Cinco minutos depois.
Descemos para o saguão do prédio e imediatamente vemos que há barras de led branco piscando do lado de fora das portas de entrada, apontadas para dentro. Assim que as portas do elevador se abrem, tanto eu quanto a garota ficamos paralisados.
— O que é isso? — Pergunto.
Ela olha para o lado. A recepcionista desapareceu.
— Mantenedores.
— E porque estão aqui?
Kali olha para mim; dentro de seus olhos faísca o costumeiro fogo.
— Estão aqui por nossa causa.
— Devemos fugir?
Ela olha para fora e eu faço o mesmo. Os corpos inconscientes dos dois guardas não estão mais onde nós os deixamos.
— Não. Eles têm todas as ferramentas de que precisam para nos encontrar.
Puxa a manga de seu casaco e mostra o display. Ela está certa.
Andamos cautelosamente na direção da saída e as portas se abrem quando nos aproximamos.
— Kali Assange, mantenedora; Harlan Montag, mercador — diz a voz de um dos mantenedores, parecendo automática e mecanizada através de um megafone. — Aproximem-se devagar e com as mãos para cima.
Há dois carros com os faróis e as barras de led virados para a entrada, nos cegando. À frente deles, um grupo grande de mantenedores, cerca de dez. O décimo primeiro está mais avançado, parado mais próximo, com o megafone na mão esquerda: Dimitri O'Neil. Separados de nós por faixas de isolamento está um público considerável, examinando com voracidade o que se passa.
Enquanto eu levanto as mãos, Kali busca sua pistola com as suas.
— Nenhum dos mantenedores aqui está pronto para ter seu arco fechado — diz o homem, através do megafone. — Armas são inúteis. Esta é apenas uma inspeção de rotina.
— Não me parece ser "de rotina". — Digo, um súbito espasmo de coragem, ainda que, por dentro, eu me sinta remexido e ansioso.
Dimitri se aproxima de nós, entregando o megafone a outro mantenedor.
— Receio que você ainda não me conheça — diz ele, olhando para mim. — Meu nome é Dimitri O'Neil, sou o chefe do Programa de Proteção ao Fluxo Humano. Meu trabalho é o de garantir que todos os habitantes de Dínamo façam jus a seus direitos a partir do cumprimento de seus deveres. Seus deveres com a Teia. E isso se resume em alcançar o maior número de conquistas possível.
Abaixo lentamente as mãos, sentindo-me esquisito.
— Para tanto, preciso ter acesso imediato a seus displays, de maneira a verificar em que ponto vocês se encontram em sua trajetória dentro da Teia — diz ele, estendendo a mão direita. — É vital que este tipo de procedimento seja executado de forma satisfatória e eficiente. Peço, portanto, sua colaboração, para que possamos fazê-lo o quanto antes e seja possível que vocês continuem com seus percursos.
Kali deixa de procurar por sua pistola e me olha. Não faço qualquer gesto ou sinal. Não há nada que possamos fazer, de qualquer forma.
— Seus braços.
A garota estende o braço esquerdo antes de mim, e Dimitri se aproxima, um escâner chega até sua mão esquerda através de um outro mantenedor. Ele passa a grade vermelha pelo braço de Kali.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Deuses e Feras
Ficção CientíficaEm um futuro distópico, a Internet transformou-se em um instrumento de governo. Os países e nações desapareceram para dar lugar a um Estado virtual que governa a tudo e a todos por meio de dispositivos implantados nos braços dos cidadãos. Cada um de...