[80] Lírios.

3.2K 452 383
                                    

Kwon Sook's P.O.V.

Sim, sou. Meu nome é Qing Ji Sung III.

Qing Ji Sung III.

A voz grave e agradável do pai de Jungkook se cala no momento em que um trovão rompe nosso curto diálogo, acima dos chiados da chuva na madrugada. Minhas preocupações com o desespero de Appa, o estado da Srta. Jeon e a fúria de Jungkook se esvaecem como fumaça no ar. Agora só consigo ver as consequências da presença desse homem entre nós.

As possibilidades são catastróficas. O ódio de Jungkook, a mágoa da Srta. Jeon e o ciúme de Appa. Tudo isso em um ambiente delicado como um hospital. Não consigo respirar. Não consigo nem responder educadamente ao cumprimento dele. Mesmo assim, o Alfa Lúpus me aguarda, paciente. E ele é a presença mais opressiva e enigmática que já vi.

Não é apenas muito bonito, sólido e charmoso. Qing Ji Sung preenche o lugar como se fosse seu único senhor. Mas, eu nem precisaria ser uma ótima observadora para ver que, por trás da máscara de simpatia em seus traços impressionantes, há inquietação e preocupação nos olhos, que alternam entre o castanho escuro e sombrio e o vermelho intenso e dominante. Ele não faz questão de esconder.

É quando compreendo. O atentado contra a vida da Srta. Jeon e a exposição de Jungkook ao mesmo perigo o afetaram de maneira irremediável. Ele nunca esqueceu sua ex-namorada e seu filho, e ainda os ama, como quando era apenas um adolescente. E é por isso que o pai de Jungkook está aqui, parado diante de mim, tão longe de casa. Em outro país, em outro continente.

A possibilidade de perder sua "família" o fez agir... Pelo menos uma vez em sua vida.

— Srta. Kwon, eu imagino sua surpresa. — Ele fala para me tirar da distração. — Nem sei se já ouviu falar sobre mim, acho que não. E acho muito justo que não se sinta à vontade para dar informações a qualquer desconhecido, mas eu preciso saber se Mi-cha está bem. Por favor. — Ele destaca o "preciso" com um sotaque charmoso. — Preciso vê-la com meus próprios olhos.

Respondo com um aceno mecânico.

— Ahm... Ela... Ela está bem. E... Está aqui. — Aponto para o meu lado esquerdo, para a porta do apartamento do CTI em que a mãe de Jungkook está instalada. — Mas, senhor, ela está dormindo e... Nós não podemos entrar.

— Ela está dormindo? — Sr. Qing pergunta com o espaço entre as sobrancelhas franzido.

— Sim... — Replico as informações que Jungkook me deu. — Srta. Jeon foi sedada e está dormindo desde a cirurgia. — Abandono o rosto do homem e fito a mãe de Jungkook pelo vidro da janela. Ela dorme com um semblante pacífico. — Ela não corre mais riscos, mas... Tem que ficar em observação.

— Cirurgia. — A voz grave e melodiosa soa com frustração e outro sentimento, que costumo ouvir em Jungkook. Fúria. — Cirurgia... — Volto a fitá-lo e o encontro com um sorriso mínimo, incrédulo. — Ela realmente correu um risco... Em algum momento. — O pai de Jungkook nunca se pareceu tanto com ele. — Não seria melhor transferi-la para um hospital da capital? Um com mais recursos e... Merda.

É apenas um murmúrio, mas eu ouço seu praguejar.

Qing Ji Sung afasta o paletó para trás e coloca uma mão na cintura. Caminha pelo corredor, de um lado para o outro, e esfrega a testa com os dedos da mão livre. Os guarda-costas empertigados continuam parados, como se não estivessem vivos, e parecem aguardar uma ordem do chefe. Já o Alfa Lúpus circula pelo corredor, taciturno. Ele transpira fúria. Fúria.

Fúria.

Fúria é o que Jungkook vai sentir se colocar os olhos nesse homem.

— Senhor... Sr. Qing. — Chamo-o e ele me olha, desfazendo o semblante furioso. — Bom... Não sei se é uma boa ideia o senhor permanecer aqui. Tenho certeza de que Jungkook não vai gostar de vê-lo e a Srta. Jeon está muito doente e... Não sei como todos reagiriam e... Quer dizer, é que essa é uma situação muito delicada pra que... — Paro de falar, porque não preciso continuar.

Girl Meets EvilOnde histórias criam vida. Descubra agora