Capítulo 16

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Uma hora mais tarde. Junto do servidor.


É preciso pegar um metrô de circuito interno para alcançar o servidor em pouco tempo. Trata-se de um prédio baixo e sem janelas, no formato de um cubo cinzento, aparentemente colocado a esmo no terreno. Diversas antenas saem do topo, assim como sei que muitos cabos ópticos partem de seu subsolo, indo daqui para todo o restante da cidade, interligando diversos outros servidores e bancos de dados.

O único acesso ao interior é uma porta de metal lacrada.

Assim que me aproximo, o console ao lado dela se acende.

Aguardo por instruções, por alguns segundos. Depois, simplesmente passo o braço na grade vermelha.

— O que você quer? — Surge uma voz do console.

Poderia ser uma voz sintetizada, tamanha é sua agudez e ruído, mas acabo percebendo que trata-se da mesma que conversou com Kali uma hora atrás. Ou seja, a voz de Ceres.

— Meu nome é Harlan Montag, sou um salteador—

— Eu sei quem você é — a voz me interrompe. — É para isso que serve a identificação pelo display. A confirmação verbal é uma merda. O que você quer?

— Você é hacker. — Afirmo, talvez um pouco abrupto demais.

Há silêncio e estática por alguns instantes, antes da resposta vir.

— Sou uma mercadora, subdivisão dos salteadores.

— Ainda assim, você é hacker. — Insisto. — Sei que é a responsável pelo bloqueio no display de Kali Assange e estou aqui porque quero contratá-la para um serviço... parecido.

— Envolvendo quem?

— A própria.

Mais estática, dessa vez por mais tempo.

— Kali Assange é seu alvo e par — a voz parece cautelosa. — O serviço tem a ver com ela. — Diz ela, confirmando que entendera.

— Sim.

— Então você pode voltar para o lugar de onde veio, garoto.

O console se apaga e eu fico encarando-o, incomodado.

Passo o braço uma segunda vez na grade vermelha.

— Eu disse que é para ir embora, garoto. — Insiste a voz, e noto que ela é ligeiramente anasalada.

— Preciso ter acesso ao chip de georreferenciamento dela. Estou disposto a pagar o que for necessário.

Claro que o que estou dizendo é, em parte, uma mentira. Dependendo do número de créditos que ela requisitar, estarei bem longe de ser capaz de pagá-la.

— Todo mundo tem um preço. — Eu digo, parafraseando Jayden.

— Sim, é verdade.

— Qual é o seu?

Dois ou três segundos de silêncio.

— Acha que é fácil assim?

— Pelo menos estou tentando.

Uma risada breve e cortada, quase como se a pessoa estivesse se engasgando.

— Certo, você me compra com duas coisas — responde Ceres, e ouço um rangido de metal, talvez de uma cadeira. — A primeira: uma droga das boas. Se me conseguir alguma coisa de qualidade, posso fazer o serviço. A segunda: acesso ao seu display.

Deuses e FerasOnde histórias criam vida. Descubra agora