Kusuriya no Hitorigoto - "The Apothecary Diaries"

Capítulo 15: O Concurso de Go (Interlúdio)

"Pronto! Acho que tá bom assim." Maamei terminou de arrumar algumas coisas e parou para se espreguiçar. O escritório do Príncipe da Lua estava bem mais organizado e limpo do que antes, depois que elas redistribuíram a montanha de papelada para as pessoas cujos cargos realmente correspondiam às tarefas designadas.

Além de Maamei, só havia mais uma pessoa no escritório: seu irmão mais novo, Baryou, que ocupava um cantinho separado por uma divisória.

"Ryou, acha que vai conseguir terminar tudo?" Ela podia adotar um tom tão informal porque só estavam os dois. Na verdade, ela se comportaria exatamente do mesmo jeito mesmo se o Príncipe da Lua estivesse presente.

"Sim, devo terminar o resto hoje," disse Baryou. Seu rosto, pálido como uma cabaça verde, mal aparecia por cima da divisória. Ele nunca falava ou sequer se mostrava na frente de ninguém além daqueles mais próximos. Agora, ele disse: "Tem algo aqui que não parece estar no lugar certo." Ele passou uma folha de papel para Maamei. "Acho que talvez tenha a ver com o nosso querido Kan."

"Kan?" Só o sobrenome não bastava para Maamei entender.

"O homem de La. Grande Comandante Kan."

"Ah, o estrategista excêntrico. Não seja tímido, diga logo o que quer dizer."

Seu irmão podia não ser muito bom para a companhia humana, mas tinha um conhecimento perfeito de quem trabalhava em cada lugar e seus nomes. Ele tinha uma mente afiada, mas um corpo e uma constituição psicológica frágeis. Maamei estava ciente de que um corpo saudável, uma mente firme e uma capacidade robusta raramente se encontravam na mesma pessoa. Se Baryou pudesse ser misturado com o outro irmão mais novo dela, teria sido perfeito.

"Se não for muita pressa, vamos levar para ele mais tarde," disse ela.

"Tem certeza?"

"Não acho que adiantaria nada levarmos agora mesmo."

Maamei tirou um pedaço de papel das dobras de sua roupa. Nele estava escrito Torneio de Go e os detalhes do evento.

"Ah, era hoje?" Baryou disse. Ele tinha algum interesse em Go, mas não tinha coragem de ir a um lugar com tanta gente. Mesmo se tivesse ido ao torneio, provavelmente teria ficado tonto no meio da multidão e simplesmente desmaiado.

"Ele é um dos principais promotores. Dúvido que esteja fazendo qualquer outro trabalho."

"Você tem certeza de que vai ficar tudo bem?" Baryou perguntou em tom preocupado enquanto desaparecia mais uma vez atrás da tela. Maamei podia ouvi-lo mexendo em papéis; evidentemente, ele não tomaria isso como motivo para diminuir o ritmo.

"Tudo bem ou não, ele procurou por isso."

Kan Lakan, o chamado estrategista excêntrico, e o Príncipe da Lua pareciam não se dar muito bem. Talvez fosse por isso que Lakan tenha sido o principal culpado entre aqueles que empurraram seu trabalho para este escritório. Mandar tudo de volta para ele tinha sido o trabalho principal de Maamei ultimamente.

"Devo dizer que estou surpresa", disse ela. "Nunca esperei que ele realmente fizesse o trabalho que mandamos de volta para ele." Sim, o acordo era que o estrategista poderia ter seu local de torneio em troca de fazer o trabalho, mas considerando com quem estavam lidando, ela presumiu que ele poderia encontrar uma maneira de se safar. "E eu tinha outro plano preparado para o caso dele não colaborar." Sua estratégia de ter todas as suas refeições mudadas para mingau de cenoura - em outras palavras, simples assédio - foi em vão. Vale a pena notar que a informação sobre a aversão de Lakan por cenouras veio de seu filho adotivo.

"Dizem que ele está dormindo metade do normal. Grande Comandante Kan, quero dizer", disse Baryou.

"O quê, sério? Eu não tinha ouvido isso."