Capítulo 07

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Depois de todo aquele absurdo que foi a leitura do testamento, Dominic só queria voltar para sua cobertura e dormir. Contudo, Isabella esperava por ele lá para ficar a par de tudo que tinha acontecido, já que ela não pode participar de leitura.

— Mas seu avô não pode fazer isso com você, Dom. — Isabella respondeu chocada, depois de ouvir todo o incrível relato de Dominic sobre o testamento. — E você não pode deixar toda essa fortuna de lado. Afinal de contas, você também é responsável por isso. Sempre trabalhou e se dedicou as empresas.

— Exato. Por eu ser responsável por duplicar a fortuna da minha família, eu sou capaz de deixar isso de lado e começar minha própria fortuna. — Dominic falou num tom de amargura e ódio.

Começaria tudo do zero, mas não faria a vontade de seu avô, que não teve a coragem de consultar ele sobre aquela loucura antes de modificar a o testamento. Ele se sentia traído e manipulado pela pessoa que ele mais tinha confiança na vida.

— Mas meu amor, pense melhor. Todo um legado de uma vida iria parar nas mãos dos administradores dessa fundação, que provavelmente não farão bom uso de todo esse dinheiro. O que vem fácil, vai fácil. — Isabella falou aflita.

Só em pensar que Dominic deixaria todos aqueles bilhões de lado para começar do zero, ela sentia um pânico tomar conta dos seus pensamentos. Precisava convencer Dominic a aceitar aquele testamento, mesmo que isso significasse, para ela, ser a outra enquanto ele estivesse casado com a estranha.

— Por acaso você realmente quer que eu me case com outra mulher, Isabella? — Dominic indagou cético, encarando sua namorada de maneira gélida. Não era possível que ela estivesse sugerindo isso.

— Claro que não, meu amor! — Exclamou Isabella num tom de inocência fingida. — Eu não suportaria ver você com qualquer outra. — Ela falava de forma pausada, pois precisava escolher com calma as palavras para que Dominic não percebesse seu real interesse. — Mas nessa situação, eu preciso deixar meu orgulho de lado. Não foi justo com você, conosco, isso que seu avô fez. Contudo, nós temos que pensar mais com a razão do que com a emoção nesse momento. Seus pais já sabem disso?

Foi uma excelente saída de Isabella, envolver os pais de Dominic naquela situação, pois eles não aceitariam jamais o que seu filho pretendia fazer.

— Não. Eles ainda estão viajando e devem chegar para missa de sétimo dia. — Dominic respondeu dando de ombros, pois estava pouco ligando para o que James e Helen iriam pensar.

— E como fica a situação deles se você for renunciar a tudo que herdou do seu avô? Quem bancaria as viagens e os luxos dos seus pais?

— Trabalho? — Dominic respondeu com cinismo.

— Como assim trabalho? — Inicialmente, Isabella se fez de desentendida. — Você está sugerido que sua mãe e seu pai, que nunca fizeram nada de útil na vida, passem, do nada, a trabalhar? — Ela bufou revoltada com a sugestão. — Acho que seria mais fácil, eles virarem mendigos.

— Eles vão precisar viver de forma mais modesta até que eu me estabeleça financeiramente novamente.

— Isso não é justo com seus pais. — Isabella falou mais preocupada com a situação dela do que com os pais de Dominic.

— Muito menos comigo, mas é assim que as coisas são. — Dominic já tinha tomado sua decisão e mesmo revoltado com seu avô, ele já estava mais conformado.

— Dom. — Isabella chamou com uma voz suave, porém repleta de intenções não tão nobres e começou a tecer suas palavras cuidadosamente. — Eu sei que isso tudo é uma enorme injustiça. — Ela falou olhando nos olhos de Dominic. — Seu avô não tinha o direito de controlar sua vida dessa maneira, impondo com quem você deve se casar. É inacreditável que ele tenha feito isso, sabendo o quanto você dedicou à família e ao império que ajudou a construir.

Ela fez uma pausa, permitindo que suas palavras penetrassem na mente de Dominic, antes de continuar.

— Mas, querido, apesar da loucura que é tudo isso, precisamos pensar racionalmente. Você está diante de uma decisão que afeta não só a sua vida, mas também o futuro de toda a fortuna Harrington. Sei que a ideia de se casar com uma desconhecida, especialmente quando estamos juntos, é absurda. Mas, pense na alternativa.

Dominic encarava Isabella calado, refletindo sobre suas palavras e deixou que ela continuasse a falar.

— Se você não cumprir essas cláusulas, toda a fortuna que seu avô acumulou, e que você ajudou a duplicar, irá para uma fundação. Sim, é uma causa nobre, mas pense em todos os planos que tínhamos, no estilo de vida que estamos acostumados, e no poder e influência que essa fortuna representa. — Isabella segurou as mãos de Dominic entre as suas, olhando fixamente para ele, tentando transmitir confiança e certeza.

Ela se aproximou ainda mais, baixando a voz para um sussurro conspiratório.

— Não estou dizendo que será fácil, mas podemos encontrar uma maneira de fazer isso funcionar a nosso favor. Você se casa com essa Sophia, cumprimos as exigências do testamento e, enquanto isso, continuamos juntos, em segredo, se necessário. Após um ano, você estará livre para fazer o que quiser, e a fortuna Harrington estará segura. — Isabella soltou um suspiro teatral, como se a ideia a afligisse tanto quanto a Dominic. — Não é o ideal, eu sei. Mas é um pequeno sacrifício a curto prazo, pensando no longo prazo. E quem sabe? Talvez essa Sophia seja uma pessoa razoável e esteja disposta a cooperar, entendendo a situação.

Ela apertou as mãos de Dominic, buscando reafirmar sua presença e apoio.

— Estou aqui com você, Dom. Vamos enfrentar isso juntos e encontrar a melhor maneira de lidar com essa situação injusta. Seu avô pode ter tentado controlar seu futuro, mas juntos, podemos garantir que o resultado seja favorável para nós.

Com seu discurso cuidadosamente elaborado, Isabella buscava não apenas convencer Dominic a aceitar as condições do testamento, mas também assegurar sua posição ao lado dele, independentemente das circunstâncias. Sua habilidade em manipular a situação a seu favor era evidente, mesmo que suas verdadeiras intenções fossem movidas por interesse e ganância.

— Você então concorda que eu devo ir atrás dessa desconhecida, seduzir ela e depois de um ano de casado, pedir o divórcio? — Dominic respondeu com uma expressão fria e calculista, observando Isabella.

— O testamento não fala em coabitação, fala? — Isabella questionou, demonstrando surpresa por não ter pensado nisso antes.

— Não. — Confirmou Dominic acompanhando o raciocínio dela.

— Então é perfeito! — Isabella bateu palmas animada. — Você seduz essa Sophia, casa com ela e logo em seguida mandar ela morar no raio que a parta! Um ano depois, vocês podem assinar o divórcio.

— Você esqueceu da parte de consumar o casamento, Isabella.

— Meu amor, mesmo morrendo de ciúmes dessa moça e com ódio pelo que seu avô está fazendo conosco, eu posso suportar isso contanto que seja somente uma única vez para seguir as cláusulas do testamento. — Isabella tentava fingir tristeza em seu rosto. Não podia deixar explicito para Dominic que a tristeza maior para ela, seria ele renegar toda a herança.

— E se essa moça tiver um namorado? Se ela for casada? — No fundo, Dominic não estava de acordo com aquilo e tentava arrumar desculpas para não seguir adiante.

— Casada com certeza ela não deve ser. Caso contrário, seu avô não teria exigido essa palhaçada. — Resmungou Isabella. — Namoro, ela acaba na hora quando perceber que um homem como você está interessado nela.

Quanto mais Dominic refletia mais ele tinha certeza de que toda aquela situação era uma loucura concreta. Contudo, loucura maior seria deixar todo legado da sua família e o fruto de seu trabalho nas mãos dos administradores dessa fundação do seu avô. Se teria que sacrificar essa desconhecida, abandonando-a com um coração partido, que assim fosse. Obviamente, ele não seria tão cruel e ofereceria alguma espécie de compensação financeira depois de tudo.

— Amanhã cedo, eu vou voltar na mansão de vovô para falar com Henry. Ele está com uma carta que vovô deixou para mim e no meu súbito rompante da raiva, fui embora sem pegar a mesma. — Dominic falou num tom firme e determinado, mostrando que já tinha tomado sua decisão. — Ele também sabe onde posso encontrar essa Sophia Sinclair.


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