Capítulo 25

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Por um instante não há gravidade.

Então, a queda.

A moto bate com força no chão, três metros abaixo. Quando ela cai, sou lançado por cima. O metal raspa no asfalto, faiscando, e eu bato com o rosto. O sangue verte. O gosto ferroso invade a minha boca.

Eu giro por cima de mim mesmo até parar, estatelado no chão.

Apesar do que eu havia imaginado, não há caos no interior do estacionamento.

A luz vermelha pisca como um coração batendo. As sirenes são ensurdecedoras. O estacionamento está repleto de carros de mantenedores, além de minha moto caída contra o pneu de um SUV estacionado. Os mantenedores, por outro lado, correm através de uma ampla porta de vidro.

Vou à minha moto e a levanto.

O motor apagou na queda, mas passo o braço pelo console e ele volta a funcionar. Eu a posiciono de frente para a rampa e, então, corro até a porta de vidro.

Cada um dos dez mantenedores lá dentro carrega, consigo, uma arma de balas de borracha. Todas elas estão apontadas para uma gigantesca porta de metal fechada, como que esperando alguma coisa acontecer. A formação deles é básica, com cinco abaixados à frente e cinco em pé, atrás.

Nenhum deles parece se perguntar o que está acontecendo. Mas parecem, todos, plenamente treinados e preparados para este tipo de situação.

Eu aguardo.

A sirene continua soando e, as luzes, piscando. Os mantenedores mantém suas posições sem hesitar, até que, cinco minutos mais tarde, há sons de tiros do lado de dentro da porta de metal.

Os sons são abafados, mas o tiroteio é evidente.

Dura pelo menos dois minutos. Então, para.

As sirenes também param. Depois, as luzes se estabilizam.

— O que isso significa? — Pergunta um dos homens.

— Significa que o fugitivo foi pego — responde a comandante. — Só o display de um mantenedor pode desligar a sirene, assim como apenas um mantenedor do lado de fora pode abrir essa porta.

Quando ela termina de falar, o som surdo de algo batendo contra a porta se faz ouvir. Todos se entreolham, e eu aguardo ansioso no estacionamento. Se Kali realmente tiver sido recapturada, vou precisar de uma boa desculpa para estar aqui.

— Abram as portas. — Diz a mesma mulher.

Um dos mantenedores vai até o console, ainda apontando sua arma para a porta, e passa o braço esquerdo nele.

— Inativo.

A comandante vai até ele e passa o seu próprio braço.

— Está travada. É um ataque hacker.

Ela volta para onde estava no mesmo momento em que se ouve um segundo som surdo.

— Mantenham suas posições. — Ela diz.

É o que eles fazem.

Seguem-se outras três batidas contra a porta do lado de dentro.

Por pelo menos cinco minutos nada acontece. Ainda assim, todos os mantenedores ficam estáticos, esperando, com os olhos grudados na porta e as armas voltadas para ela. Os dez pontos vermelhos das miras ficam tão exatamente no mesmo ponto que começo a achar que sempre estiveram lá.

E, então, a porta começa a se abrir.

Assim que ela o faz, uma onda negra desaba para frente, e os dez mantenedores atiram sem parar. As balas de borracha atravessam o ambiente faiscando, acertando os componentes da onda negra, já no chão: cinco outros mantenedores, todos desacordados.

Deuses e FerasOnde histórias criam vida. Descubra agora