Kwon Sook's P.O.V.
Um plano só é perfeito quando a execução é impecável.
Eu sei.
Por isso, desde que Jungkook saiu de casa alguns dias atrás, exercito a paciência. Calculo meus passos, me concentro, respiro fundo e sigo em frente. Mantenho o plano. Nos momentos em que estou prestes a enlouquecer e desistir, abro as memórias para lembrar de cada momento de sofrimento, luto e solidão. Cada ferida me transformou em quem eu sou.
É nessas cicatrizes que vou encontrar minha redenção. Não vou desistir. Nos piores momentos da minha vida, não vivi apenas tristeza, mas também aprendizado. Descobri que sou forte o bastante para superar qualquer obstáculo. Sou capaz, eu consigo. É assim que engulo as lágrimas, ergo a cabeça e continuo. Eu posso vencer. Não quero só me salvar, quero acabar com tudo o que me faz mal.
Vou acabar com os caçadores.
Devo isso à criança que chorou abraçada aos corpos da mãe e da irmã. Devo isso a todas as bruxas que foram caçadas, subjugadas e mortas. Devo isso a cada ser humano que perdeu seu coração apenas por ser diferente. Acima de tudo, devo isso a Wang Juran, uma mulher que foi morta de todas as formas possíveis e nunca teve o direito de ser feliz. Não importa o preço, estou disposta a pagar.
Se eu precisar me sacrificar no fim, guardarei meus pulsos para isso. Se a vida de todos depender da minha, está feito. Nunca mais uma bruxa sofrerá ou morrerá por ser quem é. Com essa coragem, mantenho o plano, a postura e a etiqueta de uma moça que ocupa minha posição na sociedade, com o peso e o poder do meu sobrenome. Lembro-me da época em que eu realmente era essa pessoa e ajo.
Fico quieta, silenciosa e submissa. Obedeço. Só abro a boca para falar de futilidades egoístas. Permito que me vigiem. Appa e sua legião de guardas seguem cada passo que eu dou em casa, na rua, na escola. 24 horas por dia. Isso acaba com minha liberdade, mas o pior é que me afasta ainda mais de Jungkook. Vejo-o de relance nos corredores, refeitório e no estacionamento da escola.
Nem nos cumprimentamos. Não podemos nos dar o luxo de tentar nos encontrar em segredo, porque poderíamos ser pegos. Isso aumenta minha saudade, me machuca. Sinto falta de Jeon Jungkook. E não sinto falta apenas do corpo, do sorriso, do calor, do cheiro e do beijo. Sinto falta da voz, das conversas e até das piadinhas infames que ele faz para me tirar da melancolia.
Sinto falta de como ele acaricia meu cabelo e de sua presença na minha cama, guardando meus sonhos e afastando os pesadelos. Sinto falta da força que ele me dá, me dizendo que eu sou capaz para que eu acredite que realmente sou. Sinto falta de seus olhos nos meus, de seu amor silencioso, da admiração que sei que ele sente. Eu também sinto e o admiro da mesma forma.
Nós crescemos tanto durante todo esse tempo.
— Você é patética. — A voz me tira dos pensamentos.
Pestanejo e ergo o olhar do caderno em que desenho um par de olhos. Estou na sala de aula. O professor de história se despede da turma. Ele abre a porta e sai da classe. Vejo um dos seguranças que tem guardado a sala do segundo ano há dias ao lado da porta, no corredor. Então, volto o olhar para Tzuyu, que está sentada na cadeira à frente da minha, com um sorrisinho ácido.
Reviro os olhos e pressiono o lápis no papel.
Sem tempo, irmão.
— Não vai me responder? — Ela insiste. Faço riscos finos para criar uma sombra abaixo da pálpebra inferior do desenho. — Onde está aquela arrogância que você vive arrotando por aí, riquinha? Agora que o Jungkook te deu um pé na bunda, ela acabou? Ai...

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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...