Capítulo 107

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Sophia despertou lentamente, seus olhos piscando contra a luz suave que preenchia o ambiente. Ela estava deitada em uma cama macia, envolta em lençóis de algodão egípcio que acariciavam sua pele. O quarto ao seu redor era luxuoso, decorado com móveis elegantes e tons neutros que exalavam sofisticação. Cortinas pesadas pendiam das janelas, bloqueando a maior parte da luz externa, criando um ambiente acolhedor e tranquilo.

Ao tentar se mover, Sophia sentiu uma onda de dor percorrer seu corpo. Seus músculos estavam rígidos e doloridos, como se cada fibra estivesse se recuperando de um esforço extremo. A exposição prolongada ao frio havia deixado suas articulações doloridas, e ela sentia uma leve sensação de formigamento nas extremidades, especialmente nos dedos das mãos e dos pés, que ainda estavam um pouco dormentes.

Sua pele, que antes estava avermelhada e quase roxa pelo frio, agora estava aquecida, mas sensível ao toque. Cada movimento parecia despertar uma nova área de desconforto, como se seu corpo estivesse lentamente voltando à vida. Sophia percebeu que estava vestindo um pijama de flanela macio, que alguém claramente havia providenciado para ela.

Sua garganta estava seca e dolorida, resultado da respiração rápida e superficial que o frio intenso havia provocado. Ela sentiu uma leve dor de cabeça, provavelmente causada pela desidratação e pelo estresse físico e emocional que havia enfrentado. Seus lábios, antes azulados, agora estavam rachados e sensíveis, e ela podia sentir o gosto metálico do sangue seco em alguns pontos.

Enquanto tentava se sentar, uma vertigem momentânea a fez deitar novamente. Sophia fechou os olhos, respirando fundo e tentando acalmar seu corpo e mente. A sensação de segurança e calor contrastava fortemente com o desespero e o frio que havia experimentado na noite anterior. Ela se perguntou onde estava e quem havia cuidado dela, mas, por enquanto, estava grata por estar em um lugar seguro.

O som suave de uma porta se abrindo chamou sua atenção. Ela virou a cabeça lentamente, vendo uma figura familiar entrar no quarto. Era Abby, com uma expressão de alívio e preocupação no rosto.

— Sophia, você está acordada! — Abby exclamou, aproximando-se rapidamente. — Como você se sente?

Sophia tentou sorrir, mas a dor em seus lábios a fez desistir.

— Estou... melhor, acho. — Sua voz saiu rouca e fraca.

Abby se sentou ao lado da cama, segurando a mão de Sophia com delicadeza.

— Você nos assustou muito. Ontem, você chegou quase congelada na boate. Mas agora você está segura. Vamos cuidar de você.

Sophia fechou os olhos novamente, sentindo as lágrimas se formarem. A gratidão e o alívio misturavam-se com a dor física e emocional, criando uma tempestade de sentimentos dentro dela. Ela sabia que ainda tinha um longo caminho pela frente, mas, por enquanto, estava grata por não estar sozinha.

— Abby... você pode me trazer um pouco de água? — Pediu Sophia, sua voz saindo rouca e fraca.

— Claro, Sophia. Espere um momento. — Abby se levantou rapidamente, seus movimentos ágeis e preocupados. Ela voltou com um copo de água e entregou-o a Sophia com cuidado, voltando a se sentar ao lado dela. — Aqui está. Beba devagar.

Sophia tomou pequenos goles, sentindo a água refrescante aliviar sua garganta seca.

— Obrigada... — Murmurou, ainda confusa. — Onde estou?

— Você está no apartamento do Felip. — Respondeu Abby segurou a mão de Sophia com delicadeza, seus olhos cheios de preocupação e alívio.

— No apartamento do Felip? Mas... como eu cheguei aqui? — Sophia franziu a testa, tentando processar a informação.

— Quando você desmaiou na boate, Felip e eu te trouxemos para cá. Eu passei o resto da noite com você aqui. — Abby apertou suavemente a mão de Sophia, tentando transmitir conforto. — Nós chamamos um médico para te examinar. Ele disse que você estava com hipotermia e desidratação, além de algumas queimaduras leves pelo frio. Mas, felizmente, você vai ficar bem.

— Eu... eu não sei o que teria feito sem vocês. Obrigada, Abby. — Sophia respirou fundo, sentindo uma mistura de alívio e gratidão.

Abby sorriu suavemente, seus olhos brilhando com empatia.

— Não precisa agradecer. Estamos aqui para você. — Ela hesitou por um momento, antes de perguntar com suavidade. — Mas... o que aconteceu, Sophia? Por que você estava daquele jeito?

As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Sophia, enquanto ela se lembrava dos eventos recentes.

— Meu casamento era uma mentira, Abby. Eu descobri tudo. Dominic... nunca me amou. Era tudo por causa de uma maldita herança.

— Oh, Sophia... eu sinto muito que você tenha passado por isso. — Abby engoliu seco, tentando esconder a culpa que sentia por saber a verdade o tempo todo.

De repente, foi como se Sophia sentisse um estalo em sua cabeça, uma ficha caindo. Ela se afastou ligeiramente dos braços de Abby, seus olhos se arregalando em uma mistura de choque e realização.

— Abby... — Começou Sophia, sua voz tremendo. — Você e Felip sabiam que Isabella era a namorada de Dominic? Vocês sabiam que eles estava me enganando o tempo todo?

— Calma, Sophia. — Abby respirou fundo, sabendo que não poderia mais esconder a verdade. Ela segurou a mão de Sophia com firmeza, tentando transmitir força. — Por favor, me escute. Felip conversou com Dominic sobre isso, logo após aquele incidente, quando Isabella jogou vinho no seu vestido. Dominic disse explicou que foi Isabella quem inventou a história de ser sua assistente. Ele afirmou que eles já estavam terminados, e que Isabella criou essa farsa para poder te ver pessoalmente.

— Então... vocês não sabiam de nada? — Sophia piscou, tentando absorver as palavras de Abby.

— Nós sempre soubemos do relacionamento de Isabella e Dominic, mas quando ele apareceu com você na boate, nós entendemos que eles tinham acabado. — Abby omitiu vários detalhes, mas pelo estado de Sophia, por enquanto, era melhor que fosse assim.

— Isabella foi ontem pela manhã na loja de flores e me contou tudo. — Sophia sentiu uma mistura de raiva e confusão. — No começo, eu achei que era mentira, mas eu encontrei a carta do avô de Dominic, explicando o testamento. Dominic só se casou comigo para conseguir a herança. E ele ainda estava com Isabella o tempo todo. Eu fui tão ingênua... Acreditei nele, me apaixonei por ele, e ele me usou. — Sophia soluçou, sua voz cheia de desespero. — Como eu pude ser tão cega, Abby? Ele me fez acreditar que me amava, mas tudo era uma mentira. Eu não sei o que fazer agora.

— Você não está sozinha, Sophia. — Abby abraçou Sophia, acariciando seu cabelo com ternura. — Nós vamos te ajudar a superar isso. Você é forte, e vai conseguir passar por isso. Vamos dar um passo de cada vez, ok?

Sophia se aconchegou nos braços de Abby, sentindo-se um pouco mais segura.

— Eu confrontei Dominic ... — Sophia soluçava de tanto chorar. — No começo, ele tentou se explicar, me enrolar para que eu não pedisse o divórcio, mas depois ele foi um grosso, Abby. Eu fui embora da cobertura somente com a roupa que eu cheguei lá, no dia do meu casamento.

— Você não devia ter saído no frio, naquele estado, Sophia. Você podia estar morta. — Repreendeu Abby.

— Você tem razão, mas eu não estava raciocinando direito. Ainda fiquei andando pelo Central Park, sem rumo, até que decidi ir para boate. — Contou Sophia, explicando que tinha ido para boate a pé. — Obrigada, Abby. Eu não sei o que faria sem você e Felip.

— Estamos aqui para você, sempre. Agora, descanse um pouco mais. Vamos cuidar de tudo. — Abby continuou acariciando o cabelo de Sophia, tentando transmitir toda a segurança que podia.

Enquanto Sophia fechava os olhos, exausta e emocionalmente desgastada, Abby lutava contra a culpa de saber a verdade. Obviamente, ela e Felipe ficaram sabendo de tudo quando já era tarde demais para fazer alguma coisa, pois Sophia já estava casada com Dominic. Contudo, ainda assim, ficaram calados, deixando Sophia continuar naquele engano. 

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