Capítulo 14

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Tia Mary estava chegando na fazenda sob o sol quente do meio-dia, quando avistou um carro elegante, acelerando estrada afora. Rapidamente, ela conseguiu ver um homem dentro do veículo, mas não observou o outro que estava sentado no banco traseiro. Aquilo lhe pareceu imensamente estranho, uma vez que sabia que Sophia se encontrava sozinha na casa, trabalhando no jardim de rosas. Com o coração batendo um pouco mais rápido, movida por uma preocupação instintiva, ela apressou o passo, entrando rapidamente pela porta da frente.

— Sophia! — Chamou Mary, com uma voz que carregava uma mistura de ansiedade e alívio por estar finalmente em casa. A ausência de resposta imediata a fez ecoar o chamado. — Sophia! — Desta vez, sua voz reverberou um pouco mais alto pelas paredes da casa.

— Estou aqui, tia Mary. — Sophia respondeu com suavidade, sua voz flutuando do lado de fora da casa, vinda do jardim. Havia um tom de calma em suas palavras, contrastando com a preocupação de Mary.

Aliviada ao ouvir a voz de Sophia, Mary deixou as compras que tinha feito, uma miscelânea de ingredientes para o jantar e algumas sementes novas para o jardim, em cima da mesa da cozinha. Com passos mais leves, mas ainda carregando uma ponta de inquietação, Mary seguiu para o jardim.

— Querida, quem era essa pessoa que acabou de sair de carro daqui? — Indagou Mary, sua curiosidade tingida de uma preocupação maternal. Ela cruzou os braços, uma expressão de expectativa desenhando-se em seu rosto, enquanto observava Sophia com olhos atentos, buscando ler nas entrelinhas de sua reação.

Sofia, por sua vez, sentiu um leve aperto no coração. Ela nunca fora de esconder nada de sua tia, a única família que lhe restara, mas havia algo na visita daquele lindíssimo estranho que a fazia hesitar. Sua tia não iria aprovar que ela saísse a noite com um homem que ela mal conhecia. Com um sorriso que buscava ser tranquilizador, ela ponderou como compartilhar aquela verdade, sem revelar as camadas de emoções e incertezas que a envolviam.

— Ah, tia, foi um cliente que Tiffany mandou vir pegar as rosas aqui, mas não tínhamos a quantidade total para atender ele. — Sua voz era leve, mas havia um traço de hesitação nela. Sofia desviou o olhar para o jardim, onde as rosas começavam a fechar suas pétalas para a noite, como se buscasse na beleza simples da natureza uma forma de desviar do peso daquele momento.

— Estranho, Tiffany nunca fez isso antes.

— Também pensei nisso. — Concordou Sophia. – Eu liguei para ela e confirmei a história. De toda forma, o cliente foi embora rapidamente.

Mary, observando a sobrinha, percebeu o desconforto sutil em sua postura, a forma como seus olhos buscavam refúgio na paisagem do jardim. Ela sabia que havia mais naquela história, mas também entendia a importância de dar espaço e tempo para que Sophia compartilhasse à sua maneira.

— Está bem, querida. — Disse Mary, finalmente, depositando um beijo carinhoso no topo da cabeça de Sophia. — Eu vou tomar um banho e em seguida, preparo nosso almoço.

— Se precisar de ajuda, eu estou aqui no jardim.

Já de volta a pequena cidade, Dominic, acostumado ao luxo e à sofisticação das grandes metrópoles, encontrou-se em uma situação peculiar, optando por se instalar em um hotel local para passar o final de semana. A realidade era bastante distinta daquela à qual estava acostumado.

O hotel, embora simples e desprovido dos adornos e do requinte dos estabelecimentos frequentados por Dominic em suas viagens habituais, possuía uma atmosfera acolhedora. A fachada, modesta, pintada em tons pastéis desbotados pelo tempo, contrastava com os grandes hotéis de vidro e aço da cidade grande. O letreiro, um tanto antiquado, exibia o nome do estabelecimento com orgulho, embora as letras estivessem um pouco desgastadas.

Ao adentrar o lobby, Dominic foi recebido por um aroma suave de lavanda, que parecia permear todo o ambiente, proporcionando uma sensação de limpeza e frescor. O piso de cerâmica, embora antigo, brilhava sob a luz suave que entrava pelas janelas adornadas com cortinas de tecido leve. As paredes, decoradas com fotografias em preto e branco da cidade em épocas passadas, conferiam ao lugar uma sensação nostálgica.

O atendimento, embora desprovido da formalidade e eficiência impessoal dos grandes hotéis, era caloroso e genuíno. O gerente, um senhor de meia-idade com um sorriso acolhedor, fez questão de acompanhar Dominic pessoalmente ao seu quarto, demonstrando um senso de hospitalidade que há muito havia sido esquecido nos ambientes mais sofisticados.

O quarto, apesar de sua simplicidade, era surpreendentemente confortável. A cama, adornada com lençóis de algodão puro e travesseiros macios, prometia uma noite de sono tranquila. O mobiliário, embora um tanto datado, era bem conservado, e o pequeno banheiro brilhava com a limpeza. As amenidades eram básicas, mas suficientes para as necessidades de Dominic durante sua breve estadia.

Embora inicialmente surpreso com a simplicidade do hotel, Dominic não pôde deixar de apreciar a limpeza e o cuidado evidentes em cada detalhe. Era um lembrete de que, às vezes, a verdadeira qualidade residia na simplicidade e na autenticidade, e não na ostentação e no luxo.

Dessa forma, enquanto Charles cuidava dos arranjos práticos e se instalava em um quarto adjacente, Dominic se permitiu relaxar, aguardando ansiosamente pelo encontro com Sophia logo mais à noite. 

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