Capítulo 11

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Começo da manhã. Dormitório.


— Eu fui roubado.

Jayden e Mael me encaram, o segundo com crescente desconfiança.

— Roubado? — Olha em volta. O dormitório começa a se esvaziar aos poucos, ainda que algumas pessoas que trabalham à noite estejam chegando. — Eu falei desde o começo que vir para esse dormitório era uma péssima ideia–

— Fique quieto, Mael. Deixa o Harlan falar. — Jayden interrompe o namorado.

— Não foi alguém daqui — digo, e o erudito automaticamente relaxa. — Um ano atrás.

Jayden dá um sorriso de leve.

— Você descobriu o que aconteceu com o colar, então.

— Eu fui roubado pela Kali. — Respondo.

Os dois ficam me olhando por algum tempo, até que Mael cruza os braços.

— Pelo que entendi, essa garota é uma fatalista. Logo, é impossível que ela tenha roubado qualquer coisa de você — argumenta. — É terminantemente proibido fazer qualquer coisa fora do display.

— Mas estamos falando da mesma pessoa que, por matar alguém antes do tempo, causou uma quebra de fluxo e a atualização, consequentemente — eu respondo, enquanto levanto e largo em cima da cama o lençol com o qual me cobri durante a noite. — Ela jamais registrou o roubo do colar, justamente por ser ilegal. Tanto que ainda me exigem essa maldita joia em todos os dias de repasse.

Jayden concorda com a cabeça, enquanto Mael continua me avaliando com os olhos.

— Queria saber o que aconteceria se soubessem que ela me roubou ilegalmente.

Saímos do dormitório e vamos caminhando devagar pelas ruas. Choveu à noite. Tem poças espalhadas por tudo, mas o clima está apenas fresco.

— Uma atualização? — Pergunta Jayden.

— Vocês só podem estar loucos de achar que o roubo de um colar fosse causar uma atualização daquele tamanho — diz Mael, rabugento. — Com toda certeza, se a atualização teve a ver com essa garota, foi porque ela matou alguém antes do tempo, ao invés de meramente roubar um colar. Um colar roubado está longe de ser o bastante para justificar uma atualização como a que aconteceu. Nos vemos mais tarde. — Ele levanta a mão para se despedir de mim, beija Jayden e parte pela rua em outra direção, enquanto eu e meu amigo vamos ao metrô.

O vagão em que entramos está silencioso, apesar de lotado. Todos no interior permanecem quietos, cada um absorto em suas próprias ocupações – a maior parte com os olhos grudados no antebraço esquerdo ou em tablets – também chamados de "segunda tela". Eu e Jayden entramos e nos seguramos em um cano de metal que passa pelo teto. Logo, o trem parte e tudo que podemos ouvir é o som dos motores e o silvo do vapor da água que os resfria.

— E como vão os seus alvos? — Pergunto.

— Vão bem — diz Jayden, olhando para fora da janela, que mostra apenas as paredes internas do túnel do metrô. — Acho que, no final de semana, vou ao centro para roubar uma artífice que ficou obcecada com sua própria produção.

— O que tem de roubar?

— O HD dela, com todos os seus projetos e trabalhos prontos — diz ele, dando de ombros. — Ouvi dizer que é por isso que os artífices são proibidos de fazer backup de seus projetos. Tenho que roubar a coisa mais valiosa dela.

Deuses e FerasOnde histórias criam vida. Descubra agora