Manhã. Dormitório.
— Vocês já ouviram falar a respeito de imunidade?
Jayden e Mael se inclinam um pouco para fora de suas camas para olhar para mim.
— Imunidade? — Pergunta Jayden.
Faço que sim com a cabeça.
— Onde você ouviu essa palavra? — Pergunta Mael. Sua voz tem um tom estranho. Um tom quase de ameaça.
Lanço um olhar para Jayden, e ele faz um gesto negativo com a cabeça.
— Ouvi por aí. Porque?
O namorado de Jayden aponta um dedo para mim.
— Imunidade é uma palavra poderosa e perigosa, Harlan — diz ele. — Não é algo que se ouça em qualquer lugar. Quem falou a respeito disso?
— Ninguém, Mael. — Digo, sério.
— Vou lhe dizer uma coisa, Harlan — ele é incisivo, me olhando com uma firmeza que eu não sabia que tinha. — É melhor não falar essa palavra em nenhum lugar, para ninguém. A não ser que você queira arranjar mais problemas do que já tem.
— Pode deixar. Eu sei tomar conta de mim mesmo.
Ele concorda.
Jayden parece perdido por apenas um instante.
— Mael, porque não vai tomar banho? — Pergunta.
O garoto olha para nós dois e nos analisa. Depois, desce de sua cama e anda pelo corredor formado pelas beliches, sem falar nada.
— Certo, Harlan. Onde foi que você ouviu isso?
— Kali e eu matamos, sem querer, um programador, ontem à noite — digo. — Ela o forçou a usar energia vital para rodar um galpão de atualização... a gente tentou fazer a atualização à força. Mas ele morreu antes de conseguir fazer qualquer coisa, por conta da quantidade de energia necessária. Mas, antes de morrer, ele disse que não conseguiria fazer a atualização, de qualquer forma, porque não era imune.
Jayden ergue as duas sobrancelhas, pasmo.
— Você está louco? — Ele pergunta, embasbacado. — Vocês mataram um programador?
— Tecnicamente, pode ser considerado um acidente — eu digo, em voz baixa. Olho em volta, pensando em o quão perigoso é o que estamos falando, caso alguém nos ouça. — Ele será substituído por um curinga.
Ele cruza os braços e balança a cabeça.
— Harlan, isso está ficando perigoso. Você está obcecado por essa garota.
Respiro fundo.
— Como posso não estar? — Pergunto. — Ela é meu par, meu alvo e minha fatalista. Ela está no centro de tudo que sou e do que posso ser. Se não for atrás dela, agora... se não continuar fazendo o que estou fazendo, vou ter o arco fechado por ela e estarei aceitando isso de bom grado.
Cruzo os braços, também.
— E eu não posso fazer isso.
Ele bota a mão sobre meu ombro.
— Tome cuidado, Harlan —diz Jayden. — A partir de agora, não há mais volta.
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Deuses e Feras
Science FictionEm um futuro distópico, a Internet transformou-se em um instrumento de governo. Os países e nações desapareceram para dar lugar a um Estado virtual que governa a tudo e a todos por meio de dispositivos implantados nos braços dos cidadãos. Cada um de...