Kwon Sook's P.O.V.
Às vezes, silêncio significa paz e segurança. Aquieta angústias, tira pesos dos ombros e põe sorrisos em bocas que já não se achavam capazes de emitir alegria. Às vezes, silêncio significa ausência. Um lugar vazio onde deveria haver algo, alguém. Quebra corações com saudade e abandono. Às vezes, silêncio significa tristeza, raiva e frustração. É violento e envenena, nos mergulha em um abismo depressivo.
É escuro, vazio. Deixa-nos sem direção, sem chão, sem fim, sem nada.
Aprisiona a alma e rouba a alegria, a vida, tudo.
Esse é o silêncio que escuto agora.
A brisa fria circula pelos corredores e sussurra entre nós. As sombras da noite se agigantam nas janelas e dançam no chão. O medo se levanta em meu interior. O perigo desperta a magia em minhas veias. Ele sabe. Appa sabe muito mais do que sempre deixou à mostra. Está em cada detalhe dele. Na lama dos sapatos, na roupa amarrotada, no casaco úmido, nos cabelos ensebados, nas olheiras profundas.
Seus olhos se estreitam e pulam de mim para Jungkook.
Penso em como imaginei esse momento. Não era pra ser assim. Ensaiei palavras e argumentos para convencê-lo, confiei na presença da Srta. Jeon para ficar ao nosso lado. Então, Appa não nos rejeitaria. Meu medo seria uma insegurança tola. Ficaria tudo bem. Mas, pela forma que ele nos olha agora, não sei o que esperar. Não consigo distinguir as emoções que atravessam seu rosto.
— Vocês... Vocês estão mesmo... — Ele gagueja.
A sensação de perigo se intensifica e a fumaça espirala por minhas veias, cresce abaixo da pele para me proteger. Meus olhos ardem e eu abro a boca para me defender. Appa nunca me olhou tão profundamente e isso me paralisa. Quando reúno coragem para falar, Jungkook se precipita e enfrenta o futuro padrasto, ou futuro sogro. Sei que ele quer me proteger.
Jungkook só quer me proteger.
— Sr. Kwon, precisamos conversar. — Há tranquilidade em sua voz.
A resposta é um sorriso sombrio.
— Não. — Appa soa pouco amistoso, ainda parado à soleira da porta. — Não precisamos.
— Eu preciso. — Jungkook se corrige. — Tenho que explicar... — Ele se empertiga, paciente. Não combina com seu jeito estourado, mas sei que age assim para me preservar. — ...O que está acontecendo entre mim e...
— Appa, nós... — Começo a falar.
Kwon Ji Yong sorri, irônico, e nos cala.
— Acha que eu não sei o que estou vendo? Que eu nunca desconfiei de nada? Que eu sou cego? — Ele nos rodeia com o modo polido e negociador em uma versão passiva-agressiva. — Não sou tão idiota.
A palavra pesa e nos cala em um silêncio tóxico.
Um arrepio cruza minhas costas e a energia pulsa bem abaixo da minha pele, pronta para me proteger de qualquer ameaça. Tento me conter, porque tenho que remendar o rumo dessa conversa. Não quero ver meu pai e meu namorado em uma briga, uma discussão sobre mim. Seria o fim para nós e eu não quero que seja.
— Appa, por favor. Não achamos que o senhor é um... Idiota. — Faço uma careta. — Eu e Jungkook só... Precisamos explicar.
Jungkook me olha de esguelha e concorda com um aceno.
— É justamente por respeito ao senhor, que acho que podemos conversar civilizadamente. — Jungkook completa. — Aí posso pedir...
— Se seu pedido tiver algo a ver com minha filha, é melhor ficar calado. Não estou com cabeça pra pensar nisso agora.
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Girl Meets Evil
Romance[Não aceito adaptações desta obra] Nasci em Juggi, uma cidadezinha perdida na Coreia do Sul, mas a deixei por não suportar a dor da perda da minha mãe e da minha irmã mais velha. Appa e eu nos mudamos para Seul, que me acolheu e me reergueu como um...