Capítulo 8

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Três dias depois. Depósito dos mercadores.


Há diversas maneiras de perseguir alguém e se manter incógnito. Instalar câmeras de circuito fechado e tecnologia wireless que transmitam direto para minha mesa no depósito é uma delas. Hackear o display do seu alvo é outra. Uma terceira opção é ter acesso ao chip de georreferenciamento implantado no osso, capaz de informar com precisão a posição geográfica do alvo.

Apesar de as duas últimas opções serem complexas demais para minha pouca habilidade ou recursos, os computadores de mesa do depósito servem para praticamente todos os propósitos. Os centros de monitoramento dos postos avançados de mantenedores têm câmeras espalhadas por toda a cidade, sendo possível acompanhar qualquer pedestre em seu caminho – exceto quando estão em ambientes fechados, controlados, especificamente, por alguma casta. Para isso servem as microcâmeras que instalei no outro dia, depois do treino de Kali.

Obviamente, só consigo acessar as câmeras dos mantenedores por conta da minha casta. Certamente um curandeiro ou um laborador encontrariam apenas avisos de acesso restrito. Como perseguir outras pessoas faz parte do meu trabalho, posso espionar quem eu quiser com o conforto de estar seguro dentro do depósito.

Observo as imagens projetadas na tela da câmera que foca a entrada do dormitório de meu alvo.

Uma hora depois do nascer do Sol, Kali sai de seu dormitório. Está vestida com um short jeans azul muito escuro, uma blusa decotada e um casaco branco e curto, com o zíper fechado até pouco abaixo dos seios. Ela usa fones de ouvido e mal olha para qualquer outro lado além do caminho que segue, virando à esquerda logo depois de sair pela porta.

Um pequeno mapa em outra janela me auxilia a identificar quais são as próximas câmeras que posso abrir, então tenho de fechar cada janela rapidamente e abrir outra. Se abrir a câmera errada, é provável que perca a garota em uma esquina ou em um beco qualquer. Se ela entrar em uma estação de metrô, a situação fica ainda mais complicada, pois as câmeras se limitam às estações. As internas dos vagões são restritas aos operadores do serviço de transporte, então eu precisarei checar o avanço do trem em que Kali tiver entrado e verificar se ela desce em alguma das estações mais à frente.

Felizmente, ela faz todo o seu caminho a pé.

Enquanto a maior parte das pessoas na rua anda olhando para o próprio display, interagindo remotamente com outras pessoas, ela olha para frente, desviando-se das pessoas que se encontram em seu caminho e evitando qualquer tipo de distração. Ainda assim, de certa maneira, parece que os fones de ouvido, provavelmente tocando música, servem a ela como um filtro da realidade. Como se quisesse mascarar o ambiente à sua volta.

Depois de andar por dez quadras, ela alcança um prédio vistoso da Teia, com um prisma sólido pintado na fachada.

— Banco de Dados de Dínamo. — Leio o que está escrito.

Kali aguarda por algum tempo do lado de fora, até que Leon aparece.

Coloco, eu mesmo, fones de ouvido sem fio e aumento o volume. Tento melhorar ao máximo a recepção do som, mas, mesmo com ajustes finos, as vozes ficam apagadas e baixas. Não consigo ouvir muita coisa. Espero que seja o bastante.

Depois de se cumprimentarem, eles sobem os dois pequenos lances de escadas à frente do prédio e entram.

Busco alguma maneira de ver o que ocorre do lado de dentro, em vão.

— Jayden. — Eu chamo.

Ele solta um suspiro, aparentemente irritado por ser interrompido, e vira para mim, as mãos ainda pousadas sobre a mesa à frente dele.

Deuses e FerasOnde histórias criam vida. Descubra agora