Capítulo 68

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O trajeto feito até a cobertura foi feito completamente em silêncio entre Sophia e Dominic. Ela, olhando pela janela do carro, sentia uma mistura de emoções que a deixava ainda mais confusa. Desde o jantar na casa dos pais dele, Sophia vinha se sentindo deslocada e insegura. A recepção fria e distante de James e Helen a fez questionar se ela realmente pertencia àquele mundo de luxo e sofisticação. Mesmo com Dominic defendendo-a perante seus pais, a sensação de não ser bem-vinda era palpável e só intensificou seu desconforto.

A visita à loja de flores, que deveria ser um momento agradável, também não ajudou. Embora ela tenha ficado encantada com a variedade de produtos, a indiferença de Dominic em relação às suas ideias e sugestões a deixou desanimada. Ela queria compartilhar suas paixões e sonhos com ele, mas sentia que suas palavras caíam em ouvidos surdos. Dominic parecia mais preocupado com os negócios e as aparências do que com os sentimentos dela.

A ida à boate foi a gota d'água. A presença de Felip, com seu charme e atenção, contrastava fortemente com a frieza de Dominic. Felip a fazia sentir-se valorizada e ouvida, enquanto Dominic parecia mais interessado em marcar território do que em realmente se conectar com ela.

Enquanto o carro avançava pelas ruas de Manhattan, Sophia refletia sobre sua relação com Dominic. Os finais de semana em Skaneateles eram sempre tão maravilhosos. O mesmo não estava acontecendo em Manhattan. Adicionando a tudo isso, a descoberta de que Isabella havia sido demitida fez com que Sophia se sentisse culpada, mesmo que Dominic tenha garantido que não foi por causa dela.

Sophia sentia uma tristeza profunda e uma sensação de isolamento. Ela queria desesperadamente que Dominic a visse como uma parceira igual, alguém com quem ele pudesse compartilhar seus sonhos e medos. Mas, até agora, ele só havia mostrado controle e possessividade. A falta de comunicação e a constante sensação de inadequação estavam corroendo sua confiança e seu amor por ele.

Quando finalmente chegaram à cobertura, Sophia desceu do carro com um suspiro pesado. Ela sabia que precisava conversar com Dominic, mas temia que suas palavras caíssem novamente em ouvidos surdos. A noite na boate havia sido um desastre, e ela não sabia como consertar a distância crescente entre eles. Com o coração pesado, ela entrou na cobertura, sem nem olhar para Dominic, seguindo direto para seu quarto para dormir.

Querendo dar um pouco de espaço para Sophia, Dominic deixou que ela seguisse para seu quarto. Tinha agido como um verdadeiro homem das cavernas na boate, mas não conseguiu se conter com Felip o provocando o tempo todo.

Era por volta das três horas da manhã, quando Sophia resolveu descer para comer alguma coisa. Não tinha conseguido dormir desde que havia voltado da boate naquele clima tenso com Dominic. A sensação de desconforto e a avalanche de pensamentos a mantinham acordada, e ela esperava que um lanche pudesse acalmar sua mente.

Ao entrar na cozinha, Sophia foi recebida pelo silêncio absoluto da cobertura. A luz suave da geladeira iluminou o ambiente enquanto ela procurava algo para comer. Pegou um iogurte e algumas frutas, tentando se concentrar no simples ato de preparar um lanche para afastar os pensamentos perturbadores.

Depois de cortar as frutas, ela sentou-se à mesa da cozinha, saboreando lentamente o iogurte com frutas, mas a comida não trazia o conforto que ela esperava. A cada mordida, lembrava-se da frieza de Dominic e da sensação de inadequação que a acompanhava desde que entrou na vida luxuosa dele.

Terminando seu lanche, Sophia decidiu voltar para o quarto, na esperança de que o cansaço finalmente a vencesse. Ao sair da cozinha, notou algo que não havia percebido antes dentro da enorme sala de estar, a luz discreta do abajur estava acesa. Intrigada, ela se aproximou silenciosamente, tentando entender o que estava acontecendo.

Para sua surpresa, viu Dominic sentado no sofá, com uma expressão pensativa e distante, olhando fixamente pela janela, para a noite escura de Manhattan. Na mesinha onde estava o abajur, Sophia também viu uma garrafa de bebida pela metade e um copo. Dominic não parecia ter notado sua presença, perdido em seus próprios pensamentos. A visão dele ali, àquela hora, a deixou ainda mais desconcertada, sem saber se falava com ele ou não.

Decidida a voltar para seu quarto, Sophia continuou seu caminho, mas antes que ela pudesse subir o primeiro degrau da longa escada, Dominic saiu daquele transe, percebendo a presença dela ali.

— Sophia? — Ele chamou, sua voz baixa e rouca, carregada de uma sensualidade que fez o coração dela acelerar. O som de seu nome nos lábios dele era como um sussurro íntimo, uma carícia auditiva que parecia deslizar pelo ar e envolver seus sentidos. A profundidade e a suavidade de seu tom criavam uma melodia hipnotizante, que a fez parar no meio do passo, incapaz de ignorar o magnetismo daquela chamada.

Lentamente, Sophia virou-se, seus olhos encontrando os de Dominic, que agora a observava com uma intensidade que parecia penetrar sua alma. A luz suave do abajur delineava seus traços fortes e a sombra de sua barba por fazer, acentuando ainda mais o charme irresistível que ele exalava. Olhando um pouco mais para baixo, Sophia percebeu que ele estava sem camisa, vestindo somente uma calça.

— Sophia... — Ele repetiu, ao perceber que ela não respondia.

— Eu só vim comer alguma coisa. Já vou voltar para meu quarto. — A voz de Sophia demonstrava todo seu nervosismo.

— Venha aqui. Por favor. — Dominic pediu com a voz um pouco mais suave. — Podemos conversar?

— Eu não sei se esse é o melhor momento para isso. — Sophia falou, olhando para garrafa de bebida ao seu lado.

— Eu não bebi tanto assim, Sophia. — Dominic tinha percebido o olhar dela em direção a garrafa de bebida. — Por favor. — Ele pediu mais uma vez.

Concordando, incapaz de resistir à atração magnética que ele exercia sobre ela. Sophia se aproximou do sofá, seus olhos nunca deixando os dele.

— Eu não consegui dormir...

— Eu também não. — Ele admitiu, sua voz carregada de frustração. — Tem muita coisa na minha cabeça. — Dominic suspirou, passando a mão pelos cabelos, sem saber como começar aquela conversa sem tantas mentiras. — Esse final de semana não foi fácil para você... — Dominic olhou para ela, seus olhos azuis refletindo uma mistura de emoções.

— De fato, não. — Sophia respondeu, sua voz firme, sentindo um misto de compaixão e raiva, sentando-se no sofá ao lado dele. — Eu só queria conhecer, participar, um pouco mais da sua vida, mas você parece outra pessoa aqui. Eu me sinto inadequada e deixada de lado... sinto que você não me leva a sério.

Dominic respirou fundo, tocando o rosto dela com delicadeza.

— Você não é inadequada, Sophia. Você é linda e perfeita. Eu que fui um estúpido hoje com você. Ao invés de dar a atenção que você merece, eu fiquei trabalhando a tarde toda. — Aquilo era uma desculpa dele por não poder falar a verdade.

— Achei que você tinha interesse em ouvir o que eu tinha para dizer..., mas Felip e Abby se mostram mais interessados em conversar comigo do que você. — Sophia sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto, mas não a limpou.

— Tudo isso é porque eu não escutei você depois da visita a loja de flores? — Dominic indagou, seus olhos fixos nos dela, sentindo o remorso rasgar seu coração ao ver Sophia chorando. — Não fique assim. — Ele puxou Sophia para seus braços, fazendo com que ela se sentasse em seu colo.

— Eu já disse que não é só por isso... — Sophia falou com a voz chorosa, apoiando as mãos no dorso musculoso dele. Por conta de tudo isso, ela se sentia insegura, achando que Dominic não gostava dela e ela já estava completamente apaixonada.

— A lojinha é sua Sophia, eu a dou de presente para você e você pode fazer o que quiser. Colocar todas as suas ideias em prática. — Brincou Dominic, secando as lágrimas dela. — Vai ser bom você ter uma ocupação aqui para quando nos casarmos. — Totalmente sem querer, também um pouco por conta da bebida, Dominic falou aquilo pegando Sophia completamente desprevenida. 

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