Capítulo 58

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PARTE QUATRO

DERROCADA


Ainda é noite quando sou forçado a abrir os olhos mais uma vez.

Estão pesados. As pálpebras não parecem dispostas a serem separadas, e demora um pouco até que eu consiga abri-las e esfregar os olhos. Sinto a leve pressão de uma mão sobre meu ombro esquerdo.

— Harlan, está na hora.

Olho para a garota. Kali está completamente vestida de negro. As luvas continuam em uma jaqueta de couro sintético com corte perfeito. Ela veste uma calça muito justa preto fosca, com apenas uma faixa vertical no lado de fora das pernas em couro sintético, brilhante. Calça botas que vão até o meio da panturrilha, firmemente presas por uma fivela que um dia fora prateada, mas teve a pintura raspada. Seus cabelos descem do lado de seu rosto como cascatas. Por sobre seu ombro está sua sacola negra.

Ela está vestida para fechar o arco de alguém.

— Seu alvo está pronto?

— Ficou pronto há cerca de quinze minutos — diz ela. — Se não nos apressarmos, vamos perdê-lo. O expediente noturno dela termina em, aproximadamente, uma hora.

Concordo com a cabeça e me sento na beira da cama, me obrigando a acordar. Levanto, ainda meio tonto, e vou até os armários. Em pouco tempo saio do banheiro vestido de forma parecida à dela, e penduro minha mochila em apenas um dos ombros.

Fazemos o check-out e vestimos pesados sobretudos para encarar o frio extremo do lado de fora. Uma névoa pesada toma conta das ruas.

— Qual é o plano? — Pergunto.

Kali tira, de dentro de sua sacola, o ponto eletrônico que a vi usando no beco em que a encontrei pela primeira vez. Ela o põe na orelha, que desaparece, logo depois, tapada pelo cabelo.

— Vamos ser assessorados por Leon e Ceres — diz ela. — Leon vai nos ajudar com relação ao que vamos efetivamente fazer, com relação à imunidade. Ceres vai abrir as portas em nosso caminho e remover obstáculos, além de facilitar nossa escalada no prédio, desligando as luzes onde estivermos. Quanto mais discretos formos, melhor.

Os nossos displays brilham.

— O que é isso? — Pergunto.

— Ceres baixou a planta do edifício inteiro para que possamos ter um guia — a garota fala, enquanto caminhamos pela rua. A temperatura parece ficar cada vez mais baixa. — Vai ser útil tanto na entrada, quanto na saída. Precisamos ter um plano de fuga.

— Certo.

— Vamos trabalhar com a pior hipótese possível — Kali me olha nos olhos o tempo inteiro, ignorando o caminho à sua frente, mas sem tropeçar em nada. — A de que tenhamos de tomar providências drásticas. Se fizermos isso, as outras hipóteses serão mais fáceis de pensar rápido, quando chegar o momento.

— Qual é a pior hipótese?

A fatalista toca na tela em seu braço.

— Ficarmos encurralados dentro do escritório de Jeanine Morgan, no quinto andar, e precisarmos fugir pela janela — diz ela. — Toda a parede é feita de vidro, então teremos de atirar nos cantos e quebrá-lo.

Pisco algumas vezes, tentando compreender.

— Vamos fugir pela janela do quinto andar? — Pergunto.

Deuses e FerasOnde histórias criam vida. Descubra agora