[04] Bêbada

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Kwon Sook's P.O.V.

A sensação que me invade é sobrenatural.

Descubro quando cambaleio pelo corredor, me segurando nas paredes para não cair. Não há outra explicação. Meus joelhos estão fracos, minha respiração ecoa dentro da cabeça, minha garganta arde, pulsando. Alcanço a sala de estar com a visão turva. Tento expulsar a cena que vi e sua reação em mim, mas não consigo. Nunca agi assim antes. Nunca espiei a intimidade de ninguém. Nunca senti esse tipo de arrepio.

Nunca nem me deixei seduzir por ninguém.

Vagueio por entre desconhecidos, esbarrando em alguns pelo caminho. Acho a cozinha, um cômodo amplo e repleto de pessoas com copos e garrafas nas mãos. A música é abafada, pesada e controla o ritmo com que todos se movem. Sobre um balcão, há diversos tipos de bebida quente, barris de cerveja e uma caixa com algumas garrafas de Soju. Sem pensar duas vezes, saco uma das garrafas e volto para a sala. A brisa fria que entra por uma porta aberta me convida para a área de lazer privativa e quase corro até lá.

Vacilo alguns passos no jardim. É um espaço gramado e bem iluminado, com uma piscina -que ninguém utiliza por causa do frio- e algumas espreguiçadeiras. Jogo meu peso contra uma delas, sentando. Abro a garrafa e o cheiro de álcool faz meu estômago revirar.

Bebo um gole.

Minha garganta arde ao recebê-lo e eu fecho os olhos. A expressão de prazer de Jungkook, pendendo a cabeça para trás, atormenta minha visão. Bebo mais um gole. Lembro-me de seus dentes se arrastando pelo lábio inferior, úmido e rosado. Bebo mais. O gemido animalesco que arranhou sua garganta reverbera em mim. Bebo mais doses, em uma frequência perigosa.

Não percebo o momento em que me entorpeço, mas as memórias já não me atormentam. Deito-me na espreguiçadeira, sentindo o vento frio chicotear minhas pernas. Bato um pé no outro, me encolhendo. Tento beber mais, mas nada sai da garrafa. Confiro a quantidade, e vejo que ela está vazia. Rio, débil, e bato a mão na coxa. Meus dedos formigam e minha cabeça tonteia, me sinto mais leve.

— Você bebeu essa garrafa inteira sozinha? — A pergunta de Yoongi é curiosa e surpresa. Minhas pálpebras não me obedecem quando tento abrir os olhos. — Bebeu mesmo?

— Em minha... Defesa, oppa... Eu precisei. — Ergo o dedo indicador. Sinto o peso ao meu lado e sei que ele se senta, e toma a garrafa da minha mão. Dessa vez consigo abrir os olhos. — Vai me trazer mais u... — Os cabelos de Yoongi estão grudados na testa e o suor escorre por suas têmporas. Os lábios dele estão mais avermelhados e sua camisa está amarrotada. Há uma marca arroxeada em seu pescoço pálido. — Estava pegando alguém? — Tento erguer o corpo, mas volto a deitar. Yoongi estala o pescoço, sem responder. — Vocês são tooooodos iguais. — Reviro os olhos longamente, fixando-os no céu noturno e nublado.

É impressão minha, ou a realidade está mesmo em câmera lenta?

— Vocês, quem?

— Esqueça, Oppa. — Abano a mão no ar, mas ela bate acidentalmente no braço dele.

— Por que está enchendo a cara desse jeito, Sook?

— Essa é fácil... minha vida é uma merda.

— Deve ser mesmo. — Retruca.

— Aish... — Murmuro amargurada.

Sinto sua aproximação.

— Sook-ah, você tem tudo. Tem casa, comida, não dorme ao relento, no frio. Olhe pra você. É perfeita, tem os dois braços, pernas, pés, mãos, dedos. Seu cabelo está aí. Você enxerga, fala, escuta, sente, saboreia... Você respira. Está viva. E ainda tem a sorte de ser muito bonita. — Ele se inclina sobre mim e passa o polegar sobre minha testa. — Você tem uma família que gosta de você, tem amigos. Pode não ter mais sua mãe e... e... a... Jisoo. E eu te entendo, elas são insubstituíveis. Mas, a vida foi tão boa com você, que te deu a Srta. Jeon, que é uma boa pessoa, e o Jungkook, que é um novo irmão.

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora