Capítulo 05

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Há mais de 50 anos, Edward Harrington e John Sinclair eram dois rapazes pobres e bastante amigos. O sonho de ambos era conseguir enriquecer e dar um futuro melhor para sua família. Nos primeiros anos de suas vidas adultas, depois de ambos juntarem uma grande quantia de dinheiro, eles se lançaram em uma empreitada conjunta, fundando uma pequena empresa de comércio que rapidamente começou a prosperar.

Edward possuía um tino excepcional para os negócios, uma habilidade nata que lhe permitia navegar pelas complexidades do mercado com uma facilidade invejável. John, por outro lado, embora não compartilhasse do mesmo dom natural, era incansável em seu esforço e dedicação, compensando sua falta de habilidade com uma ética de trabalho exemplar.

Conforme a empresa começava a expandir-se, a dinâmica entre os dois começou a mudar. Edward, cuja visão estratégica era de extrema importância para o crescimento inicial do negócio, começou a sentir-se cada vez mais incomodado pela parceria igualitária com John. Ele via sua contribuição como mais valiosa em comparação com a de John e se questionava por que deveria dividir os lucros meio a meio.

Esta inquietação interna de Edward cresceu silenciosamente, alimentada pela convicção de que, se substituísse John por um funcionário que recebesse um salário fixo, aumentaria sua própria parcela nos lucros e agilizaria as decisões empresariais, eliminando a necessidade de consenso que a sociedade exigia. Edward começou a ver a presença de John não como um pilar de apoio, mas como um obstáculo para o aumento de seus ganhos e para a implementação de uma visão que ele agora considerava exclusivamente sua.

Diante disso, Edward decidiu eliminar seu amigo de infância da parceria nos negócios, mas não fez isso da forma correta. Ele se aproveitou da confiança que o amigo delegava a ele e fez com Jonh assinasse diversos documentos, nos quais Jonh, inadvertidamente, transferia sua parte nos negócios para Edward.

A traição foi meticulosamente planejada para que, quando Jonh percebesse o que havia acontecido, fosse tarde demais para reverter a situação. Edward, embora sentisse um leve peso na consciência, justificava suas ações com a crença de que era o único capaz de levar os negócios a novos patamares de sucesso. Ele via Jonh como um empecilho, alguém cuja visão limitada e falta de competência impediam o crescimento da empresa.

Com os documentos assinados e a transferência concluída, Edward assumiu o controle total da empresa. Jonh ficou devastado ao descobrir a traição. Sentiu-se não apenas traído por um amigo de longa data, mas também despojado de seu legado e futuro. Ele ainda buscou aconselhamento com um advogado, mas foi informado de que as chances de reverter a situação eram mínimas, dada a forma como os documentos haviam sido estruturados e assinados.

Edward conseguiu expandir a empresa e alcançar o sucesso que tanto desejava. No entanto, o vazio deixado pela perda da amizade de Jonh e o peso de suas ações começaram a afetá-lo profundamente no final de sua vida. Ele percebeu que, apesar de todo o sucesso material, havia perdido algo que não poderia ser recuperado: a confiança e o respeito daquele que um dia o considerou um amigo, irmão.

Jonh, por sua vez, desolado e com poucas condições financeiras para continuar vivendo em Nova York, decidiu se mudar para o interior, nutrindo um ódio extremo por Edward . Lá, ele conheceu uma moça simples e teve um filho. Muitos anos depois, nasceu sua neta, Sophia Sinclair.

Depois da perda do seu filho e sua nora em um acidente de ônibus, John passou a ser responsável pela criação de sua neta, que tinha somente 10 anos. Apesar da perda dos pais e do ambiente humilde onde foi criada, Sophia era uma criança alegre. Infelizmente, quando ela completou 14 anos foi a vez do seu querido avô John partir, por conta de um infarto fulminante. O pouco que ele possuía de dinheiro foi usado para pagar dívidas e Sophia se viu completamente sozinha no mundo.

Mary Simpson, amiga de longa data de John, se responsabilizou pela jovem, impedindo que Sophia fosse parar em um orfanato. Ela era uma senhora gentil e que tinha muito apreço pela neta de seu grande amigo. Mary possuía uma pequena fazenda de plantação de rosas. Como desde a morte de seus pais, Sophia vivia com seu avô John e próximo a Mary, ela aprendeu a lidar com as rosas e sempre a ajudava.

— Sophia venha aqui querida! — Exclamou tia Mary do terraço da pequena casa onde viviam. — Precisamos entregar mais uma remessa de rosas na lojinha de flores da praça. Tiffany conseguiu vender tudo que levamos na segunda-feira.

— Tia... — Sophia respondeu ofegante. Ela estava no jardim, tratando das rosas e correu para sua tia assim que ela a chamou. — Nós não temos mais rosas em fase colhimento. Somente na próxima semana.

As rosas eram colhidas regularmente, ao longo da temporada de floração, a cada 1 a 2 semanas, dependendo da variedade e das condições de crescimento.

— Que pena. Seria uma excelente oportunidade para conseguir mais um pouco de dinheiro. Precisamos comprar mais sementes para recomeçar a plantação. — Lamentou tia Mary.

— Não se preocupe tia. Na próxima semana, a colheita será maior e podemos conseguir um dinheiro extra, caso as vendas sejam boas. — Sophia respondeu animada.

Atualmente, com 19 anos, ela tinha se tornado uma moça lindíssima. Seus cabelos, ruivos, com tons que variavam entre o cobre e o dourado dependendo da luz, emolduravam um rosto de traços delicados e equilibrados, onde se destacavam os olhos verdes, brilhantes e expressivos, capazes de comunicar uma miríade de emoções sem a necessidade de palavras.

A pele de Sophia era clara e suave como uma fina porcelana, que contrastava de maneira fascinante com a vivacidade de suas madeixas e a profunda cor de sua íris. Ela possuía uma estatura mediana, com uma postura elegante e movimentos que refletiam uma mistura de confiança e graça natural.

Sua figura esbelta era adornada por um vestido simples de algodão branco, que transmitiam feminilidade e delicadeza. Apesar de jovem, ela carregava em seu olhar uma profundidade e uma serenidade que sugeriam uma alma antiga, alguém que observava o mundo ao seu redor com uma perspicácia e uma compreensão que vão além de sua idade. Havia nela uma mistura intrigante de inocência e sabedoria, como se, de alguma forma, ela conseguisse enxergar além das superficialidades do cotidiano e captar a essência das coisas e das pessoas.

Naquela pequena cidade de interior, a beleza rara e atemporal de Sophia chamava atenção por onde passava. Infelizmente, tia Mary não teve dinheiro para mandar Sophia para uma universidade, mas ela tinha o ensino fundamental completo, feito na escola pública da cidade.  

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