Capítulo 59

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Cinco minutos se passam.

Ouvimos um som do lado de fora. O vulto da mulher surge através da porta de vidro translúcido. Ela passa seu braço no console e a porta se destranca. Ela abre a porta, dá um passo para dentro, nos olha. A mulher baixa, um pouco acima do peso, de cabelos amarelos e usando uma maquiagem pesada, simplesmente fica paralisada onde está.

— Quem... quem são vocês? — Pergunta, a voz falhando.

Nenhum de nós fala nada.

— Como entraram aqui?

— Pela porta. — Diz Kali.

— Essa porta é programada para se abrir apenas com o meu display — diz Jeanine. — Como conseguiram entrar?

— Precisamos falar com você. — Diz a garota. Sua voz é gélida.

A mulher está claramente hesitante. Dá um passo para mais perto de nós, mas é só.

— A respeito do quê? — Pergunta. — Se for algum paciente, precisa passar pela seleção no primeiro andar. Aqui é a minha sala pessoal, onde, via de regra, apenas eu devo ficar. Caso seja realmente necessário, vocês podem me chamar para o térreo. Agora, eu preciso que vocês saiam da minha sala.

— O que temos a falar é um assunto privado — diz a garota, de braços cruzados, sentada na beira da mesa com tampo de vidro. O frio do metal da arma, presa na folga de minha calça, me impede de falar qualquer coisa. — Não poderíamos falar no hall.

— Às vezes, a privacidade não é um luxo a que podemos nos dar o prazer. — Retruca a mulher.

Apesar do surto repentino de coragem, ela não se aproxima.

— Ainda não responderam à primeira pergunta. Quem são vocês?

A fatalista estende seu braço esquerdo à frente e puxa a manga para cima. O display brilha por conta da proximidade com seu alvo.

— Você está pronta para ter seu arco fechado. — Diz ela.

Os olhos da política se arregalam e ela parece ainda menos capaz de se mover do que antes.

— Mas não estou aqui para isso — Kali volta a tapar o display. — Não nesse momento, e não se você estiver disposta a conversar comigo. Estou aqui para propor um trato.

— Um trato. — Repete a mulher.

Kali concorda com a cabeça, lentamente.

— Troco sua vida por uma atualização.

O rosto da mulher não mostra qualquer outra expressão. Então, se contorce.

— Uma atualização? — Pergunta ela. — Porque acha que eu poderia dar uma atualização a você?

— Porque você é uma imune.

Seu rosto se contorce ainda mais.

— Uma imune?

Outra vez nenhum de nós fala nada.

— Porque acham que eu poderia ser uma imune?

A fatalista se levanta, e parece apequenar a mulher com sua aura.

— Você é a responsável pela seleção de cura do Hospital Geral de Dínamo — diz Kali. — É você, e mais ninguém, quem decide se alguém pode ou não viver. Se alguém ainda tem algo importante a ser feito, faz-se todo o possível para salvar essa pessoa; se não, deixa-se que ela morra à sua maneira. Você é uma assassina.

Deuses e FerasOnde histórias criam vida. Descubra agora