Cinco minutos se passam.
Ouvimos um som do lado de fora. O vulto da mulher surge através da porta de vidro translúcido. Ela passa seu braço no console e a porta se destranca. Ela abre a porta, dá um passo para dentro, nos olha. A mulher baixa, um pouco acima do peso, de cabelos amarelos e usando uma maquiagem pesada, simplesmente fica paralisada onde está.
— Quem... quem são vocês? — Pergunta, a voz falhando.
Nenhum de nós fala nada.
— Como entraram aqui?
— Pela porta. — Diz Kali.
— Essa porta é programada para se abrir apenas com o meu display — diz Jeanine. — Como conseguiram entrar?
— Precisamos falar com você. — Diz a garota. Sua voz é gélida.
A mulher está claramente hesitante. Dá um passo para mais perto de nós, mas é só.
— A respeito do quê? — Pergunta. — Se for algum paciente, precisa passar pela seleção no primeiro andar. Aqui é a minha sala pessoal, onde, via de regra, apenas eu devo ficar. Caso seja realmente necessário, vocês podem me chamar para o térreo. Agora, eu preciso que vocês saiam da minha sala.
— O que temos a falar é um assunto privado — diz a garota, de braços cruzados, sentada na beira da mesa com tampo de vidro. O frio do metal da arma, presa na folga de minha calça, me impede de falar qualquer coisa. — Não poderíamos falar no hall.
— Às vezes, a privacidade não é um luxo a que podemos nos dar o prazer. — Retruca a mulher.
Apesar do surto repentino de coragem, ela não se aproxima.
— Ainda não responderam à primeira pergunta. Quem são vocês?
A fatalista estende seu braço esquerdo à frente e puxa a manga para cima. O display brilha por conta da proximidade com seu alvo.
— Você está pronta para ter seu arco fechado. — Diz ela.
Os olhos da política se arregalam e ela parece ainda menos capaz de se mover do que antes.
— Mas não estou aqui para isso — Kali volta a tapar o display. — Não nesse momento, e não se você estiver disposta a conversar comigo. Estou aqui para propor um trato.
— Um trato. — Repete a mulher.
Kali concorda com a cabeça, lentamente.
— Troco sua vida por uma atualização.
O rosto da mulher não mostra qualquer outra expressão. Então, se contorce.
— Uma atualização? — Pergunta ela. — Porque acha que eu poderia dar uma atualização a você?
— Porque você é uma imune.
Seu rosto se contorce ainda mais.
— Uma imune?
Outra vez nenhum de nós fala nada.
— Porque acham que eu poderia ser uma imune?
A fatalista se levanta, e parece apequenar a mulher com sua aura.
— Você é a responsável pela seleção de cura do Hospital Geral de Dínamo — diz Kali. — É você, e mais ninguém, quem decide se alguém pode ou não viver. Se alguém ainda tem algo importante a ser feito, faz-se todo o possível para salvar essa pessoa; se não, deixa-se que ela morra à sua maneira. Você é uma assassina.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Deuses e Feras
Bilim KurguEm um futuro distópico, a Internet transformou-se em um instrumento de governo. Os países e nações desapareceram para dar lugar a um Estado virtual que governa a tudo e a todos por meio de dispositivos implantados nos braços dos cidadãos. Cada um de...