II.
Jeon Jungkook's P.O.V.
— Eu te escuto, Jiji...
Pelo espaço de uma respiração, o tempo para.
É a mera batida falha de um coração. Um pestanejar de olhos.
Tudo desmorona.
O ar ao redor de seu corpo nos sopra para longe e nos arremessa em cantos opostos da varanda do casarão. Escorrego e colido contra uma parede. Meu corpo dói e eu jogo as mãos no piso frio para me levantar em alerta. No momento em que procuro-a com o olhar confuso, o resto de calma se esvai. O que vejo é assustador, belo e inacreditável, mesmo para mim, que pensava já não conseguir me surpreender com mais nada.
Seus cabelos negros e lisos pairam acima dos ombros e serpenteiam, suspensas no ar. Os olhos se tornam globos brancos, as pupilas e íris somem. Os tecidos vaporosos de seu vestido oscilam entre as pernas esguias e seus pés pálidos quase deixam de tocar o chão. Uma aura luminosa circunda os contornos de seu corpo e se desprende dela. Uma redoma de energia viva e pulsante encobre o ar ao seu redor, com arremedos de relâmpagos que a iluminam até sumirem.
Suas mãos soltam o papel de carta amassado, que flutua calmamente até repousar sobre o chão.
Pupilas e íris ressurgem no globos oculares brancos e sua postura se enrijece. Seus lábios se entreabrem como se uma força exterior se impusesse em sua boca e ela para de piscar e respirar. Tento mover-me, me aproximar para conter o que quer que a ameace, mas não consigo me mexer. Algo pressiona minha garganta, na altura das cordas vocais, e eu ergo o queixo com a boca aberta. Os olhos dela se esbugalham, seus braços se erguem no ar.
Ela desfalece.
Tomba sobre o chão como um peso morto.
O aperto sobrenatural em minha garganta se desmancha e eu corro. Avanço pelo piso e me ajoelho ao seu lado. Tomo sua nuca e a parte posterior de suas pernas entre meus braços, aninhando-a em meu colo. Meu peito arfante estremece e minhas mãos suam. Meus olhos escaneiam seu rosto, enquanto afasto algumas mechas de cabelo de seu rosto. Confiro se ela respira, abro suas pálpebras para ver a luz em seus olhos e verifico seu pulso. Ela parece tão viva quanto eu, mas desacordada.
Sook está fria como uma pedra.
Aperto-a contra mim, trêmulo.
Ergo o olhar para Yoongi, cujos olhos são negros como obsidianas, em uma postura lívida. Ventila os pulmões com rapidez e capta meu olhar como se despertasse de um devaneio que o distancia da realidade. A angústia em meu semblante parece comovê-lo e ele se aproxima como pode. Rasteja pelo piso da varanda, para ao meu lado e fita a Monstrinha. Assim como fiz, ele confere o pulso pela artéria do pescoço e encosta o dedo indicador em suas narinas para sentir os eflúvios de sua respiração.
— O pulso parece normal. Ela está respirando, mas está fria... Hyung, o que está acontecendo?
— Fique calmo, Jungkook. Não adianta se desesperar. Vou falar com Jin.
— O especialista em Ômegas não é o Namjoon?
— Sim, mas o especialista em magia é o Seokjin. — Retruca, taciturno. É como se sua frase fosse suficiente para interpretar a natureza do fenômeno que acometeu Sook. Ele retira o celular do bolso do jeans e abre o aplicativo de mensagens.
Desvio minha atenção para ela, que continua desacordada e serena em meus braços. Pressiono seu corpo contra o meu, na esperança de aquecê-la, apesar de ela ainda ser gélida como um cadáver. Travo os dentes e sinto minhas têmporas latejarem. Lembro-me da história macabra sobre a essência dos olhos de Yoongi e engulo em seco. A cada segundo que passa, sinto-me na iminência de perdê-la e compreendo um significado novo no sentimento que alimento por ela.
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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...