Capítulo 65

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Começo da tarde. Núcleo de Nascimentos.


A estação de metrô fica muito próxima do Núcleo de Nascimentos.

As ruas da Zona Industrial são largas para acomodar os gigantescos caminhões que passam por elas. Suas luzes diurnas são tão fortes que podem cegar, mesmo debaixo do Sol a pino. Perto da grande muralha que delimita a cidade está a fábrica de onde cada um de nós saiu. A origem de onde todo e qualquer habitante de Dínamo.

O Núcleo de Nascimentos é um prédio de muitos andares, pintado de branco e sem janelas. Curiosamente não há qualquer som vindo do interior. Rampas saem do andar mais alto e descem até um posto de controle no nível do chão. Três chaminés altas cospem fumaça para o céu, uma fumaça branca espessa, que, vista de longe, parece se misturar às nuvens.

Ainda me recuperando do ferimento no tornozelo, fica difícil acompanhar Kali.

Ela fixa o olhar na larga porta de entrada da fábrica e vai em sua direção. Parece andar um passo à minha frente, parece estar me deixando para trás.

Eu coloco constantemente a mão no volume da arma, novamente na folga de minha calça.

A garota, por sua vez, leva a mão o tempo inteiro à nuca, para se certificar de que o colar dourado com pingente de aranha permanece lá.

E está.

Ela não fala nada, e eu não sou capaz de pensar em algo para falar. Minha mente dá voltas, tentando entender o que ela pretende, mas não chega a lugar algum. E os únicos lugares aonde minha mente é capaz de ir são extremamente sombrios e obscuros.

— Como vamos entrar? — Pergunto, ao nos aproximarmos da porta. Como no Galpão de Atualização, há uma porta menor como que incrustada na maior.

— Eu tenho acesso. Sou uma mantenedora. — Ela diz.

Suas pupilas continuam muito dilatadas, e eu tenho certeza de que não estou falando com a Kali. Estou falando com outra pessoa, uma pessoa que não possui fogo ou gelo no interior de seus olhos, apenas vazio.

O console do lado esquerdo da porta pequena se ilumina e a garota passa seu braço por ele.

A porta se abre automaticamente e nós entramos.

O que há no interior do Núcleo de Nascimentos é, ao mesmo tempo, fantástico e terrível.

À direita há cabines fechadas e, à esquerda, aventais brancos e sapatos especiais. Tudo possui uma estranha limpeza, uma aura esbranquiçada, mas obscura. O branco das paredes e do chão contrasta com as escadas e passarelas de borracha negra. Uma linha de produção enorme começa no nível do chão e sobe, ziguezagueando por toda a volta, com roldanas e equipamentos que soltam vapor de água, espiralando no ar. Há exaustores ligados no topo e cabos que interligam cada um dos postos de trabalho. Enormes máquinas movimentam-se e funcionam sem parar. Em cada um dos oito níveis, cerca de dez funcionários trabalham. Um trabalho extremamente especializado.

Kali não gasta um instante sequer olhando para o lugar.

Avança até uma mulher qualquer, vestida de modo especial, com óculos transparentes protegendo o rosto.

— Alys Taylor e Caleb Ford — diz a fatalista, levantando a arma de maneira mecanizada. — Onde estão?

— Eu não sei de nada! — Responde a mulher, nervosa.

— São políticos. Preciso saber do paradeiro deles.

Não temos políticos aqui, só eruditos! — A voz dela sai esganiçada, seus olhos se estreitando em antecipação à dor. — Eu não sei onde podem estar!

Deuses e FerasOnde histórias criam vida. Descubra agora