Capítulo 46

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Quinze minutos depois. Posto avançado de mantenedores.


— O que um programador faz em um posto de mantenedores? — Pergunto.

Obviamente não se trata do mesmo posto avançado do qual roubei a nectarina nas duas últimas vezes. Há inúmeros deles espalhados pela cidade. Este é apenas mais um deles, com outros dois mantenedores em seu interior e, aparentemente, um programador, também.

— Eu não tenho ideia — diz ela. — Pelo que sei, é uma subcasta dos políticos.

— E onde os políticos costumam ficar?

— Eles atuam junto dos mantenedores, em geral — diz Kali. — Tem muitos, muitos mesmo na CMT. Os outros trabalham em outras edificações da Teia. Alguns, no Hospital Geral. Outros, no Setor de Transportes. Ou nas fábricas da Zona Industrial. Sei de alguns que trabalham fazendo a distribuição do Núcleo de Nascimentos.

Sinto um calafrio percorrer minha espinha ao pensar nisso.

— O que vamos fazer? — Pergunto.

Kali olha para a torre de vidro opaco e, então, para seu display.

— Pelo medidor de altitude, ele está no andar de baixo — diz ela, tocando na extensão e ampliando o zoom do mapa. — Os mantenedores certamente estão no segundo andar. É onde fica a central de monitoramento e todas as câmeras.

Levanto os olhos para uma delas, escondida junto de uma marquise de loja.

— Se eles estão monitorando as redondezas, vão nos ver.

Kali não parece preocupada.

— Tudo isso não passa de um panóptico — diz ela, séria. — Não há ninguém monitorando as câmeras, às vezes. Em outros momentos, há. Estão aí apenas para que achemos que estão nos monitorando o tempo inteiro.

Olho para ela, confuso, e, então, para a câmera.

— Qual é o plano? — Pergunto.

A fatalista olha para o braço esquerdo e para seu display. Então, levanta o olhar para o posto avançado.

— Eu já entrei em postos avançados com a ajuda de um amigo meu que é hacker — digo, ante à não resposta dela. — Ele hackeou o console da porta para que pudéssemos entrar sem problemas.

— O que você estava fazendo invadindo um posto avançado de mantenedores? — Pergunta ela.

Sinto estranheza.

— Eu precisava saber a respeito de você — digo. — E a única maneira para fazer isso era acessando seu display. Na época, ele era bloqueado. Precisei entrar nos registros off-line dos mantenedores, para isso. No final das contas, porém, fazer isso não adiantou nada. O que eu ainda preciso roubar não estava e ainda não está no seu relatório de bens.

— Ainda acha que tem de roubar meu colar?

Dou de ombros.

— O que mais poderia ser? Além dele você só tem roupas e armas.

A mão esquerda dela sobe para sua nuca, e ela toca, por um momento apenas, o lugar onde o colar deveria estar. Ela parece pensativa. Dentro dos olhos dela há brasas.

— Eu bloqueei o display porque não queria que você descobrisse que era meu alvo — diz ela, olhando na direção do posto dos mantenedores. — Queria garantir que você ficaria distante, por mais que eu achasse que a melhor maneira de fazer isso fosse dizendo a você que eu tenho de fechar seu arco.

Deuses e FerasOnde histórias criam vida. Descubra agora