. As cores vibrantes das frutas, o dourado dos pães e o brilho do café recém-filtrado compunham um cenário digno de uma pintura.

Ao finalizar a composição da mesa, Isabella deu um passo atrás para admirar seu trabalho, extremamente satisfeita.

— Tudo isso é para mim? — Indagou Dominic, abraçando Isabella por trás e dando um beijo em sua bochecha, surpreendendo-a.

— Sim, meu amor. — Ela respondeu, virando-se para ele com um sorriso calculado, seus lábios encontrando os de Dominic em um beijo breve, mas repleto de intenções não ditas. — Ontem à noite, você estava tão cansado. Nós mal conseguimos conversar, e eu pensei... por que não preparar uma mesa de café da manhã especial? Assim, podemos desfrutar de um momento tranquilo juntos. — Isabella falou, sua voz doce, embora cada palavra fosse meticulosamente escolhida para encantar. Seus olhos brilhavam astuciosamente, enquanto ela avaliava o efeito de seus atos em Dominic.

— Você é maravilhosa. — Ele respondeu e ambos se sentaram a mesa para comer.

— Como está seu avô? — Isabela questionou, indo diretamente ao assunto que mais desejava saber. — Alguma melhora?

— Não, Isa. Ele continua do mesmo jeito. — Dominic respondeu, ao mesmo tempo que passava uma geleia em um croissant. — Na verdade, eu acho que ele está piorando, começando a delirar, criando histórias descabidas.

— Como assim?

Dominic deixou o croissant de lado, a expressão preocupada tomando conta de seu rosto enquanto olhava para Isabella, buscando em seus olhos alguma forma de consolo ou resposta.

— Você sabe, ele começou a falar sobre coisas... coisas que não fazem sentido. Primeiro falou que eu precisava cuidar das rosas, se referindo a uma garota desconhecida. Depois, ele falou que traiu seu melhor amigo... que precisava se redimir. — Dominic balançou a cabeça como se quisesse afastar aqueles pensamentos.

Isabella, por sua vez, manteve a compostura, embora sua mente trabalhasse freneticamente, avaliando como essa nova informação poderia ser utilizada a seu favor. Com um suspiro suave, ela se aproximou de Dominic, colocando uma mão reconfortante sobre a dele.

— Querido, isso deve ser tão difícil... ver seu avô que é praticamente um pai para você passar por isso. — Sua voz era doce, tingida de preocupação, mas seus olhos brilhavam com um cálculo frio. Isabella sabia que a situação com o avô de Dominic poderia ser uma oportunidade, uma chance de se mostrar ainda mais indispensável, de reforçar sua posição como a parceira altruísta e dedicada que Dominic precisava ao seu lado. — O que os médicos falaram sobre isso?

— Eles dizem que vovô não está delirando. Sua saúde mental está em perfeito estado. — Dominic deu de ombros, conformado com aquela situação.

— E quem pode ser essa garota? — Isabella pressionou suavemente, sua curiosidade aguçada pelas revelações misteriosas do avô de Dominic. — E a questão de trair o melhor amigo?

— Eu realmente não sei. — Dominic olhou para o vazio por um momento, ponderando. — Vovô sempre foi um homem de princípios. Essa história parece tão fora de caráter que não consigo encaixá-la em lugar nenhum da vida dele que eu conheça...

— E o que você vai fazer?

— Nada, Isabella. Eu não vou fazer nada. — Dominic suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Por que você acha que eu deveria fazer algo a respeito? Vovô está delirando em uma cama de hospital e ponto final.

Isabella manteve seu olhar fixo em Dominic, ponderando suas próximas palavras com cuidado.

— E se essa garota for alguma filha bastarda do seu avô? Uma herdeira, como você? — Ela sugeriu, tentando ocultar sua real preocupação com toda aquela história.

Por um momento, Dominic pareceu considerar aquele questionamento de Isabella, mas não deu importância.

— Então, eu espero que vovô a cite no testamento, pois caso contrário, no que depender de mim, ela não vai ver um tostão do meu dinheiro. — Dominic respondeu com uma determinação brilhando em seus olhos.

Enquanto ele voltava sua atenção para o café da manhã, Isabella ficou em silêncio, mastigando suas próprias palavras e pensamentos. A mente dela era um turbilhão de estratégias e conjecturas, preocupada com esse súbito pedido do senhor Edward. Contanto que o velho morresse logo, rosas, garota e o amigo traído morreriam todos juntos com ele. Era assim que Isabella pensava.


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