[24] Acordo.

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Kwon Sook's P.O.V.

Os relâmpagos clareiam o céu nublado. Gotas da chuva batem no para-brisa e o desembaçador limpa o vidro suado. O ar-condicionado manda golfadas frias no ambiente fechado e resfria meu uniforme úmido, meus pés encharcados e os bancos do carro. À nossa frente, faróis de freio se amontoam em um engarrafamento. O tempo custa a passar e nos movemos poucos metros pela avenida.

Encolho-me e abraço as mochilas em meu colo. Encosto o queixo na alça de uma delas e dedilho minha fita vermelha, que ainda pende no zíper da de Jungkook. Entrelaço-a aos dedos e me distraio com o toque suave do cetim. A tempestade ruge com suas rajadas de vento entre os prédios e as buzinas dos carros se avolumam no trânsito inoperante. Penso no que escutei nessa manhã.

Sou Ômega?

Por isso meu corpo muda e meu humor oscila? Por isso estou tão diferente e não consigo me controlar? Sou mesmo parte perdida de uma subespécie cuja principal característica é a submissão? Sou fruto de uma mutação genética que fragiliza o corpo e me condena a uma vida curta? Por que? Por que isso está acontecendo comigo?

Fecho os olhos. Desejo que o escuro da visão purifique a sensação lúgubre e me acalente no vazio. Sinto-me perdida. Sei que os meninos estão comigo e podem me oferecer ajuda. Mas, a solidão me entristece, como quando me culpava por respirar sem Omma e Jisoo. A voz de Seokjin sussurra entre imagens ensanguentadas, que afloram em minha mente.

"Jisoo devia saber [...] Ela era a maior estudiosa do assunto que eu conheci. Ela sabia tudo sobre A.B.O. Ela era Beta."

Se sua intenção era me proteger, Jisoo me desarmou. Ela era meu exemplo, minha heroína, a pessoa em quem eu confiava cegamente. Não éramos apenas irmãs, e sim melhores amigas. Compartilhávamos tudo. Abrir meu coração e minha alma para ela sempre me pareceu certo, por isso nunca lhe ocultei qualquer segredo. Pensei que a recíproca era verdadeira... Sinto-me tola. De repente, sempre que ouço seu nome, é atrelado a algo que eu... Não sabia. Isso me atormenta. É como se não fosse minha irmã, mas uma desconhecida cheia de segredos partilhados com toda sorte de estranhos, exceto comigo.

E a pior dúvida que me corrói agora é: Será que Jisoo escondia algo além disso?

— Aish, Monstrinha... — O timbre agradável de Jungkook acaricia minha audição e me emerge do conflito interno. Percebo um vinco receoso em sua testa e seu lábio inferior se entorta para um lado. — Seu nariz está vermelho. — As mãos abandonam o volante e ele esfrega os próprios olhos. — Não precisa chorar...

— Não estou chorando, só pensando. — Garanto com uma firmeza aparente, mas sou apenas dúvidas. Inflo os pulmões e sorrio. — Estou bem. — Minto e não me envergonho. Inúmeras foram as vezes que me calei para não expor minha fragilidade.

— Não parece bem.

— Estou tão bem quanto poderia estar. Acabei de descobrir que possuo uma mutação genética que encurta minha vida, me obriga a fazer coisas que não quero, controla meus instintos, e me submete às pessoas. Também descobri que aparentemente esse gene é hereditário, por isso minha irmã, uma estudiosa profunda do assunto, devia saber algo e nunca me disse. Sem esquecer que, se eu for mesmo Ômega, preciso perder a virgindade... obrigatoriamente. Eu não tenho um namorado, interesse sexual em ninguém, e ainda tem essa tal lista, que...

— Não leve os planos de Hoseok a sério. — Jungkook se exaspera. — Fazer uma lista com o nome de todos os rapazes de Juggi e riscar os que não interessam, pra escolher um parceiro por eliminação? Essa é a ideia mais maluca que ele já teve.

— Além de ser absolutamente romântica, né? — Retruco com amargura e sarcasmo. A resposta de Jungkook é uma risada. — Enfim, estou bem. Podemos ir a um bar pra beber umas cinco garrafas de Soju? — Ele meneia a cabeça veemente, com um semblante bem-humorado.

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora