Prólogo

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...Anos atrás.

Kwon Sook's P.O.V.

"Querido diário,

Pensei que voltaríamos para Seul hoje, depois de ir ao cemitério para visitar Omma e Jisoo, mas Appa desistiu da viagem. Não sei bem o que aconteceu, porque estava comprando sorvete com aquele menino insuportável, o tal de Jungkookie...

Mas, quem é Jungkookie? Ah, calma, vou te contar a história desde o início.

Eu estava sentada na grama, na frente da lápide da minha Omma, e conversava com ela, distraída. Fui atingida por uma bolada na cabeça, e caí para frente. Levantei-me de vez e olhei para trás, procurando o causador daquilo, e um garoto correu na minha direção. Bom, preciso confessar que ele era até bonitinho, sabe? Com aquele cabelinho preto e aqueles dentinhos. Fiquei até vermelha no começo, mas nem tive tempo de me iludir por ele.

Sem jeito, peguei a bola para entregá-la e estendi para o menino, que a tomou de mim, e disse:

— Ei! Tira as mãos da minha bola!

— Quê? — Abri a boca tão ofendida, porque ele não me pediu desculpa por ter me machucado, que joguei a bola dele no chão e gemi. — Seu mal-educado!

— Aish. — Ele pegou a bola e se virou para ir embora. Fiquei ainda mais ofendida e corri até ele e o empurrei. O menino caiu para frente e sua bola rolou pela grama, batendo em uma roseira cheia de espinhos, furando. — AISH! — Ele se virou para mim com muita raiva, e pulou até mim, puxando meu cabelo.

Tentei me defender, mas aquele menino era muito forte.

— Jungkook! — Nós ouvimos. O menino pulou para longe de mim, sobressaltado. Diário, ele parecia com muito medo da moça que se aproximou de nós. Ela se virou para mim e me ergueu, passando as mãos por meus cabelos, depois olhou para o menino. — Não faça isso, Jungkook! É errado!

— Mas, ela furou minha bola!

— Você bateu com a bola em mim e não pediu desculpa!

— Você nem devia estar no meu caminho para começar!

— AISH! — Rebati, com a voz muito fina, o que fez o menino rir. — Eu estava conversando com a minha Omma!

— Não tinha ninguém com você. — Ele caçoou. — Ela é doidinha, Omma. — O menino balançou a cabeça, fitando a moça.

— Tinha sim, é que ela está embaixo da terra. — Apontei para baixo, e a moça cobriu a boca com a mão.

— Peça desculpa, Jungkook.

— O que está acontecendo? — Appa caminhou pela grama com uma expressão intrigada. — Arrumando problemas, Sook?

— Não, Appa!

— Sr. Kwon, olá. — A moça fez uma reverência, como se conhecesse Appa. Ele a olhou de forma estranha, e os dois começaram a conversar. Em pouco tempo os dois falavam como se fossem bons amigos.

Eu e o menino, que se chama Jungkook, nos empurramos algumas vezes, e ele puxou meu cabelo de novo. A moça fitou o Jungkook, como se quisesse brigar, mas Appa se virou para nós e tirou a carteira do bolso.

— Ei, Jungkook, gosta de sorvete? — Ele perguntou para o menino, que deu de ombros. A moça bateu no ombro dele.

Ele assentiu para Appa, mais veemente.

— Sim, senhor. — Respondeu, e me olhou de lado.

— Ótimo. Poderia comprar um ali fora? Eu vi que tem uma sorveteria, e a Sook me pediu para comprar para ela, mas ainda não fiz isso. Poderia fazer esse favor para mim?

— Mas, Appa, eu não...

— Senhor, aqui tem muito dinheiro. — O garoto, Jungkookie, analisou as cédulas, e Appa sorriu.

— Pedi um favor, pode ficar com o troco. — Ele fez um aceno com a mão, para que Jungkookie fosse comprar o sorvete. Ele sorriu e contou o dinheiro. Parecia fazer as contas de seus lucros, e fez uma reverência para Appa.

— Obrigado, senhor. — Ele girou os pés para ir comprar.

— Leve a Sook com você! — Meu Appa gritou, e ele se virou para mim. Uma parte da alegria dele acabou, e ele fez um sinal para que eu o acompanhasse.

Quando voltamos, tudo já estava arranjado. Eu e Appa nos despedimos da moça e do Jungkookie, nós trocamos um olhar de desafio e raiva, e no caminho de volta para casa Appa me disse que ficaríamos em Juggi até o fim de semana. O que será que aconteceu nessa conversa do meu Appa com aquela moça?

Obs.: Deus, não permita que eu encontre esse menino, o Jungkook, de novo. Ele é bonitinho, mas é muito chato."

***

Nos dias atuais.

Deixo o cemitério e entro no carro.

Peço ao motorista para me levar para casa. Assento-me no banco de trás e coloco os óculos escuros, baixando a cabeça para encarar meus dedos no colo. Torço um folder de publicidade que recebi mais cedo, quando paramos em um semáforo no centro de Juggi, e suspiro no auge do meu cansaço psicológico. O caminho deveria ser mais longo, porque não quero chegar tão logo, mas o casarão dos Kwon não é tão longe do cemitério de Juggi quanto eu gostaria.

O sedã preto para em frente ao portal de grades pretas e eu fito os muros que se perdem na vista da propriedade. Nossa entrada é liberada e entramos no lugar pela mesma estradinha de terra que sempre andei por toda a minha vida. Não me sinto em casa, esse não é o meu lar. Não pertenço a esse lugar. Ele parece uma prisão, é sinônimo de isolamento, perda, dor. O carro para na frente do casarão, e eu desço com uma mala pequena e colorida em uma das mãos.

Appa não está nos degraus da escadaria, mas a Srta. Jeon está parada com uma mão no corrimão e a outra se agita em um aceno.

— Sook!!! — Ela grita meu nome. Forço um sorriso. Estou feliz por vê-la, mas infeliz por todo o resto. — Nossa, são muitas malas! — Exclama, e desce até mim, me abraçando. — Querida, espere aqui, vou chamar seu irmão pra te ajudar com isso.

— Ô, Srta. Jeon, não precisa se preocupar. Sehun me ajuda com as malas, não é? — Aponto para o motorista, que assente silencioso.

— De forma alguma. Ele dirigiu por muito tempo. Deixe as malas aí, e vá tomar um café, Sehun. — Ela dispensa o motorista, que a obedece instantaneamente, e entendo que ele está realmente cansado. A Srta. Jeon corre pela escada e entra em casa, e eu a sigo lentamente, porque minhas pernas pesam com o cansaço da viagem.

A Srta. Jeon some das minhas vistas e, em seu lugar, surge a figura do meu futuro meio-irmão, Jeon Jungkook.

Ele está descalço e seus cabelos estão bagunçados. Veste apenas uma calça de moletom cinza e nenhuma camisa, deixando seu abdome à mostra, e come uma cenoura, caminhando até a porta da casa, preguiçosamente. Há aquele ar de prepotência e sarcasmo em seu modo de andar e de olhar para mim. Ele passa pelas portas e atravessa a varanda, me entregando o pedaço de cenoura que comia e passando uma mão pela outra, como se as limpasse. Lembro-me do dia em que nos conhecemos.

Eu rezei tanto para nunca mais vê-lo, e agora vou morar com ele.

Que destino cruel.

— Oi, Monstrinha. — Fala quando me dá as costas, descendo as escadas. Ele pega todas as minhas malas sem dificuldade, e volta a subir as escadas. — Quem morreu? — Pergunta ao passar por mim, sem me olhar, com aquele tom de deboche.

— Não morreu ninguém ainda, mas se continuar com isso, vai morrer gente aqui hoje. — Jogo o pedaço de cenoura para longe e o sigo de perto, ouvindo a risada sonora e debochada de Jungkook.

Reviro os olhos. Tem como esse dia ficar pior?

***

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora