Capítulo 50

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Pouco depois.


Alcançamos o prédio em que fica o apartamento envidraçado de Fenrir, e examinamos o entorno. Como de costume, a plataforma em frente ao primeiro andar está repleta de pessoas, olhando para dentro do apartamento do artífice. De onde estamos é impossível ver o homem.

— Vamos ficar aqui. — Digo a Kali.

Ela desce e eu estaciono a moto junto do meio-fio. Desligo o motor e desço dela, também.

— Você acha que é uma boa ideia entrar em contato com Fenrir? — Pergunto.

A garota olha para mim e me examina.

— Porque?

Dou de ombros.

— Eu estava lá quando você matou Morfeu — digo. — Ele disse alguma coisa a respeito desse artífice. Disse que você seria encaminhada para ele. Isso não significa que, de alguma forma, o que estamos fazendo já está previsto pela Teia? Quero dizer... será que, contatando um falso rebelde, não estamos sendo, também, falsos rebeldes?

Ela fica calada por alguns instantes.

— E o que podemos fazer, além disso? — Ela pergunta. — Como podemos ser rebeldes verdadeiros?

— Decepando nossos braços, talvez. — Resmungo.

Tanto eu quanto ela lançamos olhares involuntários para os braços esquerdos um do outro. Tento imaginá-la com apenas um deles, mas é difícil demais.

— Nós temos que tentar. — Ela decreta.

Atravessamos a rua movimentada, quase sendo cegados pelos faróis de led dos carros.

— Como vamos fazer isso? Tem dois guardas pessoais na entrada da porra do prédio.

Kali parece pensar. Depois, olha para mim.

— Dê-me a eletroarma.

Tiro-a da folga da calça e entrego para ela. A garota abre o compartimento da munição e conta quanta há.

— Eu achei que esse tipo de coisa não usasse munição. — Digo.

— Usa. Essas eletroarmas usam. Eles precisam vender munição, de qualquer maneira — ela diz. — Cada uma delas vem com cinco disparos. Deve ser o bastante.

Estou prestes a perguntar mais para ela quando ela anda até os dois guardas na entrada e dispara. Os fios se entrelaçam e prendem em suas peles, e eles deixam cair suas próprias armas no chão. Seus joelhos se dobram e eles desabam, salivando e tremendo, já inconscientes.

Corro até a garota. Como da última vez, o público sobre a plataforma começa a falar mais baixo. Com certeza já nos viram e muito provavelmente sabem que alguma coisa está prestes a acontecer.

Me abaixo para pegar uma das eletroarmas dos guardas caídos, mas Kali me impede.

— Se você roubar essas armas deles, seremos chamados para a CMT — diz. — Deixe aí.

Volto a me levantar.

Entramos no amplo e vazio saguão do prédio pelas portas de folhas duplas da frente, deixando que se fechem automaticamente após nossa passagem. A recepcionista do lugar – uma laboradora –, sentada atrás de um balcão, levanta uma das mãos ao nos ver.

Kali aponta a eletroarma para ela.

— Libere o elevador. Nós vamos subir.

A mulher abre a boca para falar. Mas somente aperta um botão atrás do balcão e a porta do elevador se abre.

Deuses e FerasOnde histórias criam vida. Descubra agora