Jeon Jungkook's P.O.V.
Lisa e eu tomamos rumos opostos no corredor.
Ela se tranca no quarto de Yoongi para me dar mais privacidade e eu caminho lentamente até a sala, até ele. Não me apresso, porque quero controlar minhas emoções antes de bater de frente com esse homem outra vez. É impossível. Minhas mãos começam a tremer. Inclino a cabeça em um gesto rápido, me sentindo desafiado, e meu estômago se embrulha. Travo o maxilar, formando sulcos nas bochechas.
Entro em seu campo de visão.
A cada passo, sinto o peso de sua presença marcante. O odor dominante e disperso, a calma perturbadora, a postura de realeza, o ar natural de superioridade sem uma gota de arrogância. É como se ele fosse realmente um rei. E está parado à porta do apartamento, do lado de fora, à espera de um convite para entrar. Ele me olha com a mesma devoção da primeira vez em que me viu. Fascinado.
Isso poderia me comover, porque, de uma forma estranha, sinto que ele gosta de mim de verdade, mas só me irrita. Aliás, tudo nesse homem me irrita. Seus modos educados, os cabelos penteados, o terno impecável, a expressão sempre agradável. Sobretudo, o que me irrita nele é reconhecer a mim mesmo em seu rosto, em cada traço de sua figura. Somos iguais como a maldita lembrança genética de um laço.
Um laço que ele nunca quis amarrar.
É por isso que não consigo acreditar no quanto o odeio.
E é o estigma desse ódio que fecha meu coração para sua investida tosca de aproximação.
É com esse ódio que ando até a soleira da porta e o encaro, cruzando os braços sem cumprimentá-lo.
— Se eu bem me lembro, te mandei ir embora na última vez que a gente se viu, não? — Pergunto com uma nota de sarcasmo. Seu olhar fascinado vacila, como se ele acordasse de um devaneio. É óbvio que nunca ninguém tratou o "rei dos Alfas" com tanta grosseria, mas ele não me repreende pela petulância. E até sua passividade comigo me irrita. — Mas, não estou surpreso. Na verdade que já sabia que estava aqui. Vocês, "adultos", não são os únicos que sabem esconder informações.
Enfrento-o sem medo ou respeito, e nós trocamos um novo olhar.
Franzimos o nariz da mesma maneira, como se fôssemos espelhos um do outro.
O homem mexe os ombros, desconfortável, e enfia as mãos nos bolsos da calça alinhada.
— Sabia que eu estava aqui, à sua espera?
Como assim, estava à minha espera?
O infeliz tem mesmo me vigiado de todos os lados.
— Ah, bom saber que sua conspiração pra me vigiar estava tão adiantada, a ponto de saber que seria pra cá que eu viria, caso saísse de casa. Mas, eu quis dizer que sabia que você não tinha ido embora de Juggi. — Falo, lembrando do recado que o lobo de Taehyung me deu no primeiro dia de lua cheia. — Os lobos sabem quando o mais forte da Alcateia se aproxima. — Arqueio a sobrancelha. — Foi visitar Omma, também? — Cutuco, mas não preciso esperar por uma resposta, porque está transparente em seu rosto.
Ele a viu.
— Eu...
— Mais uma vez, não estou surpreso.
É tudo o que digo.
Penso em como Omma se sentiu ao vê-lo outra vez.
O homem toma um fôlego profundo e se prepara para explicar.
— Filho, eu...
— Acho que já pedi pra não me chamar de filho. — Falo entre os dentes, com ironia e falsa calma. — Você é muito bom em uma coisa, sabe? — Estreito o olhar e ele ensaia uma expressão mais leve. — Quebrar promessas. — O sorriso se desmancha antes de ganhar seus lábios e ele baixa a cabeça. Mesmo assim, vejo a tortura em seu rosto. Lembro-me dos anos em que eu esperei por vê-lo, para não amenizar minha irritação. — Sabe o que é pior? Nunca me deu uma prova de que eu podia confiar em você, e quer que eu confie.
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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...