Capítulo 89

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Nós entramos atirando.

Os canos das duas armas nas mãos de Kali cospem fogo e balas na direção dos alvos, e os acertam com precisão e fúria. Na minha incapaz e praticamente inútil mão direita, a pistola teme ser mirada contra um ser humano. Acerto um braço, uma perna, um abdômen.

Quando estão todos caídos no chão, a garota avança para cada uma das pessoas que eu acertei e atira uma vez em cada cabeça.

Em menos de um minuto, está pronto.

A sala é repleta de vidro e balcões, atrás dos quais os políticos tentaram se esconder. O ataque foi muito súbito, muito repentino. Eles não tiveram tempo de se defender ou sequer de pensar em contra-atacar. Ainda assim, houve tempo para que soasse um alarme.

Ele é muito baixo, e as luzes não estão piscando.

Certamente, em algum dos setores da CMT, as luzes estão piscando.

— Veja — diz a garota, acenando com a arma na direção de uma gigantesca porta de metal. — Aquela é a saída oficial. É impossível passar por ela.

Não há qualquer tipo de sistema de check-out nela, e os computadores que encontramos no prédio são bloqueados. Apenas o operador específico pode operá-los, cada um em seu computador pessoal, com seu próprio display. Segundo Kali, a porta só é aberta após a passagem ser liberada em todos os computadores, através de uma senha complexa e mutante.

— Impossível. — Murmura.

Passamos com rapidez pelo vidro estilhaçado e pelos balcões destroçados.

Subimos para o segundo andar. Saímos para um terraço e encontramos a escada.

— Kali, o alarme ainda está tocando. — Digo.

— Eu sei — ela diz, e avança a passos largos para a escada. — Esqueça o alarme. Concentre-se em subir a escada. Nós vamos precisar fazer isso o mais rápido possível. Não há tempo. Eu vou ajudá-lo a subir, mas você precisa usar tudo o que tem para chegar ao topo. Eu sei que vai ser difícil, principalmente agora. Sei que as drogas estão o afetando, mas elas são necessárias.

Kali guarda as armas e aperta meu ombro com firmeza.

— Eu não vou deixar você cair. — Diz, séria.

Sinto que meu corpo inteiro treme, mas tento não demonstrar minha hesitação.

— Certo.

Olho para a pistola, meus dedos agarrados tão firmemente na coronha que tenho dúvidas se vou conseguir soltá-la. Mas eu o faço. E largo-a no chão.

Ela despenca de minha mão e cai como chumbo.

Me desfazer da pistola preto-fosca de Kali, de certa maneira, parece simbolizar tudo o que aconteceu no interior desses muros e tudo que eu fui forçado a fazer. Tudo que fui obrigado a acreditar ser verdade. E tudo que me disseram ser fatal. Mas já não é. Não mais.

Olho para a escada.

A subida íngreme parece muito longa.

— Nós vamos conseguir. Confie em mim. — Diz a garota.

Eu a encaro e, no fundo de seus olhos, brilha um fogo intenso. Ela tem certeza de que vamos conseguir.

Penso em beijá-la antes que seja tarde demais. Antes que alguma coisa dê errado e eu não tenha mais chance de fazê-lo. Mas o momento passa e, subitamente, estou segurando o metal gelado e com os pés no primeiro dos degraus.

Deuses e FerasOnde histórias criam vida. Descubra agora