[32] Euforia.

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*Euforia.: S.f. Do grego Euphoria. Estado que se caracteriza pelo aparecimento de alegria, otimismo e ânimo, mas que não corresponde à realidade da vida da pessoa que diz experimentá-los.

Kwon Sook's P.O.V.

Um incômodo, que não é físico, se instala em meu interior.

Não sei o que é pior, relembrar meu maior trauma para expô-lo em voz alta, ou saber que sou o próximo alvo de um crime bárbaro. Tenho duas opções: me desesperar e chorar, porque essa história me deu cicatrizes eternas, destruiu minha infância e ainda me atormenta, ou me erguer e lutar não somente por minha vida, mas para extinguir esse mal que me rodeia.

Decido não me angustiar e tomo coragem.

Não quero me vingar, mas diante da possibilidade de descobrir quem ele é e talvez impedir que ele destrua mais vidas, não posso me acovardar. Não posso usar medos e traumas como desculpas para permanecer inerte, porque isso é sintoma de fraqueza e eu já fui fraca demais. Inspirada pelas atitudes de uma menina destemida, a protagonista do diário que leio, decido.

— O que sabe? — Pergunto a Jungkook, que agora está deitado ao meu lado na cama, com sua presença sólida, familiar.

— Alguém as matou e você as encontrou.

— É...

O teto forma imagens de lembranças que nunca compartilhei com ninguém, que trancafiei no fundo da memória, para nunca mais abrir. Pensei que exumá-las à essa altura seria mais fácil, no entanto meu corpo se encolhe em dor. Provo o sabor acre de feridas que nunca se fecharam. Meu maxilar se trava e me impede de falar. Espremo a pele perto dos olhos, do nariz, das bochechas.

Sinto o movimento no colchão e Jungkook me segura pelos ombros, me abraça. Minha cabeça descansa em seu peito. Ouço sua frequência cardíaca ritmada e inspiro o ar com as notas amadeiradas de seu perfume na camisa. Toco-o para ter certeza de que ele é real. Seu peito vibra contra meu tato. Ainda estamos deitados. Ele tem as costas apoiadas na cabeceira da cama, forrada pelos travesseiros.

— Monstrinha, não quero invadir sua privacidade. Só me diga o que lembra, pra gente investigar quem é o assassino e te proteger. — Ergo o olhar para ele. — Não acho que todos esses fenômenos pelos quais estamos passando sejam assombrações isoladas. Pra mim, tem algo errado. Só quero evitar que se machuque.

— Eu sei... — Roço o nariz em sua camiseta e inalo o cheiro quente que me acalma.

— Quer descansar? Podemos conversar depois.

— Não... Posso falar agora.

— Tem certeza?

Começo.

— ...Lembro que a casa estava cheia, por causa do aniversário da Jisoo. Muitos familiares se hospedaram no casarão naquele fim de semana e havia uma equipe extra de empregados pra cuidar da festa. Nas semanas que antecederam aquela noite, Jisoo ficava suspirando pelos cantos, imaginando como seria sua festa. O tema era o baile de debutantes tradicional de Juggi. Nós lemos sobre esse costume no diário de Juran-ah, lembra?

— Lembro. — Seus dedos percorrem a extensão dos meus cabelos, desleixados. — Jisoo estava animada?

— Muito... No começo. Quanto mais se aproximava o dia da festa, mais apreensiva ela parecia. Havia algo errado, mas eu era imatura pra ver. Jisoo se afastou de mim, sabe? Por vezes a encontrava sussurrando ao telefone, ou conversando baixinho com Omma. Quando eu a chamava pra brincar comigo, ela sempre dizia estar ocupada. Até Yoongi Oppa ficou mais distante nos últimos dias. Os dois passavam todo o tempo juntos, não se desgrudavam pra nada. Eles se trancavam no quarto e não me deixavam entrar.

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora