[23] Confissões.

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Jeon Jungkook's P.O.V.

Dias de chuva são meus prediletos.

O sol se esconde entre as nuvens escuras e o dia se torna branco. Os odores de grama e orvalho camuflam os cheiros na sala de aula. Isso me traz uma sensação nostálgica. Contemplo a teia de relâmpagos através da janela. Gotas de chuva escorrem pela superfície de vidro. A trovoada estremece a escola e abafa a voz do professor que nos entrega uma atividade do livro e se senta atrás do birô.

Resolvo uma questão com Jimin e as luminárias estalam em curto circuito. Elas se apagam.

Há um momento silencioso.

Um trovejar monstruoso ressoa lá fora.

As luzes de emergência se acendem e a sala explode em estardalhaço. Alguns, mais medrosos, gritam. Outros querem abandonar a sala. O professor impõe sua autoridade, nos aquieta e inicia o procedimento anti-desastres. Evacuamos a sala em fila, com nossos pertences. Deixamos o primeiro andar depois das turmas de primeiros e segundos anos, e seguimos para a quadra coberta do pátio, que está lotada.

A diretora entra, acompanhada do inspetor, e para à nossa frente.

Cumprimentamos a mulher em sinal de respeito e ela começa um pronunciamento em seu megafone.

— Todos me ouvem? — O timbre cristalino soa alto, abafado pela chuva. — Bom dia, alunos. Lamentamos informar que a chuva danificou a fiação central que alimenta a escola e o gerador queimou. Não há energia no prédio principal, e não podemos consertar enquanto a chuva não passar, por causa dos riscos de novos curtos circuitos e condução de energia na água. A coordenação já está avisando aos pais. As aulas do ensino médio estão suspensas até segunda ordem. Vocês estão liberados. Tenham um bom dia.

Ela desliga o megafone e gesticula para que o inspetor abra o guarda-chuva. A diretora nos deixa e os alunos comemoram sua liberdade antecipada. Amontoam-se nas portas principais e nas saídas de emergência da quadra.

— Me dá uma carona? — Jimin bate as costas da mão em meu peito.

— Dou. Tenho que passar na livraria do Jin com a Sook antes. Quer vir?

— Hm... É sobre aquela história de ela ser Ômega?

— É...

— Já vai ser uma conversa bem constrangedora só com o Namjoon e o Jin... — Jimin faz uma careta. — Não quero atrapalhar. Tadinha, ela deve estar mal, né?

— Ela não gosta de mostrar que tá mal. — Faço uma careta. — Vou procurá-la. A gente se vê mais tarde?

— Tá. Podíamos comer japchae no Heung's, né? A filha da Sra. Heung sempre me olha quando almoço lá. Acho que dá pra dar aquela afiadas nos dentes... — Jimin ri e seus olhos se transformam em riscos maliciosamente inocentes.

— Você não tem jeito.

— Ah... Ela quer, eu quero, nós queremos. Por que não?

— Tá. Então, te mando mensagem. — Despeço-me e esquadrinho a quadra.

Os cheiros se confundem na quadra lotada, no entanto caço a Monstrinha entre as meninas fardadas. O aroma de baunilha e caramelo é marcante e me cativaria em qualquer lugar. Rastreio-a com facilidade e quase me tranquilizo, exceto pelo outro odor que farejo. Meu instinto predador se apodera da consciência e eu esbarro em alguns alunos. Persigo o rastro de tabaco e couro que Yugyeom exala.

Encontro-os em um canto da quadra. Sook sorri educadamente e tenta se despedir, mas Yugyeom ergue um braço, na tentativa de impedi-la. Não chega a tocá-la, mas bloqueia sua passagem. Estalo o pescoço em um tique nervoso. Ela sabe se defender sozinha. Penso. Se eu pudesse, afundaria a cara desse filho da mãe. Ele toca o topo dos cabelos dela e retira uma folha que jazia entre os fios escuros.

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora