Kwon Sook's P.O.V.
As memórias me invadem quando ultrapasso as portas do casarão. Tiro os óculos escuros e percorro o piso de mármore do vestíbulo imersa em lembranças que um dia foram felizes e que se tornaram tristes depois da partida de Omma e Jisoo, minha irmã mais velha. Ando devagar e contemplo os corredores, as escadas duplas e as colunas que sustentam o andar superior.
Tudo aqui é solitário, frio, morto.
— Sook, eu sei que você é lerda, mas será que dá pra vir logo? — Jungkook reclama, me fazendo lembrar que ele existe, e já está no alto da escada.
— Onde está aquele bom humor com que me recebeu? — Ironizo, e ele suspira.
— Olha, já pensei em algumas hipóteses pra, entre todas as pessoas do mundo, eu ter sido obrigado a morar com você. Só posso ter cometido um pecado muito grande, mas eu juro que nunca matei ninguém. — Resmunga.
Ele termina de subir os degraus sem me esperar.
— Ha Ha Ha, muito engraçado. — Tenho que gritar para que ele ouça. Corro pela escada para segui-lo de perto, e nós atravessamos um dos corredores do andar superior.
As paredes são decoradas com papel de parede carmesim. O teto e o chão são revestidos com madeira e as janelas estão fechadas, cobertas por cortinas pesadas. O cheiro é de naftalina e mofo, e há uma camada cinzenta de poeira nos quadros e aparadores com castiçais e vasos. Tudo aqui parece intocado há bastante tempo, e me pergunto porque a casa não está limpa, se já estamos aqui para habitá-la.
— Por que tudo está tão sujo? — Indago, caminhando alguns passos atrás dele.
— Não foi só você que acabou de chegar. — Jungkook debocha. — Os empregados ainda não conseguiram faxinar a casa toda. Não está óbvio?
— Ah... e onde é seu quarto? E por que... — Sou interrompida.
— Não.
— Mas eu nem...
— Não, monstrinha. Já estou carregando suas malas, não encha meu saco. — Ele espirra e funga.
Seguimos. Jungkook tropeça em um tapete e quase derruba minhas malas, mas as equilibra nos braços de músculos saltados. Uma gota grossa de suor desce por sua nuca e rola pela linha central das costas largas, musculosas e bem delineadas. Eu sempre o achei bonitinho, mas nunca reparei nele assim... Jungkook sempre foi tão magrelo... Ele está malhando? Porque...
Balanço a cabeça para afastar esse pensamento.
— Ei, cuidado com minhas malas! Tem coisas frágeis, aí!
Jungkook para em frente a uma porta e se vira para mim. As gotas de suor se acumulam em sua testa, rolando pelas laterais do rosto, banhando seu maxilar e pescoço. Ele sorri simpático para mim, e eu retribuo, distraída pelo suor em seu corpo. Ouço um baque pesado no chão, e a poeira sobe, espiralando no ar. Dou um salto para trás e vejo minhas malas espalhadas no piso. Abro a boca e puxo o ar, tossindo com a poeira, antes de fitar Jungkook, que mantém o sorriso, agora dissimulado.
— Ops. Escorregou. Desculpa. — Ele passa por mim, batendo o braço no meu ombro de propósito, e eu cambaleio para o lado.
— GRRRR! — Fecho os punhos. — Eu te odeio!
— Também te odeio. Finalmente concordamos em alguma coisa. — Jungkook ironiza, de costas para mim, erguendo as mãos no ar. — Uhul. — Ele desaparece. Ouço o eco de seus passos na escada, cada vez mais longe.
— Aish, Jungdiota. — Respondo para o nada e entro no quarto.
Se o lado de fora está escuro, sujo, cheio de casas de aranha e poeira, o interior desse cômodo é impecável. As paredes são brancas, assim como as roupas de cama, os armários de livros e a escrivaninha. As duas janelas estão abertas, assim como as portas duplas da varanda, e arejam o lugar. Esse era meu quarto quando eu era criança, antes de me mudar para Seul. Suspiro e arrasto as malas para dentro, sem desfazê-las ainda. Corro até a cama e me deito, tirando os tênis e sacando o celular do bolso.

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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...