Capítulo 55

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Quatro horas mais tarde.


A escuridão do interior do dormitório é interrompida pelo clarão do meu display. Tapo-o com o lençol, ouvindo baixos protestos de outros frequentadores do dormitório, e procuro pelo meu fone de ouvido, próximo da cabeceira. Eu o enfio na orelha e toco na tela para atender à chamada.

— Harlan.

— Kali. — Digo, minha voz um pouco embargada.

Um tempo de silêncio.

— O que está fazendo? — Ela pergunta.

— Estava dormindo. Estou no dormitório — digo, esfregando os olhos com força. — Qual é o problema?

— Nós não podemos perder tempo — ela diz. — Precisamos procurar por eles o quanto antes, e precisamos fazer isso agora. Me encontre no servidor daqui a meia hora. Vamos conversar com Ceres a respeito disso. Ela, com certeza, saberá como identificá-los.

— Certo. Eu encontro você lá.

Antes que eu possa dizer qualquer outra coisa ou me despedir, ela já desligou.

Pego um dos metrôs internos do subúrbio para chegar ao prédio cinza e sem janelas o mais rápido possível. Quando passo meu braço pelo console ao lado da porta e ela se abre, no entanto, a garota já se encontra no interior. Seu rosto é iluminado de leve pelas luzes das três telas, assim como o de Ceres. As duas olham para uma longa lista de nomes, lendo todas as informações disponíveis.

Paro junto do fim das prateleiras, esperando.

Ceres olha para mim.

— Ouvi dizer que você roubou uma eletroarma, garoto — diz ela. — Ainda quero saber a razão pela qual os mantenedores não me dão esse tipo de conquista.

— Mas não pude ficar com ela, de qualquer maneira.

— Classe 1 — resmunga a mulher, passando a língua pelos dentes da frente. — É uma pena. Se você trouxesse ela para mim, conseguiríamos uma boa quantia em créditos no mercado negro.

Dou alguns passos à frente, receoso em me aproximar de Kali. Ainda que tenha me beijado ontem, parece haver algum tipo de barreira entre nós dois, algo que eu sei ser capaz de ultrapassar, mas tenho medo do que possa acontecer, caso o faça.

— E o que estamos fazendo, agora? — Pergunto.

— Eu contei a Ceres tudo que ela precisava saber a respeito dos imunes e do que Fenrir nos disse — diz Kali, sem olhar para mim. Seus olhos acompanham a lista de nomes, que passa conforme Ceres raspa os dedos na mesa. — Agora, estamos pesquisando meu display. — Ela levanta o braço, do qual pende um cabo negro.

Ceres para de rolar a lista.

— Mas precisamos de algum filtro — diz, fechando a janela ao passar um dedo engordurado pela tela. — Não adianta verificarmos um a um. Você tem alvos demais e tempo de menos.

— O que vai fazer, então? — Questiono.

— Estabelecer um filtro. É coisa simples — ela diz, abrindo uma nova janela, de fundo preto e com diversas linhas de códigos se entremeando e misturando. A mercadora seleciona uma porção do código e substitui o texto por um filtro capaz de captar apenas políticos. — Pronto.

Ela volta a abrir a janela anterior, e os nomes diminuíram consideravelmente.

— Ainda não é o bastante. — Diz Kali.

Deuses e FerasOnde histórias criam vida. Descubra agora